sábado, 24 de dezembro de 2016

Artigo do Historiador Pacheco Pereira, in www.publico.pt



JOSÉ PACHECO PEREIRA
OPINIÃO
A doutrina Trump-Putin


Trump é sensível a este novo statu quo e minimiza as ambições russas, porque não quer saber das várias partes do mundo em que lhe é indiferente serem os russos a mandar.
24 de Dezembro de 2016, 7:01
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Está-se a definir, embora ainda de forma muito embrionária e imprecisa, uma doutrina Trump-Putin, sem precedente na geopolítica depois da Segunda Guerra Mundial. Na verdade, a afirmação anterior podia ter algumas nuances, porque houve momentos em que doutrinas semelhantes se esboçaram, em particular na França, com De Gaulle e com o consistente e contínuo antiamericanismo dos gaullistas pós-De Gaulle. Mas os tempos são diferentes e uma coisa é a França, outra os EUA.
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Trump, mesmo que seja difícil encontrar uma linha coerente na sua actuação, tem nesta matéria mantido uma constância de posições que podem variar no alcance e na urgência, mas que marcam uma ruptura com toda a política externa americana desde a Guerra Fria e mesmo no pós-Guerra Fria. Estas posições são alicerçadas nas opiniões pessoais de Trump, e na migração para o campo de Estado e da política, nacional e internacional, da única experiência que ele tem, a dos negócios e das empresas. Podemos considerar que é pouco e perigoso, mas é o que é e não penso que vá mudar facilmente, até porque ele é um homem com uma alta noção de si próprio, um “convencido”, e como esses defeitos não foram óbices para ter a presidência, dificilmente mudará de estilo. Ele é um ”convencido”, convencido de que tem razão, e como, contra tudo e contra todos, obteve todos os sucessos que pretendia, não tem nenhuma pressão interior para mudar e não dá muito valor aos conselhos que não venham dos seus fiéis.

De que é que Trump está convencido? De que a política externa americana face à Rússia tem sido desnecessariamente hostil, e que deve haver uma inversão significativa dessa hostilidade. De que os EUA arcam sob os seus ombros os custos de proteger múltiplas nações e áreas do mundo que bem podiam cuidar da sua defesa, mesmo que isso implique adquirir uma capacidade nuclear. De que a NATO é uma organização caduca e, no limite, desnecessária. De que as sucessivas intervenções americanas e europeias no Iraque, na Líbia, na Síria foram monumentais desastres, pouco preparados e pensados, sem medir as consequências, eliminando personagens como Khadafi, ou Saddam, e tentando eliminar Assad, que, mesmo que sejam bad boys, garantiam e garantem uma estabilidade regional cuja perturbação deu origem ao ISIS e ao caos no Iraque, na Líbia e na Síria. De que o único verdadeiro inimigo dos EUA nos dias de hoje é o ISIS, e, em menor grau, o Irão e a China, enquanto a Coreia do Norte devia ser posta na ordem pela China, com os EUA a fazer enormes pressões para que isso aconteça. Há alguns subprodutos destas “opiniões” e algumas contradições, como, por exemplo, a posição face a Cuba, mas é o que Trump pensa, e o que ele pensa é o que vai tentar fazer.
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