quarta-feira, 12 de abril de 2023

POEMA

 OS NOSSOS ANTIGOS SERÕES

Numa onda de frio veludo há vacilações, coisas sem vértices nem ângulos
ou dimensões.
Ao mesmo tempo que nascem, logo morrem no mesmo dia.
O veludo vacila em mim, sem luz que me aperte ao calor.
(As coisas que morrem não respeitam a alquimia das transformações do
ferro em ouro...)
Recordo que, na infância,
à minha volta se falava do frio, do calor, do ar e da terra.
O frio quando era frio,
era tremendo
e dos ventos revoltados recordo bem
que as lareiras comiam mais lenha.
Falava-se de duendes e seres estranhos, de mastros de cordas, de velas
e de lindas sereias que, por vezes, davam à costa.
Recordo que tudo era magia na boca das velhas avós,
que eu nada compreendia
porque a imaginação era parca e pobre.
Mas ia para a cama cada vez mais rica e sabedora de lindas mentiras
que animavam os serões dos pobres.
Não esqueço os pés quentinhos até à alma,
e como me sentia longe das tempestades furiosas
que provocavam o enlace das árvores medrosas
estarrecidas ante o cristal violento que semeava os campos de granizo.
Vejo que me olhas como se nada percebesses do que te digo...
O silêncio sai-te dos olhos
sem perceberes que estou desejosa por falar,
para alongar o tempo
como fazia a menina nas noites das “Mil e uma maravilhas”...
©Maria Elisa Ribeiro
Direitos reservados
2019
Pode ser uma imagem de 1 pessoa, criança, miosótis e Rosmaninho
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Anne Ly e Rogério Manuel Madeira Raimundo

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