sexta-feira, 24 de maio de 2013

POEMA: BOJADOR




                                                          BOJADOR




Tem tantas vozes, o mar…
Ouvem-se na memória encrespada das ondas
a rodopiar nos lábios de espuma-a-acordar…

Tem música, a voz do mar…
…música que entra pelas frestas mais estreitas da noite
e  sobe pela melodia, aos clarões de luar…
e  que o impele  a pedir às águas o que se pede ao amor,
por meio do sonho e da esperança de SER…


…e uma espécie de reza saudosa levanta os olhos para o céu inclemente
que seca os lábios dos oceanos,
onde vive a verdade de tanta ousada gente…

Quão Longe estavas, ó Mar em que Fomos!
Quão Perto te vivemos, ao-sermos-Povo!

Perdidos os pinheirais de Dinis, o trovador,
aos pés dos areais de Cochim e Cananor,
levaste-nos, mar,  por desertos de suores e lágrimas
a matagais odorosos
 forçados a ultrapassar  cabos tormentosos  de águas-em-dor.

Espelhou-se a Lua nas ondas espumosas de marés duvidosas
a  desfalecerem em promontórios de contornos indefinidos…
Impetuosos raios de delirantes rotas
fizeram supor danças de sereias, envoltas em roxas algas.

(Rendilhados oníricos enredados em cantos de perdição,
não são canção…são triste sina!)

Estátuas errantes do itinerário do Sonho,
estes pinheiros navegantes de quimeras
perderam-se noutras fortunas ,
que o mar desbloqueou
ao abrir a frouxa porta de uma utopia felina….
                                                                               …para que fosses nosso, ó mar…
                                                                               …para que a quimera continuasse –a-viver…
                                                                               …para que a Poesia das marés fossa toada,
                                                                                  cadência ritmada de luta e cor ,
                                                                                 ao passarmos o BOJADOR!

Venceu-se o frio Vento que assombrava a Terra do Mar!
…e o nauta das guitarras de vinho e dor
contornou tantos mostrengos, que venceu UM ADAMASTOR!

A calma face da Terra ergueu-se…quebrou o Cado da dor…
…venceu a hostil Saudade…
perpetuou-se na história de uma estranha identidade…


Maria Elisa R. Ribeiro
Marilisa Ribeiro-OI-013

  

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