quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

POEMA






POEMA
QUANDO A PROSA ME INVADE A POESIA
(LABIRINTO DE TUDO)
Sob a luz indiferente das estrelas, uma folha de papel-excessivamente-em-branco fez-me sentir,
na precocidade da escrita,
que o milagre era, tão-somente, a verdade do velho limoeiro do quintal,
onde explodia o meu olhar cintilante, num ponto de interrogação*
Na relva orvalhada pelas gotas da noite,
o cantar dos grilos e das cigarras adormecia, angustiado,
num labirinto de sombras onde era impossível acender um poema, de energias revigoradas*
Os ventos-das-eras foram passando e o velho quintal envelheceu comigo-dentro-dele*
Foi no olho das tempestades da vida, que deixei de ouvir as cigarras e comecei a rasurar a folha de papel,
excessivamente-em-branco*
Nela cabiam carumas, raízes escuras de velhas, ervas bravas e giestas coloridas, ao pé das árvores, de espanto aturdidas*
A resina dos longos pinheiros da velha montanha-grávida-de-cheiros agarrou-se à toalha de imaculado papel (estendida a preceito),
para poder entrar, decidida,
no poema que vou tirando do peito*
Perto do ribeiro, que passa aos pés da casa da infância, estão, as ânsias-de-Outrora, as da hora em que FUI…
em que a teu lado vivi as primeiras brisas do corpo acordado pelo brilho do olhar ,
que penso ter-se perdido no corpo-de-outro-poema *
Maria Elisa Ribeiro/012

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