segunda-feira, 8 de outubro de 2018

POEMA-EM-PROSA: obra REGªªªªªªªªªª!!!!










A PROSA ME INVADE A POESIA
(PARA O CÉU?…CORTAR À ESQUERDA E VIRAR À DIREITA)

*

É indefinível, o Tempo, embora se pareça com o Vento que passa por aí, a espalhar perfumes de mimosas e maresia, em luta, suor e fantasia. O Tempo parece ter um castelo só seu, no Infinito do céu de onde, de-quando-em-quando, abre as janelas e solta tudo o que tem guardado…oníricos origamis coloridos…folhas desarticuladas das origens…poeiras invisíveis… gotas de águas sagradas…nuvens grossas prenhes de águas…calores raiados de vermelho e sangue…mares de águas azuis salgados…desertos perto-no-longe…e também primaveras floridas a cantar o ar da linda manhã que espera alvorecer, depois da noite a dormir. Mas se o castelo é um palácio como o de Antero, lá não há ventura, porque ele não viu as portas do Infinito, onde estaria Deus, seu objecto de Procura.
* Haverá deuses nos palácios plantados nos olimpos, entre nuvens e nebulosas?
…e, se os há, de onde vêm ?
____das searas de além-Tejo, onde desafina o chilrear das cotovias,
que assustam as espigas-boninas no dia-a-dia?
____das noites alentejanas onde a Lua canta, quando brilha nas cristas
dos trigais?
____do profundo mar azul, onde repousam os lenços brancos de um
antigo acenar?
____dos poemas de Camões, que temos nos nossos olhos, quando os abrimos
nas mãos, à nova luz do entardecer?
____dos promontórios ominosos como o do Adamastor, que vivem abraçados
ao sol poente da hora crepuscular?

*Como se vai para o céu?

*Corto à esquerda? E depois viro à direita ?

De quê, afinal, Senhor,
se a Claridade Escura do Passado-Antigo continua a ser o Imenso-
-Nada-do-Presente, meu abrigo?

*Como, se a Verdade suprema repousa nas águas dos rios e das fontes,
e segue caminho para horizontes da lua, das areias dos desertos e das
ondas do mar, onde flutua com rumor?

*Como, se a realidade da verdade se espalha-a-repousar num raio de Sol
poente, na calma vida de um rio-a-deambular?
Será meu caminho para o céu, um atalho à esquerda da estrada onde a quarta nuvem se encontra à minha direita? Caminho com as Primaveras escondidas num bolso completamente vazio…cheio de gelos dos invernos…de ventos outonais fortes demais…de calores que fazem queimar a vida das flores e o voo das aves-a-dormirem-ME nas palavras…

*
Sob a neve, quem pode distinguir as plantas vivas das mortas? E alguém se atreve a dizer que as flores não podem falar? Olhem-nas bem, deuses dos novos olimpos! Vejam como conversam entre-si-connosco os lírios amarelos… as rosas de todas as cores…as giestas vivas…as papoulas rubras…as urzes de alma púrpura…Ouçam-nas! Ouçam como cantam ao desafio com as folhas de verdes trevos, fetos e abetos…com as cerejeiras em flor e as amendoeiras coloridas…

*
Os deuses não respondem…perderam a voz, porque, afinal, só conta o que sentimos nós…

Maria Elisa Ribeiro
Junho/016

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