sábado, 4 de fevereiro de 2017

DE Gastão Cruz..



Poesia de Gastão Cruz, in Net:

DESCREVO O CORPO

Descrevo o corpo como alguém


que responde somente ao som do tempo

e que não sabe nem

se o chama o som do sangue nem se o tempo

se move ou pára quando pede

alguém que diga alguém as ilegítimas

falas alheias Cede

então o próprio corpo à voz das vítimas

no tempo vil aprisionada

Olhando-se, o actor repete a fala

na mágoa transportada

do palco naufragado Entrenta a sala

morta revolta como água

desidratada Quem a voz escuta

de um mar de mágoa?

Falas alheias são a tua luta

com a memória Se me pede

um corpo que descreva o corpo, olho

o mar como quem mede

a água que de cima ainda olho

do palco náufrago cantado

como cantei outrora uma cidade

O corpo é também água

batendo contra um cais desidratado

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