"As minhas palavras têm memórias ____________das palavras com que me penso, e é sempre tenso _________o momento do mistério inquietante de me escrever"
sexta-feira, 30 de setembro de 2016
CAOS POLÍTICO EM ESPANHA! (in www.publico.pt)
Caos no PSOE abre caminho a cenários de implosão. E depois?
JORGE ALMEIDA FERNANDES
29/09/2016 - 22:00
A luta pelo poder dentro do mais velho partido espanhol ameaça romper os actuais e precários equilíbrios políticos em favor do PP e do Podemos
A questão que se punha nesta quinta-feira era simples: quem manda no PSOE? Não se sabe REUTERS/ELOY ALONSO
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O histórico Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), fundado em 1879, está em processo de autodestruição e em risco de implosão. Está dividido em duas facções que não se reconhecem mutuamente, invocando duas legitimidades e estratégias irreconciliáveis. A hipótese de terceiras eleições em Dezembro encerra uma ameaça de “extinção”. Evoca-se o fantasma do PASOK grego.
A situação política espanhola tem sido definida como um infindo impasse na tentativa de formar um governo e tende a agravar-se. Depois da dificuldade em lidar com um sistema pluripartidário, divisa-se nova complicação. Previne no La Vanguardia o jornalista Enric Juliana: “O Partido Socialista está a transformar a sua crise interna numa crise de Estado ao ligar o calendário das suas vertigens com os prazos de investidura [do governo]. A esquerda espanhola está a trinta minutos do suicídio se acabar por forçar terceiras eleições gerais.”
Não se trata apenas de garantir uma nova hegemonia do Partido Popular ou uma ressaca conservadora. É que, em caso de ruína do PSOE, a alternativa ao PP será o Podemos, de Pablo Iglesias, o que mudaria todos os dados do jogo.
Passemos a semana em revista.
Quem manda?
A questão que se punha nesta quinta-feira era simples: quem manda no PSOE? Não se sabe. Para os críticos, o secretário-geral, Pedro Sánchez, cessou as suas funções após a demissão da maioria dos membros da comissão executiva federal, na quarta-feira. Sánchez recusa essa interpretação dos estatutos e garante que não se demitirá. Marcou para este sábado uma reunião do comité federal (o órgão superior do partido, com 290 membros). Propõe que ele convoque eleições primárias para o cargo de secretário-geral, a 23 de Outubro, e um congresso extraordinário, a 12 e 13 de Novembro.
Há duas legitimidades em choque. As pontes entre os “dois bandos” estão rompidas. Os críticos pediram a convocação da comissão de garantias, o órgão jurisdicional do partido, para confirmar a queda de Sánchez. Três dos seus membros, favoráveis aos críticos, anunciaram uma rápida deliberação.
A “declaração de guerra” foi lançada por Sánchez na terça-feira ao anunciar a inesperada realização de primárias em Outubro e um congresso em Dezembro. Após seis derrotas eleitorais consecutivas, as últimas das quais na Galiza e no País Basco, acumulando os piores resultados de sempre, o secretário-geral estava sob forte pressão dos adversários internos. Estes, que na maioria tinham defendido (no interior do partido) a abstenção no voto de investidura de Mariano Rajoy, opõem-se a que o partido negoceie com o Podemos a formação de um governo alternativo, graças a um hipotético apoio do Cidadãos e de partidos catalães. Argumentam que a única razão que poderia levar Iglesias a um acordo seria a divisão do PSOE.
Por outro lado, opõem-se a terceiras eleições em Dezembro, temendo que os socialistas sejam esmagados em benefício do Partido Popular. O próprio Sánchez colocou assim o problema: “Há dirigentes que não pensam o mesmo que eu, que crêem que nos devemos abster na investidura (...) Precisamos de debater e votar para que o PSOE tenha uma única voz.”
Os “barões”
Havia um acordo para que as primárias e o congresso se realizassem “quando houvesse governo”. A jogada de Sánchez foi vista como tentativa de um “plebiscito pessoal” num calendário que não permitia aos críticos organizar uma alternativa. Estes defendem que o PSOE não deve inviabilizar um governo minoritário do PP, antes assumirem-se como líderes da oposição. Mas Sánchez tem um discurso para mobilizar as bases: “Rajoy sim, ou Rajoy não?” Apelou esta semana o seu aliado Miquel Iceta, líder socialista da Catalunha: “Pedro, livra-nos de Rajoy.” Ironizou um jornalista: “É uma forma original de nos livrar de Rajoy, fazê-lo crescer enquanto tu encolhes em cada eleição que se repete.”
Foi neste quadro que os “barões regionais” do PSOE, como Susana Díaz, Ximo Puig, García-Page ou Fernández Vara (respectivamente presidentes da Andaluzia, Valência, Castela-Mancha e Extremadura), apoiados por ex-líderes do partido, como Felipe González, Joaquín Almunia, Rodriguez Zapatero ou Rodríguez Rubalcaba, decidiram passar ao ataque e provocar as 17 demissões na comissão executiva. Invocam a necessidade de travar a “estratégia de suicídio” do PSOE.
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