UM POUCO DE TUDO…
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Hoje: FLORBELA ESPANCA
Nasceu
Florbela Espanca em Vila Viçosa, em 1894.
O
poeta José Régio, referindo-se à grande poetisa, afirma: ”…Florbela viveu a fundo estados, quer de exaltação a si mesma quer de
dispersão em tudo; na sua poesia, estes atingem vibrante expressão.”
( In “Aula Viva”-12º ano-Português B- Porto Editora,
J.A da Fonseca Guerra e José A. da S.Vieira, pág.422 (1999)
Deixem-me
ser imodesta…Não me é muito difícil escrever algumas palavras sobre esta
grande, estranha, um pouco”misteriosa” poetisa, da Língua Portuguesa. Não é,
portanto, vaidade que me faz falar assim. É amor pela sua obra, que adoro ao
encontrá-la cheia, quer de vida quer de morte, tanto no aspecto linear,
literal, como no aspecto subjectivo.
Ser
humano, ao mesmo tempo emocional e deífico, Florbela não pode ser tratada, como
merece, num artigo resumido como este… Farei os possíveis por vos dar algumas
ideias, as necessárias para despertar em vós, leitores, a curiosidade
indispensável para a lerem…
Era
poeta seu pai também, pelo que, desde cedo encarreirou a vida dos filhos,
Florbela e Apeles, no sentido do amor pelas artes Alma sensível, Florbela desde
cedo lhe seguiu as pisadas, embora “quase” sem querer… Mulher de temperamento
triste e angustiado, acabou por cair numa espécie de narcisismo próprio dos
românticos, ao considerar que ninguém era tão infeliz nem tão incompreendido
como ela. Não foi feliz no amor; por conseguinte, nem menos o foi no casamento;
não teve filhos, mas consagrou a sua capacidade maternal de amar, -de corpo e alma!
-ao irmão Apeles, no qual via o filho que não teve. No nosso meio
pequeno-burguês houve quem quisesse atribuir a este amor pelo irmão outras feias
conotações. Li muito a este respeito, até porque adoro a sua obra. NÃO
ENCONTREI NADA DE MENOS PRÓPRIO, NO AMOR DE UMA IRMÃ PELO SEU IRMÃO.
A
grande verdade está em que Florbela nunca se sujeitou a ninguém…foi um espírito
livre e angustiado, que fracassou em três casamentos. Mulher demasiado moderna
para os tempos em que viveu, o seu sentido de visão da vida com liberdade, não
era bem aceite pelas mentalidades tacanhas e farisaicas dos princípios do
séc.XX: ela sobressaía da mediocridade “empalada” entre as paredes da vitoriana
Évora… Espírito livre, fumava, vestia calças, tinha carta de condução…Horror
dos horrores, no meio do farisaísmo próprio daquela época! Os leitores sabem,
como eu, que ainda hoje, em certos locais do nosso país, as pessoas diferentes
são olhadas, também, de modo diferente…
A
morte do irmão fê-la entrar em depressão e” precipitou” a sua dor de viver e
ela que nasceu no dia de Nossa Senhora da Conceição e que ensinou no Colégio de
Évora com o mesmo nome, veio a falecer no mesmo dia, com 36 anos de idade! Não
sendo vasta, a sua obra é sentida e significativa. Cantou o Amor: amor pela
vida, pela Natureza, pelas
coisas
simples da vida…Ao Amor liga-se a ideia da dor dos desejos nunca alcançados e,
aí está a mistura explosiva da obra da poetisa:”Eu quero amar, amar perdidamente! / Amar só por amar: aqui…além…/Mais
Este e Aquele, o Outro e toda a gente…/Amar! Amar! E não amar ninguém!”
Discípula
de Antero de Quental, na medida em que, pelo estilo,”atirava ao vento” o drama
íntimo da falta de Amor, diz ela sem ligar às convenções morais burguesas,
tantas vezes falsas, vitorianas e hipócritas: “O amor de um homem? Terra tão pisada, / Gota de chuva ao vento
baloiçada…Um homem? - Quando eu sonho o amor dum Deus!” (pág.423, do livro já
citado). E, para além deste tipo de Amor, outro dominava a vida de F.E: perdia-se,
ela, pelo Alentejo, região “entidade mítica” a sofrer o desprezo dos deuses da
chuva, que dela se esqueciam, no momento da sua distribuição equitativa. Vai
daí: “Horas mortas…Curvada aos pés do Monte/A planície é um brasido…e, torturadas,
/ As árvores…gritam a Deus a bênção duma fonte! /…Árvores! Não choreis! Olhai e
vede: -Também ando a gritar, morta de sede, / Pedindo a Deus a minha gota de
água!”
Mas,
para dizer tudo isto, a poetisa sabe que são precisas Palavras…Não há poeta que
o não saiba…Palavras que falem, sentidas, cheias de “mistério” na mensagem que
o leitor deve descodificar! Não é poeta quem quer…E então, diz Florbela: “Ser poeta é ser mais alto…é ser maior…/É
ser mendigo e dar…É ter fome e sede de Infinito!”
Não
há na obra de F.E. muitas palavras de optimismo e /ou alegria de viver; ficamos
sempre com a sensação de que, narcisicamente, ela se “decide” a não ser feliz…Encontramos,
nessa obra, um lote significativo de palavras de conotação triste, como:”ciprestes”, “poentes de agonia”,”brasido”,
“mar de mágoa”, “só”, “ crepúsculo”, “noite”…Pode dizer-se que ela procurou
a felicidade no desespero insaciável da vivência e que isso a conduziu ao
pessimismo do existencialismo absurdo, de depois da IIª Grande Guerra.
Não
é seguro afirmar que ela se suicidou, segundo vários estudiosos. Isso é um mistério
entre ela e Deus, que tanto procurou: ”Meu
Deus, dai-me esta calma, esta pobreza…/Queria encontrar Deus! Tanto O procuro!”
Chegamos
a esta conclusão: em Florbela Espanca, quando acaba o sonho da vivência que não
teve, começa a dor do que tem…E tem solidão, amargura, angústia! NARCISISMO?
Ah! Mas com certeza!
Maria
Elisa Rodrigues Ribeiro-(REP.)
Pelo pouco que conheço da sua obra só me apetece diser que viveu antes do seu tempo...
ResponderEliminar" creio que aqui na zona nasceu au dia alguém com algumas parcenssas,Antonio Variações"
Sim, Campista...De acordo! Viveram antes do tempo! Hoje, podemos vê-los como profetas...
ResponderEliminarBeijo amigo!Obrigada por ter passado...
Maria Elisa