segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

POEMA

 





CIO  DA TERRA

 

 

Num cio desesperado, abre-se a boca da Terra

E a semente enterrada desperta, numa guerra de papoilas floridas.

Vida a aclamar Vida!

Densas corolas macias,tensas de monotonia

Abrem os cabelos ao fogo do sol que as desperta e afaga

Num ar de quente e sensual alegria.

 

Os filhos das rochas erguem os braços ao alto

Frenéticos e tangedores em cantigas de mil cores.

 

E uma língua desconhecida ecoa pelos ares quentes.

O aroma das flores roça-me as orlas dos ouvidos e perde-se

Nos sentidos que sussurram em tom vago, de braço dado

Com o brilho dos teus olhos ardentes.

 

 

Confusas como as florestas perdidas de amor pelas estevas,

Pelas urzes e giestas num leito de rosmaninho e sementes

Rasgamos a verde espessura e penetramos no matagal bravio

Por atalhos enviesados de nós próprios...perdidos em ondas de carinho.

 

São maduros os frutos de aromas intensos que o silêncio da sombra

Te põe nas mãos

Quando a floresta estremece de satisfação.

 

E, num cio desesperado, abre-se a boca do mundo a um sexto sentido

Que, em nós,se tornou um segredo lindo e profundo.

 

 

Maria Elisa Ribeiro

©Direitos reservados

DEZ/2022

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