quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

PIER PAOLO PASOLINI –PPP (SÉCULO XX) - (1992-1975)






Figura grande e controversa da cultura italiana do passado século…Filósofo, visionário profético da sociedade em que viveu os seus curtos anos e do mundo europeu, também…
Comunista (-alvo a abater, no seu tempo) …homossexual assumido (-dignidade de carácter que contribuiu para a sua morte…) pensador, poeta, ensaísta e tradutor, professor, cineasta realizador de filmes que eram o retrato de uma Itália, que não se queria ver ao espelho…A denúncia da miséria italiana numa época posterior à Guerra, valeu-lhe o ódio da igreja, dos clérigos hipócritas, dos ricos burgueses e aristocratas de “meia-tigela” que viviam, ainda, como nos tempos dos “reinos”,” marquesados”, “ducados”, “principados”e outros “ados” de antes da unificação da Itália, por obra de Garibaldi. Essa denúncia dos erros da sociedade, que, infelizmente, são hoje, o “pão de cada dia”, não lhe era perdoada, nem mesmo pelo Partido comunista italiano, no qual cedo se inscreveu e que o expulsou pelas pressões do poder fascista e fascizante, dominado pela igreja de Roma.
Um pequeno artigo na revista “Ípsilon”, do jornal “PÚBLICO” de 6/01/012, deu-me o mote para a decisão de dizer algumas palavras sobre este homem, pois no final dois anos oitenta, quando vivi, perto de Bolonha, a mais esquerdista das cidades italianas de então, ainda o tema do seu assassinato era falado como se tivesse sido no dia anterior. Aprofundei, por conseguinte, os meus conhecimentos sobre o grande realizador, “in loco”.Amigos italianos do Facebook, vão continuando a lembrar o homem, com os seus defeitos e virtudes, continuando a questionar a sua morte às mãos de um rapazote homossexual de 17 anos, que, em 1975, foi, segundo o próprio afirma, forçado a confessar que o tinha assassinado por questões amorosas.

Não tendo sido um mero (??????)assassinato, dado o deplorável estado em que o corpo foi encontrado, demonstrando atitude de ódio pessoal, os italianos estão, hoje mais que nunca , convencidos de que a Direita reaccionária aliada à igreja, contribuíram ,em conjunto, para tirar “de circulação” alguém que os incomodava ,com a sua inteligência e visão dos problemas. Perto dos problemas da classe operária e profundo conhecedor dos dialectos italianos, nomeadamente do dialecto friuliano que conhecia, de raiz, por viver em Bolonha ,na região da Emilia- Romagna, vizinha da região do FRIULI-VENEZIA-GULIA, isolava os “ouvidos estranhos e maldosos “das suas conversas, o que a Direita e a igreja não perdoavam, por não terem acesso a essa forma de comunicação.

A vida familiar foi sempre de grande tensão, apesar de os pais serem de esquerda, também.
Integrado na sociedade bolonhesa, cedo fez parte de revistas literárias, onde apresentou muita da sua obra, nomeadamente, a poesia, em dialecto , facto que enraivecia a mediocridade do clero retrógrado, que achava isso uma divisão discricionária que não unia os católicos…quer dizer,não permitia que eles percebessem nada dos assuntos…e isto, a igreja de Roma não perdoa , porque sempre se habituou a dominar…
Rodearam, por isso, a sua vida, de factos tão escabrosos que o próprio Partido Comunista foi, por força das circunstâncias, obrigado a expulsá-lo.
PPP auto definia-se como “católico-marxista”; nos seus filmes usou ideias chocantes, obscenas e provocatórias, para mostrar a vacuidade dos valores em que os burgueses e aristocratas se movimentavam na sociedade, de onde excluíam os pobres e camponeses miseráveis de depois das guerras, obrigados a trabalhar por “meio tostão”, para que os ricos vivessem.
Alberto Moravia, grande nome da Literatura italiana do passado século e um dos seus grandes amigos, descreveu-o como “o maior poeta italiano da segunda metade do século XX.
PPP auto definia-se como um Realista no meio do neo-realismo, embora tivesse a impressão de que não se sabia definir! Mas a obra falava por ele, mostrando-nos uma sociedade dominada pela hipocrisia e deturpações clericais de todo o tipo de verdades…Isto, não lhe perdoava o dito clero que, mais tarde se viu embrulhado em realidades como a do BANCO AMBROSIANO, a ascensão de BETTINO CRAXI no poder, as trampolinices de ANDREOTTI, o nascer de BERLUSCONI e outros factos que me abstenho de enumerar, porque já lá não estou, nessa Italia de PPP.O seu primeiro livro de poesia, edição de autor, intitulado “POESIA A CASARSA”, de 1942, em dialecto friuliano, falava dos pobres e miseráveis, de uma classe operária que não vivia…sobrevivia…
Como professor, as suas ideias irreverentes que são hoje consideradas verdadeiras profecias dos tempos que vivemos, quer na Italia, quer na Europa…como professor, dizia, tudo se “arranjou” de modo a que ele falhasse…Despedido, passou fome e viveu pobre como as suas personagens. Como realizador cinematográfico, a prostituição marcava a sua obra por ser “um modo de vida”, uma questão de sobrevivência! Ainda hoje se vê com reverência , o filme “ MAMMA ROMA”, com a grande ANNA MAGNANI. A Italia de então censurou toda a sua obra, afrontosamente, por ela ser um “espelho” onde todos se reviam, através das personagens.
Alguns dos seus trabalhos cinematográficos:
-“Rei Édipo”;
-“Mamma Roma”;
-“Decameron”;
-“Os contos de Canterbury”;
-“O Evangelho segundo são Mateus”;-
-“SALÒ e os cento e vinte dias de GOMORRA”, etc
Alguns trabalhos em POESIA:
-Poesia dialetal do século XIX;
-“A Melhor juventude”;
-“Antologia de poesia popular-CANZONIERE ITALIANO”1955, ano em que sai também, “RAGAZZI di VITA”;
-em 1957 escreve sobre GRAMSCI, comunista, cientista e filósofo, que admirava;

Recebeu muitos Prémios, dos quais destaco: Grande Prémio do Júri do Festival de CANNES (1974)-“URSO de OIRO DO Festival de BERLIM(1972)-PRÉMIO O.C.I.C do Festival de VENEZA, pelo filme “ O Evangelho segundo SÃO MATEUS”(1964) e tantos, tantos trabalhos e prémios , que seria cansativo enumerá-los!

BIBLIOGRAFIA
_LUCIANO de GIUSTI,” Os filmes de PAOLO PASOLINI, GREMESE, 1883
-ANGELO RESTIVO, “ O cinema dos Milagres Económicos, DUKE UNIVERSITY PRESS, 2002
-ENZO SICILIANO, “Pasolini, uma biografia, tradução de JOHN SHEPLEY, LONDRES, BLOOMSBURY, 1996;
-“La Divina Mimesis”, PIER PAOLO PASOLINI;
-“Lettere luterane,PIER PAOLO PASOLINI;
e ainda, notas da WIKIPÉDIA.
A obra de PPP foi, para além de provocadora, herética e escandalosa, uma revolução que se tornou convulsão, pela comungabilidade entre cinema e Vida, Arte e Realidade…


Janeiro, 2012-01-22
Maria Elisa Ribeiro

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