sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

POEMA: SEM TI...





SIM,
SEM TI…

…uma rua abrir-se-ia para o mar levando meus sonhos ondulantes
nas vagas a ofegar maresia…

…uma curva numa ilha não teria onde desaguar, levando-te a descansar
à sombra de robustas palmeiras…

…a essência inacabada de mim não conseguiria escutar os passos musicais
do tempo-inteiro,
aquele que passa pela paisagem raiada das manhãs sazonais…

Sem ti…
…um piano fechado não tocaria as notas da pauta
que é meu corpo a soar…
e
na gaveta secreta da vida cairia o livro que lemos em horas crepusculares,
onde não anotámos nossos olhares!
…e o anoitecer chegaria sempre mais cedo, a tempo de apagar estátuas clássicas,
eternamente à espera do brilho do luar…

Pois, sem ti…
…as madressilvas murcham e escondem os aromas nos silvados agrestes,
que se enredam na alegria das aves
a cantar sonatas mágicas…
…e
as pontes não unem as margens por onde os rios vão deslizando,
fora da corrente…longe das aragens,
onde a face fria do dia sente o vento passar, levando as folhas
da confluência da libido na tempestade das árvores…

Sim, 
sem ti,

adensam-se as névoas

e move-se, iludindo-nos,

o tempo ,
enroupado

em-reinos-de-saudade… 

Contigo…
no solfejo das algas torna o resíduo da música das águas,
que ajudam a moldar a arquitectura do poema-realidade-da-minha-ficção,
num íntimo universo de pedregosas fráguas.

Contigo…
enfim,
irrompe o perfume matinal das sílabas orvalhadas
nos muros silenciosos das montanhas, ainda escurecidas.

Marilisa Ribeiro-(mqc)-14/013

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