quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Do nosso Miguel Torga...



Poema de Miguel Torga, in O citador:

Inocência
Vou aqui como um anjo, e carregado
De crimes!
Com asas de poeta voa-se no céu...
De tudo me redimes,
Penitência
De ser artista!
Nada sei,
Nada valho,
Nada faço,
E abre-se em mim a força deste abraço
Que abarca o mundo!


Tudo amo, admiro e compreendo.
Sou como um sol fecundo
Que adoça e doira, tendo
Calor apenas.
Puro,
Divino
E humano como os outros meus irmãos,
Caminho nesta ingénua confiança
De criança
Que faz milagres a bater as mãos.

Miguel Torga, in 'Penas do Purgatório'

Sem comentários:

Enviar um comentário