quinta-feira, 17 de agosto de 2017

Artigo do Pe Carlos Godinho, do LUSO.



O CIRCO CONTINUA!

Devo dizer que nos últimos dias tenho tido menos preocupação em acompanhar as notícias sobre os incêndios florestais! Desinteresse? De modo algum! CANSAÇO!

1. Estou CANSADO deste circo mediático de múltiplas televisões (salvaguardando-se o direito de informar) que exploram até ao limite o sofrimento alheio! Mas nada mais nos dizem - talvez nada tenham a dizer! - sobre causas e efeitos deste drama, proporcionando uma reflexão séria sobre estes acontecimentos!

2. Estou CANSADO de ser tomado por lorpa, como a grande maioria dos portugueses, quando se torna evidente que nem políticos, nem tribunais (embora nos mínimos façam o seu trabalho) têm vontade de clarificar esta situação! E era um DEVER esclarecer os portugueses sobre as causas do que se está a passar! E não são, senhores políticos, as elevadas temperaturas e a seca, em que estamos, as primeiras responsáveis! A primeira responsável é a mão (ou mãos) humanas que aproveitam estas condições para incendiar, sem dó, nem piedade! O direito a saber porque arderam os seus bens, em muitos casos moradias de família ou de pessoas singulares, exigiria que se informasse os portugueses, com VERDADE e não com respostas apressadas, de quem procura uma causa minimamente credível para explicar a situação! Informar os portugueses seria um dever do Estado e um direitos daqueles! Também isto é democracia!

3. LAMENTO que, neste quadro, apenas os Senhores Presidentes de Câmara e Presidentes de Juntas de Freguesia dêem a cara pelos seus munícipes e trabalhem arduamente para salvaguardar as populações e os seus bens! Muitos deles sofrendo junto com as populações as consequências deste infortúnio! Talvez muitos deles sentindo-se também abandonados pelo poder político central nesta hora tão difícil! Afinal, onde estão o Primeiro Ministro e os Ministros do Governo? Esta situação calamitosa não exigiria uma intervenção mais direta e musculada dos membros do governo? Pois é: estamos na sily season e neste tempo não se fala da vida real! Nem que os pobres portugueses estejam sob o domínio intempestivo de um mar de chamas! Lá para Setembro talvez venham alguns discursos (muitos deles pouco oportunos, no conteúdo e, sobretudo, deslocados no tempo)! Curiosamente até os abraços do Presidente da República se esgotaram! Não falo da necessidade de abraços físicos, mas da exigência - como primeiro magistrado - de que todo este drama se esclareça até ao ínfimo pormenor! E uma palavra pública mais assídua agora é que era necessária!

4. LAMENTO que depois de passar o verão voltemos à doce consciência de que tudo vai bem na terra dos Lusitanos, deixando que assuntos de incêndios se restrinjam à sua época - o verão! E assim vamos vivendo e gerindo este pobre país!

5. LAMENTO que se exponham os próprios bombeiros a um trabalho excessivo - verdadeiramente heróico! - sem o auxílio de meios aéreos e de outros de que Portugal já podia dispor (vejam-se as afirmações de oficiais da Força Aérea em anos anteriores)! LAMENTO ainda que os Bombeiros, a quem em tempo de verão tanto se exige, não tenham o reconhecimento público e do Estado que lhe era devido, nos outros períodos do ano!

O Circo continua, não apenas no espetáculo que nos é mostrado, mas com todos os figurantes que, de forma voluntária ou involuntária são arrastados para este palco! Mas o Circo não dura para sempre! É que com os incêndios que destroem as florestas há um fogo brando que destrói a confiança nas autoridades públicas! E ainda nós somos este povo pacifico e resignado, que facilmente após a desgraça cruza os braços!
Apetecia-me gritar: acordem PORTUGUESES e exijam de quem elegeram que não só salvaguardem o interesse público, mas que prestem contas VERDADEIRAS da realidade da nação que foram chamados a governar!

Mas, infelizmente acabo de escrever com a perceção de que se o Facebook me recordar esta publicação daqui a um ou dois anos talvez ela ainda seja adequada à situação de então (e não é necessário ser adivinho, profeta, ou outra coisa qualquer para ter tal impressão)! Se continuarmos assim, o futuro não será diferente do presente!

Precisamos, precisamos todos nós portugueses, de uma ação decidida, de um empenhamento cívico mais forte e de uma exigência democrática que inverta este triste fado! Apesar de o poder continuar a pertencer a um grupo restrito (não diferimos muito do caciquismo do séc. XIX), verdadeiramente o poder pode estar nas nossas mãos! E se o assumirmos, poderemos ter a legitimidade de pedir contas a quem gere a causa pública! Seja qual for a orientação política ou partidária! É necessário que passemos de um certo estado de letargia a um empenhamento mais consciente e determinado! Portugal, afinal, depende de todos nós!

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