terça-feira, 6 de março de 2012

REFLEXÃO: BELEZA ENCLAUSURADA


BELEZA ENCLAUSURADA…(REFLEXÃO)

Como a saudade que sinto pela Natureza jamais acaba, dou comigo, nos soalheiros dias fora do período do Verão, a passear pela nossa terra, por sítios que ainda não conheço, sempre perseguindo matas, bosques, pinhais…Natureza, enfim! É imprescindível que haja Água…muita água temperando os ambientes…Descubro-a sempre! Encontro sempre um fio de rio, um braço de rio maior, umas minúsculas cascatas rumorosas a contornar as belezas que me perdem!
Nesse fluxo constante do estado de Vida, depois de visitar e de me deliciar, passeando, chega o momento do encontro comigo própria, o momento em que me dedico à meditação sobre… Gosto de me perder em reflexões que me forçam a tremendas viagens pelo mundo onírico e pelo mundo real. De repente, parecendo ter o dom da ubiquidade, estou em mundos tão diferentes como a China, a França, a Tailândia… ou … a Serra da Lousã! Então, como uma neblina sem contornos definidos, peregrino pelas minhas questões interiores e passo-as ao papel.
… Amo o mundo e a MÃE-NATUREZA…dádiva de um SER SUPERIOR…criada com sabedoria e amor, para gáudio do nosso viver. Ao passear por entre áleas de árvores, aparentemente desorganizadas, procuro motivos de beleza, a céu aberto, para acalmar o meu coração.
Não me refiro, de modo nenhum, a “belezas enclausuradas” no aspecto espiritual…Isso é uma opção de vida, nada há a dizer. Refiro-me a belezas naturais, a árvores, montanhas, flores escondidas ou bem enclausuradas, para poderem resistir à maldade alheia… atalhos inexplorados cobertos de vegetação, águas, o sol a bater nelas e em mim, afagando-me com uma ternura com que mais ninguém pode ou sabe, fazer.
No meu passeio de há dois dias, vi “uma carrada” de florinhas, lindas, singelas e tratadas, mas…para sua própria defesa…”enclausuradas”, acessíveis a olhos, somente. O homem não é humano, muito simplesmente, e sendo o mais perigoso dos predadores, há que impedir que actue de acordo com os seus piores instintos.
Mas há tantas mais belezas “enclausuradas”, tantas outras flores dignas da nossa atenção e que nos tiram o sono, quando nos vêm à mente! São belezas condenadas a murcharem sob regimes de escravatura sexual ou política; são belezas destroçadas pelas forças dos ditadores da vida, em terras onde DEUS não existe, porque tem medo de lá pôr os pés… São mulheres do SUDÃO, do AFEGANISTÃO, do IRÃO, do IRAQUE…Essas flores que murcham no apogeu da vida, fazem frente, com o seu mero existir, aos machos dominantes, ferozes, sem SOL…
Volto a mim, grata aos céus ou a não sei mais quem, por poder estar neste pedacito da Humanidade, onde tive a sorte de nascer, onde posso pensar, onde posso sorrir com a luz do sol benfazejo e brilhante, que me estende os braços, sem que eu tenha que o temer!
Por isso, numa atitude genésica, cresço para a TERRA, enlameio as mãos e os pés no regato de água que me abraça o SER…sinto a plenitude do cheiro dos ares e do vento que me traz o aroma da NATUREZA, na” pessoa “dos odores das plantas, selvagens ou não.
Terra, vida e homem…agentes distintos, originais e originários da cosmogénese, que geram, na sua cúmplice reciprocidade, a fertilidade e os ritos cósmicos da vida e da morte. Sem dúvida que o elemento primordial é a terra, essa beleza enclausurada no pior que o homem pode ter, o ventre telúrico de cujo útero, na origem dos tempos, vieram os primeiros seres humanos, os primeiros arbustos e os primeiros caniços. É então que vejo que as crianças vieram do fundo da terra…das cavernas…das grutas…mas igualmente dos mares, das fontes e das ribeiras, onde, “enclausuradas “, para nosso BEM, estão as belezas necessárias ao desenvolvimento das espécies. Como fui criança também, vejo-me pintada numa caverna primitiva, com toscas tintas e sujos dedos, numa parede escura, beleza enclausurada para preservação…Sou uma pintura rupestre, sou a pedra com que fui riscada, sou o sangue que o desenho larga para os confins dos tempos…os mesmos que permitiram que eu tivesse forças para fugir de clausuras patéticas de impotência, de falta de visão e de saber!
Vejo-me (e não é NARCISISMO!) um ponto da eternidade, entre as notas que as estrelas vão tocando, na cintilante música com que alumiam o mundo de todas as belezas, enclausuradas ou não! Sinto-me uma possibilidade de qualquer coisa, na pulsão incontrolável do fazer parte de um COSMOS onde crescem belezas…flores, montanhas de cheiro saboroso que transpiram gotas de orvalho, de entre neblinas e brumas…que formam ribeiros, rios e poças de água aos triliões de milhões…que deslizam, fluentemente para o MAR…
Sou navio e caravela na hora das distantes descobertas, sou Gama…Gago Coutinho…Ganges e Apolo…sou tudo…mas não “beleza enclausurada!” Sou contra a FOME …a CORRUPÇÃO, o ROUBO descarado de todas as belezas do MUNDO…
Coração de POETA da modéstia, quero ver, a céu aberto! a PAZ…a LIBERDADE…a JUSTIÇA…o HUMANISMO, A VERDADE…
PROCLAMO, COM TODAS AS FORÇAS, TODAS AS BELEZAS A CÉU ABERTO!
ABAIXO OS “ENOLAGAY”!
Maria Elisa Ribeiro

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