
Hollande, uma fraude contra a Europa

É certo que tudo começou mal. A campanha prometera um novo farol para a social-democracia: Hollande seria o condutor de uma nova Europa, o homem que faria frente a Merkel e que corrigiria os desmandos financistas de Schauble, impondo um musculado Anexo ao Tratado Orçamental, de modo a salvar a União, reconduzida ao caminho sensato do emprego e das pessoas. Duas semanas depois de ter tomado posse, Hollande ouviu o ralhete da Chanceler, o Anexo de Hollande finou-se sem glória e o Presidente voltou para a mansidão do Eliseu, esquecido pela Europa e vergado à canga do Tratado.
Desde então, a história continuou a piorar, a luz do farol desvaneceu-se e Monsieur Le Président inaugurou a era da austeridade. Recorreu para isso a Valls, o socialista disponível mais parecido com a direita. Agora, o segundo governo Valls, reconhecendo o impasse – a França não consegue um ajustamento orçamental suficiente, a economia ressente-se, o desemprego não diminui, as tensões aumentam – resolve o assunto ao modo prussiano, com mais cortes e mais austeridade.
Dois ministros que se atreveram a criticar a solução neoliberal da austeridade e do desemprego, Montebourg e Hamon, foram enxotados sem uma carta de recomendação, curiosamente no mesmo dia em que a Europa e os mercados financeiros aplaudem as palavras de Draghi: um pouco menos de austeridade, se faz favor. O FMI, pelo seu lado, pede aumentos de salários na Alemanha. Um pouco menos de austeridade, que a deflacção ameaça e a recessão se prolonga já por seis anos.
Valls, impávido, e Hollande, solene como sempre, continuarão no entanto o caminho presidencial, indiferente a essas querelas que temem mais do que tudo, porque já verificaram que são mais as vozes do que as nozes. Austeridade será.
Para a Europa, é simplesmente a confirmação de que, passados os arroubos eleitorais, a pesada realidade se impõe e Berlim manda como quer. Mas, para os socialistas que queriam um vislumbre de esperança, fica o espelho cruel: afinal, o seu herói é uma miragem de Merkel. E, finalmente, para Portugal, enterra-se a derradeira e mirrada esperança de que, se a Europa ainda fosse gerida pelo duo Alemanha-França, o poder era divisível e um deles talvez procurasse aliados para qualquer pequena barganha e se lembrasse de nós.
Não se lembram, a Europa não existe e Hollande também não. A vida é assim.
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