APONTAMENTOS
1. Esta manhã, depois de fazer os meus habituais exercícios respiratórios na varanda, sem embargo dos 8 graus, sensação térmica de 7 graus que os Serviços Meteorológicos indicavam, saudei a Vida com o entusiasmo de sempre, virtualmente prostrada ante a Fonte de Luz que ilumina o Universo, agradecendo tudo o que sou, tudo o que tenho. É o ritual de todas as manhãs, luminosas ou nevoentas. Fiquei após em absoluta imobilidade física, olhando tudo â minha volta, sem ver, pensando... E bem contra a minha vontade, forçando-a, o pensamento mergulhou na estonteante, na enlouquecedora vida do Mundo. Tive que lutar para libertá-lo libertando-me das imagens de pesadelo desse mundo que não quero, não aceito e detesto. O mundo dos triunfantes opressores dos mais fracos; das guerras e dos senhores da guerra; dos fabricantes de armas; dos traficantes de drogas e de desprotegidos seres humanos sobretudo de jovens mulheres; dos violadores; dos que não respeitam os animais e os maltratam. O mundo das grandes Empresas geradoras de conflitos e descalabros sociais e dos governos coniventes; o mundo das Autoridades corruptas e impunes; dos políticos que perdem a consciência, o sentido da honra subjugados ao poder do dinheiro fácil e da mentira como regra para procedimentos abusivos, aparentemente normais; o mundo de todos os que nem a beleza transcendente do Sermão da Montanha conseguiria tocar, seduzir, mostrar o caminho da Luz, da Verdade. É muito difícil libertar a mente dos pensamentos sombrios, negativos perante o espetáculo patente aos nossos olhos, a inquietação e o medo inconfessado de muitas nações, das terríveis consequências para a Europa, se a Ucrânia perder a guerra que a está reduzindo a escombros e os seus cidadãos sobreviventes a trágicos caminhantes para aonde houver o pão, a água e a paz que lhes foram roubados.
Mas ainda assim, eu creio firmemente que na Vida á mais luz do que treva, no mundo mais amor do que ódio. É por isso que sobrevivemos.
2. Tenho vivido a minha longa vida longe do mundo do Futebol, alheia à euforia dos adeptos nas bancadas dos estádios, ao furor das claques que, por vezes, atinge a criminalidade, à forte corrente de simpatia e alegria que o popularíssimo jogo leva a todos os países dos cinco Continentes. Não me despertava a curiosidade, não tinha interesse para mim. Pois bem: um pouco antes de completar os meus cem anos, talvez por influência de uma amiga, que é grande fã do jogo e dele conhece todas as regras, dei por mim a ver, muito atenta, um jogo de Futebol que a Televisão transmitia. E gostei do que vi. Muito. Não sei se pela sensação de vida saudável e beleza que a movimentação dos jogadores em campo me despertava. Talvez. A verdade é que passei a assistir a muitos dos jogos do Mundial 2022, cada vez mais interessada. E porque pouco ou quase nada sabia do assunto, fui fazer perguntas ao Google. É claro que não se apreende de um momento para o outro, toda a problemática do Futebol, mas agora comungo a alegria vibrante das bancadas, acho muito bonitos o colorido e as fantasias dos adeptos, e sinto-me com eles sempre que um daqueles vinte rapazes consegue chutar a bola com tanta energia - e saber e sorte também- que a "redondinha"(não pago direitos de autor, o diminutivo é de uso geral) entra na baliza à velocidade do raio. Compreendo agora que o Futebol não é só o produtor de riqueza, de milhões ou biliões de euros. Há nele algo de muito mais importante do que o dinheiro e que nos torna mais que tolerantes às faltas, caneladas, cotoveladas, empurrões muitas vezes brutais, que os vinte e dois rapazes possam cometer. Compreendo que o Futebol é uma ponte para o espaço do amor fraterno e da paz; que une os povos, fomenta a alegria e diz um NÃO muito veemente ao racismo e à xenofobia. Assim, sinto-me bem e quase orgulhosa da minha ainda pouca literacia futebolística, capaz de gritar com o entusiasmo das bancadas dos estádios:
VIVA O FUTEBOL!
VIVA A SELEÇÃO PORTUGUESA que ontem bateu o Uruguai por 2-0.
Vale de Cambra, 29 de Novembro de 2022
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