terça-feira, 12 de junho de 2012

ARTE POPULAR



TRADIÇÕES POPULARES: ARTE E MAGIA NA PUREZA DOS IDEAIS.

“A obra de arte popular constitui um tipo de linguagem por meio da qual o homem do povo expressa sua luta pela sobrevivência. Cada objecto é um momento de vida. Ele manifesta o testemunho de algum acontecimento, a denúncia de alguma injustiça” (?)


Hoje, a velocidade galopante da vida moderna faz-nos esquecer, muitas vezes, os usos e costumes, as tradições e os saberes dos nossos antepassados. Reviver esses tempos idos, recordar a paz das aldeias, a alegria das coisas simples, em testemunhos plenos de sinceridade, pode ser um contributo valioso para educar os filhos de hoje a saberem amar a sua terra e a(s) sua(s) história(s).
Nesta altura do ano, principalmente, quando o tempo se torna mais propício e acolhedor, florescem, um pouco por todo o lado, para gozo dos nossos olhos e das nossas memórias, as feiras de artesanato, de gastronomia, o reviver das tradições medievais, etc
São modos aliciantes e genuínos de as Autarquias promoverem o turismo nas suas regiões, sendo, ao mesmo tempo, uma maneira de reavivar tradições, usos e costumes, que estiveram presentes no dia-a-dia da nossa meninice. Tudo o que é popular, é genuíno e conduz-nos à verdade das origens, fazendo-nos recordar tempos em que se tinha tão pouco e com tão pouco se vivia. As nossas aldeias, afinal, eram montras de saberes. Como era lindo e bem normal ver um qualquer artesão trabalhar o ferro, o couro, o latão, o alumínio, a corda, a madeira, a verga, as palhas!E o barro, nas olarias? Das mãos calejadas e doridas saíam artigos lindíssimos que faziam brilhar os olhos de pequenos e grandes, na ingenuidade de uma pergunta: “Como é que você sabe fazer isto, SR…?”
Toda essa magia do antigo constitui e acentua a nossa cultura de índole popular, num tempo em que as coisas não estavam tão à mão como hoje e em que imperava a lei do “desenrasca”.
Através da leitura e do estudo dos Contos Populares, verdadeiros repositórios de mensagens de índole ético/morais, bem como fontes de estudo de usos, costumes, tradições que, desde os confins dos tempos marcaram a evolução do homem, vemos como, em todas as Culturas, foi o decorrer das eras humanas.
Não havia televisão e a electricidade é um bem relativamente recente; os serões eram passados à lareira e as noites “eram muito longas”, porque se ia para a cama muito cedo. As horas que hoje fazemos eram, na nossa meninice, absolutamente impensáveis! Por vezes, quando o tempo ajudava e os dias se tornavam mais longos, a avó ia connosco passar um pouco do serão a casa de uma amiga e lá se ouviam contar as histórias de fadas e de bruxas, dos “cavalinhos e das cabrinhas brancas” que andavam “perdidos”, alta noite, pelos pinhais, a ajudar os incautos contra o mal que queria destabilizar as almas. Eram horas de magia e modos de nos irmos enriquecendo com valores muito arreigados na ingenuidade popular.
Nessas histórias entravam, quase sempre, os artesãos do lugar…E lá íamos percebendo o valor da arte de cada um, posta ao serviço do bem de todos. Era tudo de um Romantismo fantástico, como percebi, já grande, ao estudar os nossos românticos do século XIX, Almeida Garrett e Alexandre Herculano. Leiam , se puderem, as “LENDAS E NARRATIVAS” do grande Herculano e vereis a riqueza de pormenores da vida romântica, que se prolongaram através das décadas, na nossa cultura.
Desde o momento em que o Homem começou a usar a Fala e os gestos, soube transmitir, de geração em geração, histórias simples, muitas vezes com recurso a personagens do reino animal, com cunho ético/moral de sociedades com arreigados valores, na prática do bem. É por isso que, nessas narrativas, passadas de boca em boca, sobressaem duas forças antagónicas: o BEM e o MAL.
Um conto popular não tem Espaço nem Tempo: por isso começa sempre por “Era uma vez…” “num certo lugar…”; assim, o seu conteúdo comunicativo fica exposto a uma grande intemporalidade e universalidade. O conto pode adaptar-se a qualquer tempo e espaço, o que permite adequá-lo a qualquer região do globo, passando a mensagem a ser de todos os seres humanos. Por tal motivo, sentimentos de amor, amizade, de saudade e de esperança, de sofrimento, trabalho, vida e morte podem, mais facilmente ser apreendidos por crianças e jovens. No conto tradicional, muitos dos elementos são retirados da observação directa dos homens, da vida, das paixões ou dos costumes e a moralidade que deles extraímos advém dos actos a que assistimos. É uma ARTE ser contador de contos populares, tal como é uma ARTE fazer sacos e cestas de vimes ou vergas.
Muitas vezes, os contos nas suas formas orais permitiram a crianças e adultos conceberem estratégias para se posicionarem no mundo que nos rodeia, quando se pode ver que os bons são sempre premiados e os maus sempre castigados.
(QUE BOM SERIA SE PUDÉSSEMOS, NOS TEMPOS QUE CORREM, ADAPTAR ESTA MÁXIMA À VIDA DOS CORRUPTOS…)
Era muitas vezes nas feiras da Idade Média, indo de terra em terra, que os contadores de histórias faziam sucesso, levando às gentes a sua arte, prendendo a atenção de crianças e adultos, que deliravam com o fim da história, quando o Bem vencia o Mal.
Na realidade, no que diz respeito às novas “Feiras de Artesanato e Gastronomia”, falta um espacinho dedicado a esta modalidade de Arte. Por vezes, tenho visto as escolas empenhadas em actividades, para entretenimento das crianças. Seria lindo voltar a ouvir histórias de fadas boas e más, duendes e outros espertalhões, cabrinhas e cavalinhos brancos…
Voltemos atrás nos tempos, amigos, e pensemos um pouco de MAGIA, já que a vida é tudo menos isso. Há um só conto que não gostamos de ouvir, porque a má da fita vence sempre: “ A COMADRE MORTE”.
Até à próxima, amigos.
Maria Elisa Ribeiro
Mealhada, 11 de Junho de 2012

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