UMA FLAUTA DELIRA
Talvez louca…
…demente, quem sabe?
…sentada na matriz da noite estou,
quase indiferente ao rumor do vento
que desfolha pétalas de vida por entre árvores ,
deixando-me os lábios
roxos, gretados como a alma…
. é persistente este desfolhar do crepúsculo a permitir que no bosque
entre a negra nódoa-fim-de-dia ,
alastrando ao canto das raízes
do ramo mais profundo da minha energia.
Hora-------------tempo-dor
-------------------------á
…e…
. há lagos no escuro…
.bebem o ouro das estrelas.
. que douram águas de luz.
.que arrastam sussurros de voz.
.que acordam cisnes no ventre frio da terra, acordada, a fazer-me companhia.
. louca…
…este é o momento em que penso na tua boca que crepita
uma aura de fogo, que promete o fim de um mundo!
-----------doce de enfrentar,
--------------------------
.porque a loucura desconhece que, no calor mais ardoroso há espaços nevoentos
onde não desabrocham lírios esfíngicos…
.porque tufos de flores em labaredas sensuais trepidam em rosas de âmbar-
corais, que adornam teus sentidos -catedrais .
E um perfume de luz sobrenatural respira, subindo aos vitrais nostálgicos,
onde um pedaço de lua se atreveu a roubar calores ao sol,
para os colocar em meu seio,
que repousa na tua mão
sempre que um violino toca
o enleio da nossa aurora,
num vendaval de emoção!
Não! Não me chames louca, não!
…talvez …sonhadora inveterada, no olho de um furacão de melancolia
arrastada pelos ventos da magia-da-hora-desvendada…
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No cimo do monte, uma fonte desatou a escorrer notas desmedidas
na canção de um trovador,
e a brisa lamuriosa chora o tempo-de-Ser da donzela,
fina flor do amanhecer…
Minhas tranças desfeitas na infância não mais voltaram a Ser.
E eu deixei de saber cantar hinos ao adormecer.
Abandonou-me a noite na colina das verdades, num baixo céu de neblina
onde apenas posso ouvir os gestos do corpo, de quando era menina…
Lá longe, uma flauta delira o odor das rubras rosas da vida,
numa orgia de sons de lira
que junca meu corpo de pétalas cor-safira…
…safira -azul-firmamento no meu sorriso de amanhecer
o perfil do teu viver…
Louca,
espero-te no silêncio corporal do não saber se estás aqui…
aqui… onde te sinto, afinal…
Maria Elisa Ribeiro (Marilisa Ribeiro)
CQ16-(erts)-2013/FEV
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