quinta-feira, 28 de dezembro de 2023

POEMA

 






A ESTRADA DO POEMA

 

 

Toda a terra se despe para receber o beijo do arado.

 

Uma voz, no seu interior, chamará pela semente,

Com a mesma intensidade com que as palavras chamam

Pelos meus lápis e cadernos,

 que estão ansiosos pela força do pensamento.

 

Sinto os ares do vento a darem no chão, levando-me as folhas onde

As letras, uma a uma, se vão convertendo em grumos de moles areias.

 

Parece que tudo o que vou escrevendo se transforma em páginas de terra

que o ventre do tempo ciosamente encerra, na ansiosa espera do amadurecer

da semente.

 

Estou sob a sombra de potentes acácias que alindam a colineta.

Esta paisagem cansa-se da secura da terra devido à falta de água; então,

larga a estrada e procura chegar perto do mar,

 atapetado de areia branca

no brando estender-se da espuma, que não se pode arar ou semear.

 

A água do mar é salgada, bojuda e rendada,

 por causa dos rugidos do oceano.

 

A superfície lisa das águas do mar deita-se sem respirar,

 pois teme que os silvos do vento se enrolem e se encrespem.

 

Vejo a torre do farol a semear a esperança de quem anda no mar

A procurar o pão-peixe,

 mesmo quando as nuvens se atropelam

 na estrada do meu poema,

 (que há-de surgir) de toda aquela terra

 que se despiu ,quando teve que receber o arado.

 

 

Passa o tempo...todo o tempo necessário para cada Um-ser-cada-Um.

 

Como os peixes um a um, as letras saltam  nos focos de bruma.

 

A vida das letras cai nas redes

consciente de que formam um poema

que chapinha no ventre de uma oração,

escondida sob a caruma de um pinheiral sorridente.

 

 

 

 

©Maria Elisa Ribeiro/2021

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