domingo, 9 de julho de 2017



Marguerite Yourcenar (8 de junho de 1903, Bruxelas/ 17 de dezembro de 1987, Northeast Harbor, Maine, EUA)

O Sono e o Amor, Memórias de Adriano, Marguerite Yourcenar, p.20. Ed. Ulisseia

«Concordo que o sono mais perfeito está quase forçosamente ligado ao amor: repouso meditado, reflectido em dois corpos.
Mas o que me interessa aqui é o mistério, específico do sono saboreado por si mesmo, o inevitável mergulho a que se aventura todas as noites o homem nu, só e desarmado, num oceano onde tudo muda, as cores, as densidades, o próprio ritmo da respiração, e onde reencontramos os mortos. O que nos tranquiliza no sono é que se sai dele, e que se sai sem qualquer mudança, pois que uma extravagante interdição nos impede de trazer connosco o resíduo exacto dos nossos sonhos. O que nos tranquiliza também é que ele cura a fadiga, mas cura-nos, temporariamente, pelo mais radical dos processos, arranjando as coisas para que deixemos de existir durante algumas horas. Nisso, como noutras coisas, o prazer e a arte consistem em nos abandonarmos conscientemente a essa bem-aventurada inconsciência, consentirmos em ser subtilmente mais fracos, mais leves, mais confusos do que nós mesmos.»


https://youtu.be/aafDzs_jssA
Marguerite YOURCENAR, Mémoires d'Hadrien.




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