QUANDO A PROSA ME INVADE A POESIA
(O Tempo tem a minha Idade)
Dias há, em que desperto mais cedo que o sol. Mesmo assim, sei que a noite decorre de olhos vigilantes, abertos, à espera das primeiras claridades das alvoradas de trabalho.
Quando o sono me nega o ficar nos braços de Morfeu, levanto-me, abro a janela e respiro o aroma da terra, trabalhada por mulheres que vêm plantar o milho, numa leira , à beira da estrada, com uma fé como se acreditassem que, nas pedras a monte, um ventre morto pudesse dar à luz.
A terra, cheia de acácias vivas e coloridas, promete-me sombra, quando o sol me olhar bem de frente, potente e sedutor.
Do outro lado-longe, está o mar, que olho sem o ver. É o momento de imaginar os mil brilhos do luar, desejoso por ver as águas a revoltear, tão lutadoras como semeadoras de milho, na leira, perto da estrada, em frente à minha janela aberta.
Ao olhá-lo, medito e penso
que, talvez seja ele a fonte que traz
e que leva todos os meus sonhos…
Palavreamos noite dentro. Eu, queixando-me;
Ele, desatento, sem dizer nada
que me sossegasse o pensamento.
(Terra e água com o ar ,dentro.)
E o Fogo?
Ei-lo que começa a brilhar por detrás das colinetas, em tons vermelhos e dourados, permitindo-nos ouvir a melodia das flores a abrir, das ervas a escorrer orvalho, dos passaritos encantados em alegres revoadas.
(É a hora da Idade do Tempo.)
O Tempo tem a minha idade, e eu respondo-lhe
com a suavidade do silêncio dos sonhos,
que ainda não pude dormir…
No ventre da Terra já dormem e crescem
os pés de milho…ali…à beira da estrada…naquela leira
feita ventre, na terra húmida, encantada…
Maria Elisa Ribeiro
Out/016
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