quarta-feira, 27 de julho de 2016

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Hillary Clinton faz história e ganha um guarda-costas chamado Bernie Sanders


ALEXANDRE MARTINS (em Filadélfia)

27/07/2016 - 07:57


A primeira mulher a candidatar-se à Casa Branca por um grande partido viu o seu ex-adversário a enterrar definitivamente o machado de guerra. Bill Clinton recordou o passado e disse que Hillary é “a melhor pessoa a concretizar mudanças” que conheceu na vida.






Hillary Clinton dirige-se à convenção a partir de Nova Iorque
REUTERS/MARK KAUZLARICH










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Depois de um início que parecia destinado a ser um mau reality show, comgritos, discussões e cada um para o seu lado, o Partido Democrata conseguiu transformar lentamente o segundo dia da sua convenção numa telenovela quase certinha, que acabou com um acontecimento já esperado, mas nem por isso menos histórico: Hillary Rodham Clinton é a primeira mulher a ser nomeada candidata à Presidência dos Estados Unidos por um dos maiores partidos daquele país.

Para os mais curiosos, o momento aconteceu precisamente às 18h56 (23h56 em Portugal continental), quando os representantes do estado do Dacota do Sul anunciaram os seus votos e empurraram Clinton para lá da marca dos 2383 delegados que ela precisava para garantir a nomeação.

O longo processo de votação, em que participam os 50 estados mais a capital federal e territórios administrados pelos Estados Unidos, foi um momento importante para aliviar a tensão no interior do pavilhão Wells Fargo, em Filadélfia, dando uma oportunidade para que os apoiantes do senador Bernie Sanders festejassem sempre que o nome do seu candidato era mencionado.

Em troca, a delegação do Vermont deixou passar a sua vez de votar, para que o seu senador – Bernie Sanders, pois claro –, pudesse dar mais um passo para voltar a unir o partido: como numa dança bem coreografada, Sanders cumpriu a sua parte do acordo e pediu a suspensão dos trabalhos para que Hillary Clinton fosse nomeada por aclamação.

“Proponho que a convenção suspenda a votação, proponho que todos os votos, todos os votos, declarados pelos delegados sejam reflectidos no registo oficial, e proponho que Hillary Clinton seja escolhida como a nomeada do Partido Democrata para Presidente dos Estados Unidos”, disse Sanders debaixo de uma ovação quase unânime – quase, porque alguns delegados de estados onde Bernie Sanders venceu nas primárias, como o Maine, o Kansas, o Alasca e o Oklahoma abandonaram a sala enquanto pediam a outros que fizessem o mesmo.

Mas esta mini-revolta, que também aconteceu na convenção do Partido Republicano contra a nomeação de Donald Trump, foi abafada pela onda de histeria que invadiu o pavilhão Wells Fargo ainda Bernie Sanders não tinha acabado de falar.
Hillary é a "melhor pessoa a concretizar mudanças"

Depois de ter posto na Sala Oval o primeiro Presidente negro da história do país, em 2008, o Partido Democrata fica agora a fazer figas para que a Casa Branca seja pela primeira vez ocupada por uma mulher – um feito que diz pouco a muitos millenials norte-americanos, que chegaram à idade adulta com a sensação de que essa conquista já estava no bolso, mas que era um sonho inatingível para muitas mulheres de outras gerações. Basta imaginar que era possível entrar numa máquina do tempo, viajar até ao passado apenas dez anos e dizer a alguém com um telemóvel em forma de concha que na década seguinte os próximos presidentes dos Estados Unidos seriam um negro chamado Barack Hussein Obama e (talvez) uma mulher, ainda que chamada Hillary Clinton.

No segundo dia da convenção já não se ouviram os apupos e as vaias dos apoiantes de Bernie Sanders que marcaram grande parte do primeiro dia, mas ainda assim é evidente que nem todos aceitam a realidade de que Hillary Clinton venceu mais estados, conquistou mais delegados e teve mais votos nas eleições primárias – esta facção do movimento criado por Bernie Sanders está furiosa com o partido, especialmente depois dos e-mails publicados pela organização WikiLeaks, nos últimos dias, onde alguns responsáveis foram apanhados a sugerir ideias para denegrir a imagem de Sanders.

Foi assim no pavilhão e foi assim também no Parque Franklin Delano Rossevelt, a poucos metros de distância do centro da convenção mas a anos-luz de qualquer contacto imediato de terceiro grau por causa das jaulas de ferro que já tinham deixado a sua marca em Cleveland, durante a convenção do Partido Republicano.

Primeiro reunidas à volta de um smartphone, como um grupo de adeptos de futebol colados ao rádio em dia de final, e mais tarde sentadas na relva como os olhos postos num ecrã gigante, centenas de pessoas que só votariam no candidato do Partido Democrata se esse fosse Bernie Sanders também entravam em êxtase sempre que o nome do seu herói era mencionado.

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