sábado, 21 de abril de 2018

Poema do nosso jovem poeta...






A única Doença é não Haver Paixão
A única doença é
não haver paixão.

Há pessoas que encontram no mundo um mero
local de passagem, pessoas que não sentem o que
vêem, que não tocam o que encontram; há pessoas
que não percebem que tudo o que existe foi criado
para apaixonar, para absolutamente apaixonar.

Se não houver paixão
para que serve haver a vida?

Há pessoas
e depois existes tu.

Tu e a loucura de quereres devorar o que te
rodeia, tu e essa pulsão incontrolável para todos
os segundos serem os finais, para todos os instantes
da vida terem desesperadamente de valer pela vida toda.

Se não houver o que tu és
para que serve haver o amor?

E depois existo eu. A apaixonada que ensinaste
a apaixonar-se. Antes de ti não havia o tesão, havia
talvez uma ligeira excitação quando algo de muito
grande me acontecia. Antes de ti não sabia a
beleza do medo, a sensação sem igual de um coração nas
mãos. Antes de ti não sabia que um coração ou está
nas mãos ou anda a rastejar pelos chãos. Antes de ti não
havias tu: eis o suficiente para explicar tudo o que me explica.

Se não houver a possibilidade de te abraçar
para que serve existirem os braços?

Apaixona-me o teu riso, apaixonam-me as borbulhas
na tua pele, a maneira como róis as unhas, a tua
distracção quando enfias descaradamente o dedo
no nariz; apaixona-me que me acordes todos os dias
a meio da noite ou a meio do dia para me encheres de
prazer ou simplesmente para me dizeres que me amas,
apaixona-me que sejas tão falível em tudo o que fazes
e que isso, mais do que tudo o resto, me mostre
que somos infalíveis no amor que nós somos.

Levanto-me para a vida para apaixonar e ser apaixonada:
eis o que toda a gente, pela manhã, deveria ser obrigada
a dizer e a sentir. Levanto-me para a vida para apaixonar
e ser apaixonada. E até esse levantar me apaixona.

Se não houver a possibilidade de ser apaixonante
para que serve haver a pele?

Basta explicar o que nos une
para explicar o sentido da vida.

A única doença
é não haver paixão.

Pedro Chagas Freitas, in 'Prometo Falhar'

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