O SURREALISMO: breve apontamento…
Movimento artístico surgido em França, nos anos vinte do passado século, só muito mais tarde, por volta dos anos 50 chegou ao nosso país, através do chamado Grupo Surrealista de Lisboa, ao qual pertenceram, entre outros, nomes como MÁRIO CESARINY, (M C.) ALEXANDRE O’NEILL e ANTÓNIO PEDRO.
Defendiam, os surrealistas, uma arte, absoluta e completamente livre, onde se desse lugar á expressão do inconsciente de qualquer artista; nesse aspecto, advogavam técnicas de escrita e de pintura essencialmente, em que estes se socorressem do automatismo, da metáfora transfiguradora, do sonho, do símbolo e do insólito.
O Surrealismo teve vários nomes, dos quais destaco:”SUPRA REALISMO”, SUPER REALISMO” e ,em PORTUGAL, chegou mesmo a ser chamado”SOBRE REALISMO”.
Veio-me à memória o tratamento, sem pretensões, desta temática, por ter visto, há dias, no jornal, uma alusão ao nome de Mário CEsariny, a propósito da obra, literário/, musical, que é “a História do Soldado”, obra de 1918 que Charles-Ferdinand Ramuz escreveu e que STRAVINSKY transformou em obra musical.
A obra é baseada em contos tradicionais russos e foi traduzida pelo nosso surrealista (M.C.), tendo sido levada à cena no Museu do Oriente, apresentada pela Orquestra Metropolitana.
Lembrei-me, por este motivo, de recordar, de ligeiro, o movimento surrealista português, na pessoa do seu mais importante representante, entre nós, que foi MC.Este movimento literário começou em França por influências de Rimbaud, Apollinaire e André Breton, entre outros. Recordemos que o princípio do século XX foi tormentoso, nomeadamente na Europa onde Houve uma Primeira Grande Guerra de 1914 a 1919. Tempos conturbados levam toda a espécie de intelectuais a debruçarem-se sobre as sociedades; como sempre, “cada cabeça, sua sentença”e aparece um manancial de ideias como ajuda para a reconstrução do Mundo!
Mário Cesariny privou, em Paris, nestes tempos, com André Breton. Assimilou-lhe as ideias que eram, inclusivamente, influenciadas pelas teorias de FREUD…
Segundo os Surrealistas, não devia o homem fugir da realidade dos factos, mas sim enfrentá-los para conseguir sobrepor-se aos mesmos. Mas esta realidade de que os intelectuais falavam não é a dos acontecimentos corriqueiros do dia-a-dia e sim a dos factos recalcados no seu interior; o homem devia avançar no seu interior profundo, para ver se encontrava soluções para os seus problemas; e aqui está, sem tirar nem pôr, em meu modesto entender, o acto introspectivo frutuoso, aquele que praticamos quando “falamos” connosco próprios e conseguimos ver como somos… cada um de nós!
O discurso poético moderno de HERBERTO HELDER, que vai de encontro às posições assumidas pelos poetas de “POESIA-61”, nomeadamente FIAMA HASSE PAES BRANDÃO, Mª TERESA HORTA E LUIZA NETO JORGE, passando por RUY BELO, JOÃO RUI SOUSA E CASIMIRO DE BRITO, privilegia associações vocabulares livres e descoordenação semântica dando lugar à Imaginação. Vejamos este pequeno poema de ALEXANDRE O’NEILL:
“A mosca Albertina que ele domesticava,
Vem agora ao papel, como um insecto-
Insulto,/Mas fingindo que o poeta a espera.
Quase mulher e muito mosca,
Albertina quer o poeta para si,
Quer sem versos o poeta.
Por isso fica, mosca-mulher, por ali…”
Mas é Mário Cesariny, nascido em Lisboa em1923, o maior representante da “escola surrealista”portuguesa depois de se ter encontrado com André Breton, em Paris, em 1947.este poeta da vida francesa conseguiu, com o expor das suas ideias, determinar o enveredar de Cesariny pelos caminhos poéticos do novo movimento literário que alastrou na Europa, entre as duas grandes Guerras. É de notar que as origens poéticas de M.C.estão fortemente marcadas por influências REALISTAS/PARNASIANISTAS, nomeadamente de CESÁRIO VERDE, e do movimento futurista de FERNANDO PESSOA, que “bebeu”essas ideias do italiano MARINETTI e que sublimou essas influências na célebre “ODE TRIUNFAL”, da autoria do heterónimo ÁLVARO DE CAMPOS.
Não contente, porém, com o rumo do Surrealismo português, Cesariny criou o “GRUPO SURREALISTA DISSIDENTE”, onde deu azo à sua própria versão do movimento ao cultivar tudo o que fosse Absurdo, insólito e Inverosímil l. É claro que os ideais surrealistas se estenderam a todos os ramos da ARTE, em geral: pintura, cinema, escultura, literatura onde passaram a dominar a fantasia, o devaneio, o louco, o excessivamente louco!
Foram surrealistas o artista plástico SALVADOR DALI (conhecido pelas suas excentricidades), Luís Bunuel, o cineasta, ARPAD SZÉNES e VIEIRA DA SILVA…
Um dos quadros de DALI que melhor representa este movimento artístico é o célebre quadro “A persistência da memória” ,onde o artista nos dá a ideia da inexorável passagem do Tempo, pintando os relógios como se fossem massa tenra a desfazer-se.
O Surrealismo nunca, que me lembre, mereceu honras de fazer parte dos programas de Português; nunca destronou o neo –realismo e era (é) muito mais complexo ,como movimento literário. Já que falei de CESARINY e como, de vez em quando, lá aparecia um poema para LEITURA EXTENSIVA, aqui fica um pequeno “ar” do seu uso, da corrente literária:
“EU, SEMPRE…”
Eu sempre a Platão assisto.
Pessoalmente, porém, e creia que não
Tenho qualquer insuficiência nisto,
Sou um romano da decadência total,
Aquela do século IV depois de Cristo,
Com os bárbaros à porta e Júpiter no quintal.”
Texto insuficiente para quem pretender aprofundar esta matéria. Para isso, deverão os interessados consultar obras de Literatura, que a tratem.
Mª Elisa Ribeiro
Vim só ver se o blog estava a funcionar...voltarei mais calmamente para ler a tua crónica.
ResponderEliminarBeijocas
Graça
Minha querida
ResponderEliminarPassando para te deixar um beijinho e dizer que estou melhorando e feliz por vos poder visitar.
Rosa