quinta-feira, 30 de maio de 2013

PARTE I DE UM TEXTO SOBRE EÇA DE QUEIRÓS




“UM POUCO DE TUDO…”
O Realismo na Literatura Portuguesa: Eça de Queirós.
“Os Maias”: concretização das ideias Realistas/Naturalistas através de uma grande (em todos os aspectos!) obra literária…A sociedade portuguesa do séc.XIX e algumas coisas mais…
“…nada regenera uma nação como uma medonha tareia…Oh! Deus de Ourique, manda-nos o castelhano!.”Palavras de João da Ega no episódio do Hotel Central, um dos marcos da “Crónica de costumes da obra “Os Maias”, de EÇA de Queirós.

É João da Ega uma das personagens fulcrais deste romance, da fase Realista/Naturalista do grande escritor. Ega é o “outro” Eça… o seu “alter-ego”…o outro EU do escritor; e é aí, sentado na cadeira do criticismo e da ironia truculenta, por detrás de Eça de Queirós, que ele próprio vai “zurzindo”, sem dó nem piedade, na vida da sociedade lisboeta que é, por abrangência, a sociedade portuguesa do séc. XIX.A par de Ega, comungando da mesma veia crítica, está outra personagem central Carlos da Maia, que melhor faria se estivesse “calado”…Mas, avancemos, que temos “caminho para andar”…
Nasceu Eça de Queirós em 1845, na Póvoa do Varzim e faleceu em 1900.
Licenciou-se em Direito, em Coimbra, onde viveu alguns anos sob o fogo cruzado das novas ideias e formas de pensamento, que se espalhavam pela Europa a uma velocidade alucinante, através dos caminhos-de-ferro. Os intelectuais do meio coimbrão, a chamada “GERAÇÂO de 70” não ficaram imunes aos ventos revolucionários dimanados da Revolução Francesa e, também eles, “viam” e liam, com sôfrega avidez, essas obras literárias e filosóficas que falavam dum mundo novo, um mundo de Liberdade, Igualdade e Fraternidade, incompatível com os lirismo e idealismo românticos, que ainda assolavam a sociedade portuguesa. Entre esses jovens, de altíssimo gabarito intelectual, estavam nomes como Eça de Queirós, Antero de Quental, Oliveira Martins, A. Soromenho, Batalha Reis,…-(a tal “Geração de 70”) que, a certa altura, se envolveu, afincadamente, na célebre “Questão Coimbrã”,a qual surgiu  da necessidade de se implantar  a nova doutrina Realista-naturalista, em Portugal. Antes de continuar esta temática, tenho que vos dizer, leitores, que Antero de Quental não foi um realista; ele foi, verdadeiramente, um romântico, que ajudou os seus amigos realistas a implantar essa nova corrente literária, entre nós. E fê-lo participando nas célebres “Conferências do Casino”, onde discorreu sobre a “Causa da Decadência dos Povos Peninsulares nos últimos três séculos”.
A este ponto, não fica mal dizer quais os filósofos e/ou pensadores europeus, que tanta influência exerceram na juventude universitária portuguesa daquela época. As modificações sociais provocadas, em parte/e também, pela Revolução Industrial inglesa, fizeram evolver e revolver as sociedades, em todos os aspectos. Marx e Engels editam o” Manifesto comunista”, em1848; Proudhon lidera ideais de Socialismo Utópico; Michelet “sai a lume”com a sua “História da Revolução; pela mesma altura, aparece Comte com a doutrina positivista e Hegel “endeusa” a Ideia, criando o Idealismo. Mas há mais…
Em 1859, Charles Darwin apresenta ao mundo a teoria da evolução das espécies, o “Evolucionismo”, a que o romântico Júlio Diniz alude, no romance “As pupilas do senhor Reitor”.Os pensadores, teóricos e outros intelectuais, começam a mostrar sempre mais ousadia no aprofundamento do estudo da personalidade de certos tipos sociais, se possível, cada vez mais degradantes ou oriundos de meios desfavorecidos: Victor Hugo, Baudelaire, Flaubert, Taine, Zola…Alfred Nobel descobre a dinamite; Marx escreve “ O capital”; Leon Tolstoy lança a temática do adultério feminino, em “Anna Karenina”; em França, Zola vai ainda mais longe e publica “La faute de l’abbé Mouret” (O crime do padre/abade Mouret). Caramba! Convenhamos que era demais para uma Universidade em ebulição como era a de Coimbra, por volta de 1870,com jovens estudantes que não se conformavam com o atraso atávico da sociedade portuguesa. Vai daí, bem à moda de Gil Vicente (sécs. XV/XVI), usando a máxima “ridendo castigat mores”, que significa, mais ao menos, “a rir castigam-se os costumes”, por entre duelos e bofetadas o Realismo lá começou a entrar em Portugal, mais pela mão de Eça de Queirós, com as obras da sua segunda fase literária- a fase realista/naturalista que pelo mérito das lutas entre românticos e pró-realistas.
Convém, a este ponto, dizer, o mais sucintamente possível, o que é essa doutrina…REALISMO.    
Numa das conferências do casino em que participou, subordinada, precisamente, ao título:”A literatura nova…o realismo como nova expressão de arte”, é o próprio Eça de Queirós que o explica:”A arte literária deve ter três qualidades essenciais: ser BELA, JUSTA e VERDADEIRA” (…) Segundo o escritor, deveria a literatura retratar, fielmente, os vícios e defeitos da sociedade, mesmo os mais nojentos e escabrosos! para, deste modo, se contribuir para a “sua limpeza” e caminhar, a passos mais largos, para a instalação duma sociedade aberta às modernas ideias da ciência e do progresso.
No entanto, Eça de Queirós começou a sua actividade literária como Romântico…Colaborou com Ramalho Ortigão n’O Mistério da Estrada de Sintra e escreveu “Prosas Bárbaras”. Dividia o seu tempo entre a advocacia, o jornalismo, a vida diplomática, as viagens pelo mundo…Aos poucos, apercebia-se do atraso do seu país no contexto do que lhe era dado apreciar, lá fora… e, quase sem dar por isso, foi dando o “pulo” no sentido do realismo-naturalismo. Esqueceu as fantasias românticas e enveredou pelo caminho da crítica sarcástica, irónica e tremendamente caricatural da sociedade portuguesa, deitando abaixo muros de defeitos próprios do nosso povo como a hipocrisia, a inveja, a mania das grandezas reveladora da falta de carácter, o farisaísmo…em suma, o atraso! E fê-lo na sua segunda grande fase literária, a fase do” Inquérito à sociedade portuguesa,” corporizada na sociedade lisboeta dos últimos trinta anos do séc.XIX, perfeitamente “desenhada”, a traços de mestre, no romance “OS MAIAS”.
Outras obras significativas/essenciais para se compreender o ponto de vista realista de Eça foram/são:

“O Primo Basílio”, “ O Mandarim”, “O crime do P.e Amaro”, A Relíquia”, “A tragédia da rua das flores”, “Os Maias.

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