domingo, 24 de fevereiro de 2013

POEMA: UMA FLAUTA DELIRA...





UMA FLAUTA DELIRA

Talvez louca…
…demente, quem sabe?
…sentada na matriz da noite estou,
quase indiferente ao rumor do vento
que desfolha pétalas de vida por entre árvores ,
deixando-me os lábios
roxos, gretados como a alma…

. é persistente este desfolhar do crepúsculo a permitir que no bosque
entre a negra nódoa-fim-de-dia ,
alastrando ao canto das raízes
do ramo mais profundo da minha energia.

Hora-------------tempo-dormente---------------vida a correr-----------------
-------------------------água de rio, naturalmente--------------------------------

…e…

. há lagos no escuro…
.bebem o ouro das estrelas.
. que douram águas de luz.
.que arrastam sussurros de voz.
.que acordam cisnes no ventre frio da terra, acordada, a fazer-me companhia.

. louca…
…este é o momento em que penso na tua boca que crepita
uma aura de fogo, que promete o fim de um mundo!
-----------doce de enfrentar,
----------------------------------difícil de acontecer---------------------------------------

.porque a loucura desconhece que, no calor mais ardoroso há espaços nevoentos
onde não desabrocham lírios esfíngicos…
.porque tufos de flores em labaredas sensuais trepidam em rosas de âmbar-
corais, que adornam teus sentidos -catedrais .

E um perfume de luz sobrenatural respira, subindo aos vitrais nostálgicos,
onde um pedaço de lua se atreveu a roubar calores ao sol,
para os colocar em meu seio,
que repousa na tua mão
sempre que um violino toca
o enleio da nossa aurora,
num vendaval de emoção!

Não! Não me chames louca, não!
…talvez …sonhadora inveterada, no olho de um furacão de melancolia
arrastada pelos ventos da magia-da-hora-desvendada…

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No cimo do monte, uma fonte desatou a escorrer notas desmedidas
na canção de um trovador,
e a brisa lamuriosa chora o tempo-de-Ser da donzela,
fina flor do amanhecer…



Minhas tranças desfeitas na infância não mais voltaram a Ser.
E eu deixei de saber cantar hinos ao adormecer.
Abandonou-me a noite na colina das verdades, num baixo céu de neblina
onde apenas posso ouvir os gestos do corpo, de quando era menina…

Lá longe, uma flauta delira o odor das rubras rosas da vida,
numa orgia de sons de lira
que junca meu corpo de pétalas cor-safira…
…safira -azul-firmamento no meu sorriso de amanhecer
o perfil do teu viver…

Louca,
espero-te no silêncio corporal do não saber se estás aqui…
aqui… onde te sinto, afinal…


Maria Elisa Ribeiro (Marilisa Ribeiro)

CQ16-(erts)-2013/FEV

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