quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Do nosso Rui Cóias...



Um poema de Rui Coias

11.

Não é difícil um homem apaixonar-se.
Ferir a sua paisagem,
cinzas de um passado caído, fluente.
Ao fim de vidas partilhadas pode ser que
diga "estremeci
durante anos sem te abraçar". Agora é tarde.
Agora é tarde sobre a terra cercada.
Por planícies ficou o desespero,
a dor lilás dos homens soçobrados
na paciência nocturna.
Só depois do terror os cães ladram fielmente
aos portais da manhã, só
após o gume das vidas partilhadas.
"Passei a vida a fugir para a tua boca", e
confundo já o teu rosto
com um qualquer.


em A Função do Geógrafo, V.N. Famalicão: Quasi Edições, 1ª edição, 2000, p. 18.

publicado por manuel a. domingos

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