terça-feira, 30 de maio de 2023

POEMA: COROLA

COROLA
Na corola de uma primavera me deito
e…naufrago no odor afrodisíaco do cheiro que
uma abelha suga…
O sol cintila em meus olhos…
Fecho-os para lho devolver no perfume brilhante
do meu Ser…
Por detrás das pálpebras, fica um certo luar
que ajuda a recordar o céu alaranjado por sobre o mar,
onde anémonas a flutuar, descansam em meu pensamento…
Agito meus braços, tornando-os tentáculos que desejam
apanhar nuvens desprevenidas
que rastejam pelo ar,
como serpentes estendidas, prontas para te agarrar…
Vibro na leve plumagem eriçada das pétalas
da minha corola…
Tento dominar as minhas esperanças
-lanças-de-pontas-apontadas-ao-meu-sentir,
excitadas no charme do meu vestido-luar…
À minha volta, um verde atrevido cobre o campo
que rodeia o meu-ninho-corola…
…e trepadeiras selvagens estendem-se , lânguidas,
ao longo da primavera-meu-leito…
…e chega a música da terra a rebentar…
…e oiço sinfonias telúricas de pura magia
a saudar a vida-meu-longo-dia…
(E não! nunca me deste uma flor! nunca me fizeste os mimos
que as borboletas ensaiam nas suas danças de amor!)
Vêm-me ao pensamento as mensagens que me não mandas…
…silêncio-calafrio-dorido-constante…ingente!
E …quanto menos me importa mais me importa, afinal!
Chovem –me no âmago faltas de rosas…antúrios…flores-de lótus…
É uma chuva que alegra a relva, que te apanha na Primavera,
onde urtigas e urzes acenam aos tempos,
perante os quais as árvores se inclinam!
Vespas insolentes zumbem-me, indolentemente, no
ar suculento dos sumos da minha-corola-primavera…
Mas,
minhas noites são sós e límpidas,
inundadas de soturnas expectativas.
Cheiram-me a sono…
Cheiram-me à falta de um beijo ao adormecer…
Cheiram-me a pequenas-grandes-coisas- que-me-é-proibido- ter…
Recolho a minha corola…e as pétalas que vão murchar…
Como é nostálgico o Universo do Entardecer…
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Poema







 BREVES

Uma voz saída como um sussurro...
Um sopro quase sumido, mas firme,
Que me força a ouvir todas as palavras
Que querem sair na minha voz,
versão poema.
O sopro é do vento que as empurra
sem respeito,
pelo mundo em que vivem.
Desequilibro-me ao olhar este mundo e logo
me endireito,
para assegurar a verdade do possível.
Seguro
É o pequeno rio que, tendo percebido o valor das palavras,
Lhes quer dar voz
Para as juntar ao mar
desde que houve
gente, por lá, a navegar.
Na memória dos livros de todas as letras,
Os muros inseguros encostados às palavras
Sabem que o poema não cairá, nunca!-pois
essa voz que não cai
e ouço , em sussurro, força-me
a um equilíbrio
nunca oscilante, sempre constante.
©Maria Elisa Ribeiro
Direitos reservados
Maio/2022

 





                                                      SOTTO-VOCE

 

 

Gosto da obscuridade que nos envolve

quando entramos num recinto, dito,sagrado.

Adoro a meia-luz que nos cobre, enquanto a música,

sotto-voce,vai deixando um ar de intimidade no nosso IMO.

Gosto da progressão ordenada com que, uns atrás dos outros,

vamos entrando, procuramos lugar e nos sentamos

fixando a luz dourada, quase ofuscante, quente  e envolvente,

que nos remete para o encontro de NÓS-CONNOSCO.

 

Todos com as nossas diferenças nos sentimos iguais

naquele espaço místico,

 ao tropeçarmos nas verdades e nas mentiras da Alma.

 

Reparo que ao lado do altar, há uma mesinha solene

em bronze dourado...belo, esculpido de figuras sagradas

de onde uma Bíblia pousada,  espalha núvens de Ideias

na minha mente trémula,

 tristemente perturbada.

 

Sinto o solo que piso e dou comigo a desejar ter os pés

em terra molhada,

 com flores abençoadas

 como se estivessem dentro de vasos

a falarem da beleza que é o mundo,

 fora do dito solo sagrado,

no cimento onde se prende o banco em que me sento.

 

“Avé-Maria, cheia de Graça...”

 

 

©Maria Elisa Ribeiro

Direitos reservados

2022

 

Texto da minha autoria sobre Sophia de Mello Breyner

 





Texto de minha autoria sobre Sophia de Mello Breyner, com a ajuda de Livros Meus:

LITERATURA PORTUGUESA: SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN
FOTOS GOOGLE
LITERATURA PORTUGUESA: SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN (PORTO, 1919-2004)
Palavras da poetisa: ” Quem procura uma relação justa com a pedra, com a árvore, com o rio, é necessariamente levado, pelo espírito da verdade que o anima, a procurar uma relação justa com o homem.”
Mais ainda: em 11 de Julho de1964, quando a SOCIEDADE PORTUGUESA DE AUTORES A HOMENAGEOU, ATRIBUINDO-LHE O GRANDE PRÉMIO DE POESIA, pela obra “LIVRO SEXTO”, disse SOPHIA, num texto do qual a minha sensibilidade destaca algumas frases: “e o tempo em que vivemos é o tempo de uma profunda tomada de consciência (…) Não aceitamos a fatalidade do mal. (….). Como ANTÍGONA, a poesia do nosso tempo não aprendeu a ceder aos desastres. (…). A obra do artista vem sempre dizer-nos “que não somos apenas animais acossados na luta pela sobrevivência, mas que somos, por direito natural, herdeiros da liberdade e da dignidade do ser.” In “DIMENSÃO LITERÁRIA”- PORTO EDITORA-ISBN 972-0-40055-2- (página 335).
Por vezes, o que aparentemente é fácil, torna-se, de repente, difícil. Isso acontece-me, frequentemente, quando começo a medir as palavras para falar de temáticas que se relacionam com a obra de certos vultos literários, como é o caso da poetisa que hoje vos trago e que é, nem mais nem menos que SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN (S.M.B.A.).
A sua poesia é uma das mais lindas dos últimos tempos da Literatura Portuguesa. Sei que nem todos apreciam; mas sei também que, na minha qualidade de Professora de Português, aprendi a amar as suas palavras e a sua visão do mundo, em função dos meus alunos e do programa desta disciplina. Quanto maior é o amor de um Professor pelo que transmite aos seus alunos, maior é a possibilidade de êxito dos mesmos. A poesia de S.M.B.A. é linda, colorida, cheira a mar e à Grécia antiga…brilha no Sol dos sentidos, atirando-nos à face a água do mar e da infância, o cheiro das paredes da casa da meninice, a maciez das areias da praia, a espuma das ondas quebradas aos seus pés…
Poema “CASA BRANCA”: “Casa branca em frente ao mar enorme, / Com o teu jardim de areia e flores marinhas/…A ti eu voltarei após o calor incerto…/(…) Passados os tumultos e o deserto/Beijados os fantasmas… da terra indefinida./”
Dado que a leitura nos enriquece e a poesia nos transmite sensibilidade para melhor entendermos o mundo que nos rodeia e em que estamos inseridos e dado que somos seres dotados de capacidades que escapam a outros seres da criação, aconselho os amigos leitores a aprofundar esta matéria a vosso bel-prazer, na certeza de que saireis enriquecidos…
A obra poética de S.M.B.A. é contaminante e, se nos esforçarmos, permanece em nós o desejo de continuar a “ser contaminado”. Esfusiante na afirmação dos valores que devem reger a vida do Homem, enquanto ser superior da criação, encontramo-la, em vários poemas, a lutar contra o farisaísmo e a hipocrisia, a discriminação, as injustiças sociais, a falta de liberdade das gentes no período salazarista, a miséria, etc.
Vejamos extractos dos poemas “OS FARISEUS” e “ AS PESSOAS SENSÍVEIS”. O primeiro compara o sofrimento humano ao de Cristo, traído pelos fariseus, vítima maior da hipocrisia humana, segundo a vontade do PAI. O tema é abrangente, na medida em que “toca” os que vivem atirando a pedra, ao mesmo tempo que escondem a mão; daí que a poetisa termine, dizendo:”NEM UMA NÓDOA SE VIA/ NA VESTE DOS FARISEUS.”
No poema “AS PESSOAS SENSÍVEIS”, impera, igualmente, a temática da mentira, do farisaísmo e das injustiças sociais, das quais a exploração dos pobres pelos ricos, sobressai, quando ela diz: ”As pessoas sensíveis não são capazes/De matar galinhas/ Porém são capazes/ De comer galinhas/, (…) Ganharás o pão com o suor do teu rosto/” e não:”Com o suor dos outros ganharás o pão.” Este poema termina com uma frase lapidar: “PERDOAI-LHES SENHOR/ PORQUE ELES SABEM O QUE FAZEM. ”
Amante do MUNDO CLÁSSICO Grego, sobretudo, S.M.B.A transporta esse mundo e esse amor para o século XX, em poemas onde refere a grandiosidade dos muros de Knossos, a dura luz de CRETA, DELFOS do Oráculo, onde “ressurgiremos” de um mundo mau, isento de harmonia, cheio de desigualdades sociais e de tiranias opressoras (alusão ao período salazarista) ideias que imortaliza no poema “PÁTRIA”: “ (…) Por um país de luz perfeita e clara( ideia de liberdade), (…)Pedra rio vento casa/Pranto dia canto alento/Espaço raiz e água/ Ó minha Pátria e meu centro / Me dói a luz me soluça o mar/ E o exílio se inscreve em pleno tempo (LIVRO SEXTO ,1962). Ao fazer tais afirmações, Sophia recorda-nos a grandiosidade d’outrora que já não o é mais, porque o povo sofre a “miséria que o tempo desenhou”, no tempo da ditadura salazarista. Esta mulher, uma das mais notáveis poetisas portuguesas do séc., passado, condição que perdura pois o poeta é intemporal, foi também uma lutadora anti-fascista ao lado de seu marido, Francisco de Sousa Tavares, atitude social que se pode ver, nomeadamente, no poema “Este é o tempo”: “Este é o tempo/ da selva mais obscura/Até o ar azul se tornou grades/ E a luz do sol se tornou impura/ Esta é a noite/Densa de chacais (…) Este é o tempo em que os homens renunciam. ”
Fala Sophia, em vários poemas, do tema “exílio”, o que não é senão um modo de avivar o espectáculo degradante da emigração, na década de sessenta, em que se viam os portugueses a fugir do regime e da miséria atávica. Como sabemos todos, hoje, século XXI, continua este nosso ir pelo mundo fora, à procura de empregos que cá não temos, buscando “outras canelas e pimentas”, sofrendo novas despedidas, novos lenços a acenar, novos trajos negros a derramar lágrimas de dor…
É impossível não detectar na sua obra influências de Fernando Pessoa. Amando, como demonstra amar, os clássicos, mereceu-lhe especial carinho o heterónimo RICARDO REIS, a quem dedicou um poema, onde, seguindo as suas pegadas, reafirma que só o Presente conta, já que o Futuro é uma incógnita e o Passado de nada já pode valer. Nesse poema lembra a lição dos deuses ausentes, porque: ”O seu olhar ensina o nosso olhar:/Nossa atenção ao mundo/ É o culto que pedem. ” In “DUAL” (1972)
Esta é uma perfeita atitude epicurista, clássica-pois claro!- de quem usufrui plenamente do momento presente, pois KRONOS( deus do tempo) passa, inexoravelmente, sem nos conceder mais tempo que aquele que os deuses nos destinaram…Mas SOPHIA identifica-se também com ALBERTO CAEIRO, outro heterónimo de PESSOA, no amar a Natureza com a simplicidade dos sentidos; por isso fala tanto da maravilha que é apanhar búzios, conchas, ter as mãos e os pés
enterrados na doçura da areia , sentir a água do mar a fugir-lhe ,por entre os dedos …
MALLARMÉ, poeta francês do século XIX (1842-1898) afirmava, sobre a tarefa dos poetas: “dar um sentido mais puro às palavras da TRIBU, é uma missão do poeta.”
E como SOPHIA cumpriu essa missão! Linda de se ler, bela de se ouvir, rica de aprender!
Podemos, para concluir, afirmar que é belo tudo quanto nos possa vir à ideia, depois de a lermos: o Parthenon, a estátua de Apolo, o templo de SÃO PEDRO, EM ROMA, a incomensurável MURALHA DA CHINA, o TAJ MAHAL… pois tudo, à semelhança da poesia de S.M.B.A., foi feito pela mão e pela mente do Homem, com alegria e dor, na tentativa de “cantar” e elevar a “obra” para DEUS, esse Ser que para uns é DEUS, para outros ALÁ, para outros Jeová…Buda…Confúcio… KRISHNA… todos objecto de admiração do ser humano, o mais imperfeito dos seres perfeitos do PLANETA …
SOPHIA não foi poetisa, somente, pois talvez pelo facto de ter sido mãe de cinco filhos, cedo se dedicou à escrita de contos, que AINDA hoje fazem parte do universo literário dos programas de PORTUGUÊS. RECORDEMOS: “A FADA ORIANA”, “ O CAVALEIRO DA DINAMARCA”, “ A FLORESTA”, “ A MENINA DO MAR”, por exemplo. Não se esgota o tema “ SOPHIA”…Devem os leitores interessados aprofundá-lo, se assim o entenderem. Diz o povo que “o saber não ocupa lugar”… SOPHIA afirma: “Um verdadeiro livro propõe sempre uma maneira de ser”


Mª Elisa Rodrigues Ribeiro-Professora de Português

Cavatina from the Deer Hunter

La Paloma/MÚSICA QUE NÃO SE OUVE MAIS NA RÁDIO - Musica De Los 60 70 80

POEMA

 




UMA MANHÃ DIFERENTE

 

alvorada cedo

                       flores a rezar ao sol

das verdades do coração

                          embriagado de luz

 

um céu limpo e azul numa brisa quente

uma primavera a prometer às veias do SER

o sangue rubro de um próximo verão

 

                                                            o meu limitado espaço de mundo

                                                             inundado de aromas celestiais

                                                             cheira a uma penetrante água-de-colónia

                                                            

                                                          derramada na roupa de lã lavada

 

 

 

se ao menos eu pudesse interiorizar, absorvendo-os,

todos  os odores naturais dos atalhos florestais

meu sangue vibraria nos caminhos onde

 

o sol alegremente brilhou

                          abrindo-me novos portais

 

 

 

©Maria Elisa Ribeiro

2022

 

Bom dia e obrigada pela visita, meus amigos (as).


 

segunda-feira, 29 de maio de 2023

Gomes Eanes de Zurara

 In Wikipédia: Gomes Eanes de Zurara

Biografia
Efígie de Gomes Eanes de Zurara no Padrão dos Descobrimentos, em Lisboa, Portugal.
Cerca de 1440, ele teve acesso à corte por conta de sua proximidade ao referido Fernão Lopes e a Mateus de Pisano – humanista italiano que foi preceptor de D. Afonso V[1].
Em 1449, Zurara recebeu uma encomenda do monarca D. Afonso V e começou a escrever sua primeira crónica[1].
Em 1451, foi nomeado guarda-conservador da Livraria Real e, em 1454, substituiu Fernão Lopes (1385-1459) como guarda-mor da Torre do Tombo e cronista régio[1]. Alguns autores esguardam esta substituição, como tendo sido politicamente motivada, dadas as afeições politicas de Fernão Lopes que, depois da Batalha da Alfarrobeira, deixaram de ser as dominantes.[2] [3]
Zurara também foi agraciado com o título de cavaleiro e comendador da Ordem de Cristo por D. Henrique – governador desta ordem militar de 1420 até 1460 –, além de ser cavaleiro da casa do próprio rei D. Afonso V, mesmo que o seu nome não conste dentre o rol dos moradores do paço real[1].
Deslocou-se, em 1467, a Alcácer Ceguer, com o fim de completar a sua crónica do conde D. Duarte de Meneses. Nas suas crónicas, sem deixar de ser probo, fixa-se na apreciação das grandes figuras, espelhando heroísmo e feitos paradigmáticos, exaltando o valor das épicas personagens de que se ocupa.
Nos seus escritos, reflectindo o ambiente subsequente ao encontro de Alfarrobeira, Zurara está para o seu antecessor, Fernão Lopes, como a crónica dos heróis estará para a crónica de um povo.
Há, em Mangualde, uma escola muito conhecida, nomeada em sua honra: a Escola Básica do 2.ºe 3.º Ciclo Gomes Eanes de Azurara[4].
Obra
1450 - "Cronica del Rei D. Joam I de boa memória. Terceira parte em que se contam a Tomada de Ceuta" (Lisboa, 1644)
1453 - "Cronica do Descobrimento e Conquista da Guiné", também chamada «Crónica dos Feitos da Guiné» (Paris, 1841)
1463 - "Cronica do Conde D. Pedro de Menezes" (in: Inéditos de Historia Portugueza, vol. II. Lisboa, 1792)
1468 - "Cronica do Conde D. Duarte de Menezes" (in: Inéditos de Historia Portugueza, vol. III. Lisboa, 1793)
Crónica dos Feitos da Guiné
A Crónica dos feitos da Guiné de Zurara é a primacial fonte histórica, que sustenta a concepção moderna que se urde do Infante D. Henrique e do período do henriquino dos Descobrimentos, compreendido entre 1434 e 1448. A obra foi encomendada pelo próprio Infante D. Henrique, [5] pelo que lhe é sobremaneira lisonjeira, o que não inspira grandes visos de imparcialidade, aos olhos dos historiadores modernos. [6] Não obstante, à mingua de outras fontes históricas disponíveis, a obra de Zurara continua a ser tanto objecto de estudo, como sustentáculo de fundamentação de muito historiadores modernos.[7]
Zurara terá feito menção de se ter baseado nos relatos das expedições constantes de um manuscrito compilado por um suposto «António Cerveira»[8], no entanto, nunca foi encontrado nenhum exemplar desse relato original[9]. Com efeito, até à publicação da «Primeira Década da Ásia», de João de Barros, em 1552, não havia quaisquer obras publicadas a respeito dos descobrimentos henriquinos, salvo dois livros de memórias, redigidos por Alvise Cadamosto (publicados inicialmente em Itália em 1507)[10][11][12].
João de Barros afirmou ter exarado a sua obra de 1552, baseando-se numa cópia do manuscrito das crónicas de Zurara, que encontrara, avulso, nos arquivos. Porém, pouco mais de uma década depois, Damião de Góis (em 1567), deu conta do desaparecimento do manuscrito das crónicas de Zurara. [13]
Seguiu-se uma caça à cópia desse manuscrito, que saiu gorada. O clérigo espanhol Bartolomé de las Casas, na década de 40 do século XVI, terá dado a entender que deteria uma cópia das crónicas de Zurara, contudo, nunca se chegou a aferir se isso seria verdade. [14]
Frontispício da Crónica dos Feitos de Guiné (códice de Paris)
Foi só em 1839 que se descobriu uma cópia intacta e em formidável estado de conservação das crónicas de Zurara, acantonadas na Real Biblioteca de Paris (hodiernamente Bibliothèque nationale de France), mercê dos esforços de Ferdinand Denis. É de assinalar que, nesta cópia descoberta em Páris (crismada o “códice de Paris”), está incluído um frontispício com o retrato de um homem de bigode ralo, de chapeirão borgonhês encasquetado, que se presumiu de imediato tratar-se do Infante D. Henrique (máxime tendo em conta que, até então, ainda não se havia identificado qualquer representação gráfica do Infante).[15]
Luís António de Abreu e Lima (Visconde de Carreira) fora indigitado, pela coroa portuguesa, como enviado extraordinário, para representar o reino português em França, nesta altura. Luís de Abreu e Lima terá, então, diligenciado pela primeira publicação da crónica de Zurara, já em 1841, prefaciada e anotada por Manuel Francisco de Macedo Leitão e Carvalhosa (Visconde de Santarém).[16][17]
A publicação obteve muito significativa tiragem de vendas, nacionais e internacionais, especialmente tendo em conta que, à data, os atritos diplomáticos entretidos por Portugal, França e Inglaterra, em relação à ocupação dos territórios da África Ocidental, eram muito badalados, tendo vindo em 1885 a culminar na realização da conferência de Berlim. O visconde de Santarém ter-se-á valido da obra para justificar o precedente histórico da presença portuguesa nesses territórios em África. [18]
Uma segunda cópia do manuscrito foi descoberta pouco depois, em 1845, por J.A. Schmeller na Biblioteca Estatal da Baviera, em Munique, incluída num acervo de relatos sortidos de expedições portuguesas, compilado em 1508 pelo tipografo alemão Valentinus Moravus (conhecido em Portugal sob o nome de Valentim Fernandes), que se teria fixado em Lisboa. No entanto, esta versão encontrava-se eivada de excertos truncados. [19]
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 MEU CANTO DE MADEIRA VERDEJANTE

Muitas flores ficam tão mortas no outono,
que não compreendem como lhes é possível voar!
Sei que há rebentos vivos de saudade
espalhados pelos pólenes da primavera que há-de vir
quando o sol decidir iluminar as frestas da terra.
Tantos perfumes andam difusos pelos ares
a escorrer pelas ravinas dos vales da minha pele…
Na ponta dos teus dedos, ao raiar da aurora, voam as letras do meu canto de madeira verdejante, em momentos sempre Presentes-sempre Pretéritos, sempre incandescentes como a boca que te aflora os lábios, aromas de vida –seiva, vermelhos de todas as cores Encarnadas- Encarnando a magia de nossas horas.
Muitas flores morrem nos Outonos.
__________Imensas outras revivem nas Primaveras
_____________ de todos os outros Outonos
que estão por vir.
para não mais voltar-para não mais partir...
______Perco-me pelas vinhas de Baco, entre pássaros famintos,
________árvores e rastos de poeira,
__________e vou com o vento buscar o perfume das rosas mortas,
_____________que hão-de engrossar o vinho da última recolha de uvas
________________sussurrantes, nos socalcos do meu Douro.
Na ponta dos meus dedos não te sinto sair do peso dos meus braços-engastes de diamantes,
que se prendem aos teus abraços potentes.
Estás no tecido da linguagem de uma rota persistente,
que espera a chuva de palavras que me sustenta a imagem,
de quando vicejas no meio de qualquer paisagem.
Uma ânsia de eternidade vai caminhando a meu lado,
_______descalça nos novos perfumes que pairam no diluído ar,
________ a respirar o fragor de uma nova primavera,
_________sempre na Hora certa de regressar.
©
Maria Elisa Ribeiro
MAIO/014
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POEMA: Fragmentos

 FRAGMENTOS

Esta urgência de Luz…
Este cruzar atalhos por vielas em busca do Caminho…
Este ser-eu-e-não-ser, pensando sempre que sou…
Enganam-me as vozes do silêncio…
…calam-se (ainda para mais )
e libertam-se através dos meus
poros dilatados de seiva, de suor, de lágrimas empedernidas
que se escondem, para me apanharem desprevenida.
Então, vejo-me Poeta
com metas a cumprir nas palavras em papel,
no voo das aves pelas luzes do céu diurno,
com as mãos no coração das pétalas que se afastam dos desertos…
Mares falsamente calmos do tempo clorofilino das resmas
de árvores das montanhas,
que transpiram poesia verde onde o Caminho É…
Não mando no poema, que me foge pelo mundo.
Mundo-centro-arterial onde vivem palavras
nas copas púbicas dos Elementos desenraizados…
Há Fronteiras nos muros de silêncio do Caminho
e eu parto sem perceber
que, quase já sabia do que afirmo
não saber!
Ó deuses dos acasos, das dores, das rodas do Tempo!
Afinal,
“O poeta é um fingidor”…
Maria Elisa Ribeiro
Maio/017
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