segunda-feira, 2 de abril de 2012

MeMÓRIAS...na ilha vivida...


MEMÓRIAS…da ilha vivida…


Se, como diz o mais comum dos homens, “recordar é viver”, a verdade é que, também “viver é recordar”. Quem há, que não passe momentos a lembrar os tempos, as histórias, os acontecimentos, por vezes, bem marcantes, da sua vida?
Na realidade, o homem só tem um meio de viver, ao mesmo tempo, no passado e no futuro; é o de intervalar recordações e sonhos…Aí está o nosso Presente!

Por vezes, também, não há dor maior do que, na adversidade, recordar tempos felizes.
Mas quão triste seria não ter saudades de nada…querer esquecer tudo… Afinal, existimos já como seres humanos….Não somos máquinas produzidas às peças, como “robots”…Fomos dotados de sentimentos, de alegria, de tristeza, de dor…Somos capazes de sentir, agir e reagir…
A verdade é que os sonhos amanhecem as nossas vidas para serem realizados nas “TARDES” e recordados nas “NOITES”; e entendamos aqui as palavras “tardes e noites”, como Metáforas de horas más e horas boas.
Tudo isto, a propósito de uma foto que, ontem, dia 31 de Março de 2012, tive a alegria de encontrar na minha página do Facebook! Uma fotografia que “falou”… que me transportou à era do Sonho, àquela altura que recordo como um período de alegria da minha vida pessoal, que foi o da vivência em São Tomé e Príncipe, ao lado de pais e irmãs, único período da minha vida em que estivemos todos juntos.
Essa foto permitiu-me recuperar, quase totalmente, um pouco da minha integralidade como SER humano, ao trazer-me à memória tudo de bom que a infância permitiu que vivesse nessa ilha paradisíaca, que tenho no pensamento, como se lá estivesse ainda.

Era a foto de uma mulher de raça negra a dar de mamar a um bebé branco!
Estarão os cérebros racistas e xenófobos escandalizados com esta minha “saída”…Não faz mal…Eu nunca fui racista! Vejo os homens como seres humanos e não como boiões de tinta!
E vou explicar porquê: era costume, nesses tempos em que não havia leites enlatados e outras vaidades da modernidade (muito menos nas ex-colónias ultramarinas!), as senhoras brancas darem os seus filhos a amamentar, às serviçais de raça negra, que tivessem filhos ao mesmo tempo, caso não tivessem leite para os seus meninos brancos. Bem…leite e lágrimas são iguais em todo o mundo, em todas as raças do mundo…são símbolos de vida e de dor!
Pois , a minha irmã mais pequenina, bebeu leite da “mãe negra”! E eu, que adorava a ternura com que aquela mulher esquecia as agruras da vida e se dedicava a passar as mãos pelos cabelos loiros dos outros meninos que amamentava, para além do seu, encostava a minha cabecita ao colo dela e cheirava-me a leite…leite branco…leite são…enquanto ela ia alternando as carícias entre mim e minha irmã! Abençoada “mãe negra! Que estejas em paz no mundo das reais verdades! Eu também provei o teu leite…às escondidas…

Todas as mulheres que são mães de dois filhos, quase seguidos, sabem que o mais velho, geralmente tem ciúmes do mais novo, se a mãe lhe não der o peito…Comigo foi assim…e para que o mais velho não se perturbasse… eu dava-lhe o peito, também…

Meu Deus! Reparo, agora, que este tema dá “pano para mangas” e vou ter que me alongar… (como sempre, aliás…)
É que as palavras amadureceram…e a tela das recordações começou a comunicar com vivências antigas que estão a desprender-se no papel como folhas velhas de árvore, como fruto que amadureceu, também, e me vai caindo, aos poucos no regaço das lembranças…
A infância é linda, é inocente…mas é trágica, porque passa e só volta a reaparecer, quando a não chamamos.
Vivi sonhos inenarráveis, com os meus amiguinhos negros, nas florestas densas que rodeavam a ROÇA COLÓNIA AÇOREANA, onde habitei até à hora de partir para uma nova e determinante etapa da vida…a escola, em Portugal. Essa floresta densa e mística que eu amava na inocência do desconhecimento dos perigos quer ela encerrava, essa floresta, dizia, verde, húmida e refulgente de beleza, era-sei-o, hoje, um eixo semântico de POESIA que exala agora na minha escrita. Era vida, era morte, era fruto, era água de cascatas a escorrer pelas colinas, era cobra mamba…era OUTRA espécie de vida, na vida que eu passava, inconsciente dos perigos…era Sonho, na realidade da Verdade de Então! Era a vivência de um paraíso original, num berço de saberes, gostos e puros amores!
Como posso cristalizar, numa síntese madura de Agora o que me marcou, nesse tempo de magia? Que sabe uma criança de todas as concepções activas e sociais de um viver numa ilha paradisíaca? Eu só sabia de felicidade e liberdade no meio do éden…nada sabia sobre os contrastes entre a transitoriedade humana e o infinito que a transcende! Só sabia – da-verdade- presente…a do mar que se ouvia, vindo do outro lado da floresta…a da cascata onde, nus, todos nos banhávamos na inocência…depois, esperava que meu pai não desse por nada…e comia os mais saborosos frutos, as mais ricas bananas e mangas, que a floresta punha ao alcance das nossas mãos inocentes…umas brancas, outras negras…mas todas irmanadas num sentimento de partilha e convívio são!

Hoje sei que as crianças, na sua eterna inocência, são a prova de que há “uma contrassociedade”: o seu modo de ver e de viver as coisas do mundo é tão genuíno de “anti regras “que o mundo em que se inserem se vai tornando, a pouco e pouco, uma POESIA!
E apetece-me acabar esta reflexão com uma parte de um soneto de ARY dos SANTOS, que diz isto, no “SONETO PRESENTE”:…Aqui ninguém me põe a pata em cima/
Porque é de baixo que me vem acima/
A força do lugar que for o meu.”

AQUI, NA MINHA POESIA….

Maria Elisa Ribeiro
Mealhada, 2 de Abril de 2012

4 comentários:

  1. Em sonhos já visitei esses lugares, com ou sem pretos ou mestiços bem gostava de lá ir na realidade, sonhos...

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  2. Meu amigo, tudo pode acontecer, na vida...
    Beijo da
    Mª Elisa

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  3. Querida amiga,
    Páscoa…
    É ser capaz de mudar,
    partilhar a vida na esperança,
    lutar para vencer toda sorte de sofrimento.
    É ajudar mais gente a ser gente,
    viver em constante libertação,
    crer na vida que vence a morte.
    É dizer sim ao amor e à vida
    investir na fraternidade,
    lutar por um mundo melhor,
    vivenciar a solidariedade.
    É renascimento, é recomeço,
    é uma nova chance para melhorarmos as coisas que não gostamos em nós,
    Para sermos mais felizes por conhecermos a nós mesmos mais um pouquinho.
    É vermos que hoje… somos melhores do que fomos ontem.
    Desejo a você e a todos os seus uma Feliz Páscoa, cheia de paz, amor e muita saúde!

    Beijocas sabor de chocolate!!!

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  4. Marilu querida: feliz Páscoa para você, na certeza da FÉ e na Paz interior!
    Que a vivas, em alegria, junto de teus familiares.
    Obrigada por este poema do coração!
    Beijinhos da
    Mª Elisa

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