sexta-feira, 3 de dezembro de 2021

Poema

 POEMA: UM CAFÉ E UMA MAÇÃ

Saí, hoje, do quarto, tão lenta como um rio
com dificuldades em passar sob a ponte;
a boca triste
marcou-me o rosto
e as veias que me corriam no corpo
padeciam da lentidão de um fruto-que-só-amadurece-a-seu-tempo.
Reagi;
tomei o meu café com uma desusada calma e
alonguei o braço para uma maçã madura
que ali estava, no prato, sobre uma toalha de inesquecível brancura.
As lágrimas estremeceram-me nos olhos,
quando soprou um vento glacial ,que me intimidou
e alertou para o fim do bom tempo…
Quis ir lá acima…
Quis ver como estavas…
Dormias…
numa serenidade inacreditável de quem
nada tem a ver com o mundo…
nem mesmo com
as dunas desgrenhadas, desalinhadas, quase chorosas…
ou com os golpes de vento tempestuosos,
que faziam com que as aves parecessem lenços rasgados
por sobre o mar,
que as açoitava.
A meio da escada vi que o vaso estava cheio
de flores secas,
que me lembraram que talvez
já fosse tarde demais,
para um dormir tão sossegado…
Percebi, então, que aquelas escadas estavam tão gastas,
que era melhor não as voltar a subir…
Maria Elisa Ribeiro
NOV/015
Pode ser uma imagem de maçã
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