sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Sócrates....ainda e sempre!


Grupo Lena pagou carro de irmão de Sócrates e descontou valor a amigo


MARIANA OLIVEIRA

30/09/2016 - 08:02


O PÚBLICO ouviu as três horas do interrogatório ao presidente da comissão executiva do Grupo Lena, Joaquim Conceição, e resume o que foi dito.
Defesa de José Sócrates não quis comentar declarações do presidente do Grupo Lena. DANIEL ROCHA




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O Grupo Lena assumiu ter pago mais de 30 mil euros relativos a um Audi A5 usado pelo irmão do ex-primeiro-ministro José Sócrates, António Pinto de Sousa, montante que garante ter sido descontado mais tarde na conta corrente do empresário Carlos Santos Silva, amigo do governante e do seu irmão, que trabalhava regularmente para o grupo.

Isso mesmo é assumido pelo presidente da comissão executiva do grupo, Joaquim Conceição, num depoimento prestado a 29 de Junho no Departamento Central de Investigação e Acção Penal, no âmbito da Operação Marquês. Joaquim Conceição foi ouvido como representante de quatro sociedades arguidas, todas do Grupo Lena, durante pouco mais de três horas. Na gravação do depoimento, à qual o PÚBLICO teve acesso, o presidente da comissão executiva do grupo nunca fala do eventual pagamento de subornos a José Sócrates, nome aliás poucas vezes referido durante o depoimento. Na maior parte das respostas, Joaquim Conceição deu uma versão que contraria muitas das teses sustentadas pelo Ministério Público.

O interrogatório, no qual Joaquim Conceição é acompanhado por dois advogados, concentra-se no funcionamento do grupo e nas relações deste com o empresário Carlos Santos Silva, que o Ministério Público acredita ser um testa-de-ferro do antigo primeiro-ministro. A venda de um terreno do grupo em Angola, conhecido como Kanhangulo, que foi negociado com o empresário luso-angolano Hélder Bataglia, ligado ao Grupo Espírito Santo, concentra uma parte substancial das perguntas do inspector tributário Paulo Silva e do procurador Rosário Teixeira.

Quanto ao episódio do carro do irmão de Sócrates, Joaquim Conceição, começa por dizer que houve uma “situação complicada” na Rentlei, uma empresa do grupo dedicada ao aluguer operacional de viaturas, levantada por um funcionário “muito mesquinho” e “muito rigoroso”. Explica que António Pinto de Sousa tinha um contrato de aluguer operacional de um Audi A5 com a Rentlei, que deixou de ser pago quando morreu, em Agosto de 2011. Diz que a determinada altura, um advogado da mãe entrou em contacto com a empresa, dando-lhe conta do interesse da familiar em ficar com a viatura.

Levantou-se então a questão de quem deveria pagar as rendas em atraso e o valor residual do carro, tendo a questão chegado às mãos do presidente da comissão executiva do grupo. Este diz que falou com Joaquim Barroca, um dos donos do grupo, que pediu orientações a Carlos Santos Silva, que tinha trazido aquele cliente. Questionado sobre se não teria mais lógica falar sobre este assunto com os herdeiros, Joaquim Conceição diz que o normal é abordar quem trouxe o negócio.

“O Carlos está-me a dizer para pagares isso por nossa conta e para deduzires isso nas dívidas que temos ao Carlos”, contou Joaquim Conceição, numa alusão à conversa que teve com Joaquim Barroca. Face às dificuldades financeiras do grupo, o presidente do grupo diz que para cobrir “os 30 e tal mil euros” teve de recorrer a dólares vindos de Angola. “Fomos buscar onde havia”, justifica, assumindo que o dinheiro chegou a Portugal em “numerário”. Joaquim Conceição diz que de imediato foi transmitida a indicação aos responsáveis da empresa em Angola para descontarem essa quantia às dívidas que o grupo tinha com Carlos Santos Silva, que nessa altura estava a fazer o projecto de um edifício em Angola.
Divergências com Barroca

O procurador quis saber por que é que esses pagamentos feitos em 2011 e 2012, aparecem registados em 2013 num ficheiro que faz um balanço das despesas assumidas pelo Grupo Lena, mas que Joaquim Conceição considerava que deviam ter sido pagas por Carlos Santos Silva ou pelas suas empresas. O gestor insiste que nessa altura já se tinha feito o encontro de contas com o amigo de infância de Sócrates e que a inclusão daqueles montantes era uma “duplicação de débitos”. O presidente do Grupo Lena diz ter feito aquela manobra com o intuito de baixar o valor da renovação da prestação de serviços de Santos Silva, que acabou por ficar nos 2,7 milhões de euros, 10% abaixo da anterior.

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