domingo, 25 de janeiro de 2015

A Informação...





(Des)Informar


por PAULO BALDAIAHoje




A liberdade de informação, bem como a liberdade de expressão, separa uma ditadura de uma democracia, mas não é garantia de coisa nenhuma. Tomada à letra, a liberdade de informação ou de expressão, em que tudo é permitido, não assume nenhum compromisso com a verdade. Informar não é dizer o que pensamos sobre um facto, nem há verdadeira opinião baseada em factos falsos.

Num mundo altamente competitivo em que o deus dinheiro comanda todos os destinos, nenhum de nós acredita que existam órgãos de comunicação social "quimicamente puros". Por isso, é tão importante a transparência, quer no que diz respeito à propriedade dessas empresas quer nos interesses que possam ter os accionistas e os jornalistas noutros sectores. Essa transparência, que no caso português é mais ou menos generalizada, não serve para impedir ninguém de escrever sobre determinadas matérias. Existe para que os leitores, os ouvintes e os telespectadores possam fazer uma avaliação justa da informação que lhes é fornecida. Da mesma forma, os conceitos de jornalismo de referência e de jornalismo tabloide não foram inventados para criar castas entre os jornalistas. Trabalhar num jornal de referência ou num jornal tabloide não faz desses trabalhadores jornalistas de primeira ou de segunda, já a relação que mantêm com a verdade distingue os jornais dos pasquins.

Na visão romântica que até há poucos anos existia do jornalismo, este era visto como uma missão destinada a eleitos. Hoje não é bem assim. A profissão está desgastada e não se recomenda, chegando a pagar ordenados ao nível de qualquer outra profissão desqualificada. Já o escrevi mais do que uma vez, a culpa começa por ser dos jornalistas que ajudaram a desvalorizar a profissão que exercem. E se a questão do valor da profissão diz respeito "apenas" aos que ainda conseguem manter o emprego, ela é muito mais grave quando põe em causa um dos pilares fundamentais da democracia.

O direito à informação tem de pressupor um compromisso com a verdade e com os restantes direitos constitucionais. Esse compromisso só é garantido se existirem regras claras para o exercício da profissão e consequências práticas para quem não as cumpre. O que deveria ser o contrapoder que escrutina os poderes constituídos é, muitas vezes, um quarto poder que ninguém escrutina verdadeiramente. Até quando? De que têm medo os eleitos do povo? Eu respondo: têm medo do poder de quem impunemente não cumpre as regras que, em democracia, se deviam aplicar a todos. Vivem confiantes de que o mal não lhes chegará, não percebendo que o que toca hoje aos outros, amanhã lhes tocará a eles.

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