quarta-feira, 1 de março de 2017

Do nosso Guerra Junqueiro



Poema de Guerra Junqueiro, in O Citador:

Regresso ao Lar
Ai, há quantos anos que eu parti chorando
deste meu saudoso, carinhoso lar!...
Foi há vinte?... Há trinta?... Nem eu sei já quando!...
Minha velha ama, que me estás fitando,
canta-me cantigas para me eu lembrar!...


Dei a volta ao mundo, dei a volta à vida...
Só achei enganos, decepções, pesar...
Oh, a ingénua alma tão desiludida!...
Minha velha ama, com a voz dorida.
canta-me cantigas de me adormentar!...

Trago de amargura o coração desfeito...
Vê que fundas mágoas no embaciado olhar!
Nunca eu saíra do meu ninho estreito!...
Minha velha ama, que me deste o peito,
canta-me cantigas para me embalar!...

Pôs-me Deus outrora no frouxel do ninho
pedrarias de astros, gemas de luar...
Tudo me roubaram, vê, pelo caminho!...
Minha velha ama, sou um pobrezinho...
Canta-me cantigas de fazer chorar!...

Como antigamente, no regaço amado
(Venho morto, morto!...), deixa-me deitar!
Ai o teu menino como está mudado!
Minha velha ama, como está mudado!
Canta-lhe cantigas de dormir, sonhar!...

Canta-me cantigas manso, muito manso...
tristes, muito tristes, como à noite o mar...
Canta-me cantigas para ver se alcanço
que a minha alma durma, tenha paz, descanso,
quando a morte, em breve, ma vier buscar!

Guerra Junqueiro, in 'Os Simples'




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2Tu e Magda Maia
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Maria Elisa Ribeiro A figura da velha ama...o lar...a Pátria...A imensa saudade do "ninho" nos braços acolhedores do seio familiar.O exílio, longe do carinho das "pedras pátrias", as noites de choro, o "encontro" com outras vidas...Vem a propósito, este poema, num momento em que Portugal assiste a uma nova emigração, fruto dos erros de "desgovernantes" que nos fizeram chorar e sofrer por, novamente, nos terem feito acenar, com lágrimas, ao adeus das despedidas.

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