domingo, 25 de janeiro de 2015

Sobre Mário Soares...


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Um erro crasso


por ALBERTO GONÇALVESHoje




Não tenho nenhuma admiração, ou sequer respeito, pelo Dr. Mário Soares. Não acho que a democracia lhe deva grande coisa, embora desconfie que o Dr. Mário Soares deva imenso à democracia. O Dr. Mário Soares é o produto de uma elite paroquial, convencida sabe-se lá porquê de que nasceu para apascentar o povo. Raramente notei no Dr. Mário Soares um vislumbre de sensatez ou sabedoria, virtudes que a manha e a arrogância não substituem. O protagonismo que o Dr. Mário Soares assumiu no regime é um sintoma do respectivo - e relativo - falhanço: aquilo que convém estimar e preservar no país de hoje existe apesar do Dr. Mário Soares e não graças a ele. O Dr. Mário Soares, em suma, envergonha-me um bocadinho.

Estas considerações ajudam-me a lidar despreocupadamente com as sucessivas atoardas do homem. Quando, há semanas, o homem completou 90 anos, não faltaram por aí comentadores empenhados em despejar-lhe louvores em cima. Dias volvidos, os mesmos comentadores regressam, pesarosos, com o "mas" que nesta matéria arrastam desde o Paleolítico: o Dr. Mário Soares é um venerável portento, mas - um "mas" choroso e magoado - espalhou-se ao comprido ao chamar "salazarista convicto" a Cavaco Silva, uma alucinação tão descabelada que atrapalhou os mais fiéis.

A verdade é que para o Dr. Mário Soares se espalhar ao comprido basta-lhe abrir a boca. Excepto talvez pelo ocasional "Bom dia!" ou "Boa tarde!", não me lembro que dali saíssem muitas frases com fundamento ou sentido. Aliás, o disparate sobre Cavaco Silva surgiu no intervalo de recorrentes visitas a Évora, onde costuma elevar José Sócrates ao estatuto de "preso político". Quase em simultâneo, desejou a vitória dos populistas do Syriza nas eleições gregas. Pouco antes, mostrara-se em cuidados com o destino do banqueiro que, além dos contribuintes, lhe patrocinava a fundação. Se continuarmos a recuar na cronologia, houve as declarações na morte de Eusébio, a sugestão para as massas deporem o governo através da violência, os elogios aos tiranetes da América Latina, a recomendação ao diálogo com a Al-Qaeda e as enormidades que calharam, sempre orientadas pela natureza democrática que define o Dr. Mário Soares. A "energia" que lhe admiram na vetusta idade tem um nome: ressentimento, o ressentimento a tudo o que se assemelhe ao Ocidente civilizado em cuja História imaginou, com típica noção da realidade, ficar.

Não ficou. Do alto de uma carreira de facto esgotada na oposição estratégica ao PREC, fora a inépcia governativa e o rancor que ensaiou na presidência, o Dr. Mário Soares perdurará na história com minúscula que os portugueses escrevem há muito, cheia de gralhas e erros crassos. Ele é apenas um dos maiores.

Quinta-feira, 22 de Janeiro

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