quinta-feira, 23 de março de 2023

Maria Gabriela Llansol

 




Maria Gabriela Llansol

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Maria Gabriela Llansol
Nome completoMaria Gabriela Llansol Nunes da Cunha Rodrigues Joaquim
Nascimento24 de novembro de 1931
LisboaPortugal
Morte3 de março de 2008 (76 anos)
SintraPortugal
NacionalidadePortugal Português
CônjugeAugusto Joaquim (1965)
OcupaçãoEscritora e tradutora
PrémiosPrémio D. Dinis (1985)

Grande Prémio de Romance e Novela APE/IPLB (1990)
Prémio da Crítica da Associação Portuguesa de Críticos Literários (1990) Grande Prémio de Romance e Novela APE/IPLB (2007)

Magnum opusUm beijo dado mais tarde

Maria Gabriela Llansol Nunes da Cunha Rodrigues Joaquim (Lisboa24 de Novembro de 1931 - Sintra3 de Março de 2008), mais conhecida, simplesmente, como Maria Gabriela Llansol foi uma escritora e tradutora portuguesa.

Biografia

Formada em Direito, que jamais exerceu, começa a publicar em 1962.[1] Entre 1965-1984, viveu, em exílio, na Bélgica, onde deu início, com O livro das comunidades, a uma obra, com mais de 26 livros, de gênero inclassificável, como se lê na “Nota biográfica”, incluída na edição brasileira de Um falcão no punho:

Na literatura portuguesa contemporânea, a obra de Maria Gabriela Llansol destaca-se com um perfil avesso à representação dominante no romance e a todas as formas de ortodoxia. Escrito sob o signo da ruptura, o seu texto estrutura-se de forma não linear e não sequencial, gerando frequentemente fulgurações, ou “cenas-fulgor”, que traduzem a descontinuidade temporal, a preferência pelo fragmentário e a experiência da metamorfose e da vibração do Vivo originalmente postas em linguagem.[1]

A experiência do encontro com a escrita llansoliana, e com a proposição que ela porta, se reflete na grande quantidade de produções acadêmicas, tais como trabalhos de conclusão de curso, dissertações de mestrado e teses doutorais – dedicadas à obra llansoliana - uma rápida busca no acervo da Biblioteca da UFMG, por exemplo, mostra que, desde 1997, foram cerca de 18 trabalhos realizados acerca da obra llansoliana.[2]

Também pela quantidade de filmes, e outras produções artísticas, que nascem dessa experiência - por exemplo, o filme Redemoinho-poema, de Lucia Castello Branco e Gabriel Sanna.[3]

Sobre a escrita de Maria Gabriela Llansol

Conforme se lê na "Nota biográfica" dos Diários, publicados, no Brasil, pela Autêntica Editora, sua escrita se dá “nas margens da língua [...] e fora do universo institucional e mediático da ‘literatura’.[1]

Ainda nessa nota, lemos, de Augusto Joaquim, seu esposo e companheiro da escrita e de vida: “o mundo a que esta autora se refere é o nosso mundo e, no nosso mundo, aos problemas de fundo que o fazem tal como ele é: lugar por onde passamos à procura de amor e de sentido”.[1]

Tal afirmação coloca o texto de Llansol como uma experiência para além da adesão a verdades dadas de antemão, ou reservadas a uns poucos; pois, em carta a Eduardo Prado Coelho, lemos:

Desde sempre me tenho norteado pelo princípio do que o texto precisa de encontrar, não o leitor abstracto, mas o leitor real, aquele a que, mais tarde, acabei por chamar legente – que não o tome nem por ficção, nem por verdade, mas por caminho transitável.[4]

Se caminho transitável, não ficção ou verdade, afirma Llansol, ainda na carta citada, é desejo desse “texto tentar abrir no real da política actos mais frequentes de dom poético, de compaciência pelos corpos que sofrem, e de alegria pelos que amam”, propondo, aos legentes, a possibilidade de ajudar “a viver melhor e com menos impostura”.[4]

Assim, o texto de Maria Gabriela Llansol não pretende ser tão-somente como uma forma estética alheia à realidade, um puro experimentalismo. Ele se volta contra a impostura, e, por conseguinte, contra as ficções do mundo, e suas verdades. Como a ficção de que nos fala a autora na Carta ao legente, acerca dos "sem-terra" e daqueles que são desconsiderados pelos valores vigentes, os pobres:[5]

Legentes da dor sem saber ler. Desprovidos de actos voluntários, nasceram com fome./ E está estabelecido pela ficção (que não o texto) do mundo que passarão fome.[5]

E é nesse ponto de “companhias estelares”, dos “sem terra" e dos pobres, que o texto llansoliano se propõe como possibilidade de continuação de uma problemática:

Creio que os outros escritores “do meu ramo” já conhecidos ou ainda no começo, aqui e no Brasil, vão ter de pensar no modo como criar um espaço de vida, que não seja marginal a nada, mas um lugar real de escrita e de leitura.[4]

Afinal, como ela mesma afirma em entrevista a João Mendes, em 1995, quando se trata da textualidade, não cabe pensar em hereditariedade, mas em “continuidade de problemática”.[6] Problemática que, portanto, aponta para um caminho transitável e real: da escrita, da leitura e da vida, que, a partir do fulgor do texto, são vividas sem impostura, e são convite aberto.

Sem comentários:

Enviar um comentário