sexta-feira, 11 de agosto de 2017

A Solidão, por RILKE



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Manet, Rainer Maria Rilke


Quando o corpo exulta, vale a pena lembrar quão precária e difícil é essa harmonia de entendimento entre dois seres.

O quotidiano é para a maioria da humanidade adulta, um deserto de intimidade de afectos, a espaços preenchido com o fulgor do encontro. No que resta, sucedem-se vazios afectivos onde a solidão de que nos falam estes poemas de Rainer Maria Rilke (1875-1926), se instala, tanto no sonho do solitário no primeiro poema, como nos corpos que nada encontraram do segundo.

PARA RECITAR ANTES DE ADORMECER

Eu queria cantar para dentro de alguém,
sentar-me junto de alguém e estar aí.
Eu queria embalar-te e cantar-te mansamente
e acompanhar-te ao despertares e ao adormeceres.
Queria ser o único na casa
a saber: a noite estava fria.
E queria escutar dentro e fora
de ti, do mundo, da floresta.
Os relógios chamam-se anunciando as horas
e vê-se o fundo o tempo.
E em baixo ainda passa um estranho
e acirra um cão desconhecido.
Depois regressa o silêncio. Os meus olhos,
muito abertos, pousaram em ti;
e prendem-te docemente e libertam-te
quando algo se move na escuridão.

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