sábado, 8 de julho de 2017

POEMA de minha autoria(OBRA REGª)















MULHER-ME-FUI-SENDO







lembrar-te, agora, é sentir que o tempo costumava

transbordar de ti … e isso dói…

…tudo porque a tua presença-ausente continua a viver…AQUI



o sol langoroso, louro-quente, felpudo de chamas ardentes

desce pela vidraça e desnuda-se, deliciado, no soalho que pisaste.

Envolve o quarto o bafo quente que sai pela vidraça por onde entrou.



adiante, tenho a montanha que me viu-ser-gente…

…a montanha desse Outubro longínquo e distante

que amontoava as folhas caídas junto das pinhas e das agulhas

de pinheiros, dos fetos e dos abetos onde vivi tantas brincadeiras…



Mulher-Terra Mulher-telúrica Mulher-Mulher-Me- FUI-SENDO.



hoje, quando Me lembro, procuro-Me na solidão

dos atalhos poeirentos… sento-me entre os penedos

que nunca abandonaram os momentos-dos-meus-tempos.

olho o céu, de onde cai um azul-verde cuja sombra me permite

ver as fundas brechas que se abriram na idade da montanha e

nas raízes das árvores que a prendiam à terra, como me prendia eu

às escadas de pensamentos por onde chegava ao céu.



o silêncio é cortado apenas pelo marulhar dos tímidos ribeiros

que passam ao lado das cabras, a correr pelos carreiros que

vão desaguar no vale, lembrando cais de marinheiros-a-voltar.



continuo a nascer,

crescendo em cada madrugar que

se vai prolongando,

pelos crepúsculos em que não te quero recordar…

continuo a perder os olhos pelo horizonte,

mesmo em frente do meu silêncio mimético,

onde passam avezitas a dialogar com o silêncio-da-Hora…







Maria Elisa Ribeiro



ABL/016

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