De repente, a noite se dissolve em claridade,
E lá fora, sob o peso sutil do céu, a chuva suave cai,
Cair e cair – a própria essência da chuva,
Quem ouve seu murmúrio se lembra, inevitavelmente,
De um instante onde o acaso lhe trouxe de volta uma flor,
Seu nome: rosa, e a confusão viva do seu vermelho.
Essa chuva, que cega ao descer, percorre as ruas esquecidas
E, talvez, ilumine as uvas escuras em uma videira oculta,
Tocando em segredo o que já foi, o que não é mais.
Mas ao cair nesta noite solitária, a chuva me devolve
Uma voz, a voz amada de meu pai –
Que retorna agora, como se nunca tivesse partido.
Autor: Jorge Luis Borges
Fotografia: Eduard Gordeev – Esquina de Rua Chuvosa
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