quinta-feira, 30 de setembro de 2021

Joe Cocker - You are so beautiful (nearly unplugged)

O pensamento de Teixeira de Pascoaes

 

A Mentira é a Base da Civilização Moderna

É na faculdade de mentir, que caracteriza a maior parte dos homens actuais, que se baseia a civilização moderna. Ela firma-se, como tão claramente demonstrou Nordau, na mentira religiosa, na mentira política, na mentira económica, na mentira matrimonial, etc... A mentira formou este ser, único em todo o Universo: o homem antipático.
Actualmente, a mentira chama-se utilitarismo, ordem social, senso prático; disfarçou-se nestes nomes, julgando assim passar incógnita. A máscara deu-lhe prestígio, tornando-a misteriosa, e portanto, respeitada. De forma que a mentira, como ordem social, pode praticar impunemente, todos os assassinatos; como utilitarismo, todos os roubos; como senso prático, todas as tolices e loucuras.
A mentira reina sobre o mundo! Quase todos os homens são súbditos desta omnipotente Majestade. Derrubá-la do trono; arrancar-lhe das mãos o ceptro ensaguentado, é a obra bendita que o Povo, virgem de corpo e alma, vai realizando dia a dia, sob a direcção dos grandes mestres de obras, que se chamam Jesus, Buda, Pascal, Spartacus, Voltaire, Rousseau, Hugo, Zola, Tolstoi, Reclus, Bakounine, etc. etc. ...
E os operários que têm trabalhado na obra da Justiça e do Bem, foram os párias da Índia, os escravos de Roma, os miseráveis do bairro de Santo António, os Gavroches, e os moujiks da Rússia nos tempos de hoje. Porque é que só a gente sincera, inculta e bárbara sabe realizar a obra que o génio anuncia? Que intimidade existirá entre Jesus e os rudes pescadores da Galileia? Entre S. Paulo e os escravos de Roma? Entre Danton e os famintos do bairro de Santo António? Entre os párias e Buda? Entre Tolstoi e os selvagens moujiks? A enxada será irmã da pena? A fome de pão paracer-se-à com a fome de luz?...

Teixeira de Pascoaes, in "A Saudade e o Saudosismo"

PoEMA meu

 

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Homenagem a Miguel Torga
In memoriam


São Martinho de Anta acorda! Chega o poeta
e tudo se move: a terra, o ar, a água e o fogo.
A alegria do seu retorno provoca a desorientação
discreta da “Mãe -natureza.
Riem torgas, urzes, rosmaninhos, pelos montes!
Ruge o vento ao bater nas pontes;
inclinam-se as fragas em sentida emoção;
cantam as fontes no perene correr das suas águas,
em sinal de saudação.
A Natureza revive pela força da presença do homem,
com ela sempre em união!
A Terra-mãe, ventre profícuo da semente escondida,
promete searas vivas, plenas, pujantes,
na serena convicção de que é assim, sem medida,
que agrada ao poeta, que ali arriba!
Vergam-se as árvores, prenhes de fruto,
À passagem desta personagem de vulto
Que faz despontar a “vida - terra”…
Que poder tens tu, homem de São Martinho,
Que tal caos provocas,
na “ terra - pó”, onde tens teu ninho ?
Os teus pés pisam vinhedos do Douro,
desencantando velhos segredos do “ ar -mosto”,
que suspiras, respirando…
As tuas mãos, misterioso elemento da criação do teu mundo,
legam-nos, no ar do teu pensamento profundo,
todos os “nadas” que são, afinal, “tudos”…
Parece fugir-te o Mar,
que deu vida à vida do teu rectângulo sofrido!
Nas claras águas do Mondego revive a tua memória
sem medo; tempos de saber…de poesia e de segredo!
Abrasam-te ares do Norte , com a força da lareira a arder…
Vive, poeta! Vive ainda e sempre, em nós,
pela “ obra -terra”que nos legaste,
em momentos de vivo confronto, a sós,
com Aquele que nunca encontraste!
Que presença tão constante advém da tua aura!
Se fujo, tu vens comigo, (dura ilusão!) dando-me
a força telúrica de quem não abandona,
nunca! - a “ terra -mãe“, que se ama até à loucura,
por ser ela ,para sempre, o berço da Procura.
Contigo, na neblina do doce cheiro do orvalho
das manhãs, permite que comungue da sensação
da pureza dos elementos…
Quando me estendes a mão, encontro, por fim e então,
a fonte dos meus alimentos:
terra, ar, fogo e água!
E, sem mágoa, as torgas rejuvenescem,
os ares purificam,
o fogo são vivifica,
as águas ressuscitam…
e um véu divino estende-se por toda a montanha
onde teu povo habita!
SET/08
Maria Elisa Ribeiro


ESTA AUTORA não escreve em Português do chamado "ACORDO"

Freddie Mercury - Love Me Like There's No Tomorrow Original Extended Ver...

quarta-feira, 29 de setembro de 2021

"Nossas Mágoas" - Canta Almeida Santos

Lá Longe, Almeida Santos

Fado para um amor ausente - Luiz Marinho

POEMA meu

 BREVES

-DE LINHO BORDADO-
Entraste no meu sonho…
E fizeste-o tão de mansinho, tão lentamente,
como se fosses água do rio a entrar na corrente,
sob os raios da lua prateada…
A janela,
delicadamente,
afastou -se, pôs-se de lado, e mostrou-te
o meu lençol de linho bordado.
Interrompeste meu sonho…
E lá ficou o resto guardado no passado,
(onde não chegou a acontecer)…
Como pedaço de nuvem pendurada
na memória da ilusão de uma inocência ameaçada,
uma fogueira arde no peito pendurada
em faúlhas crepitantes,
desgarradas como pétalas de rosa queimada…
Maria Elisa Ribeiro
JNH/020
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Sandra Regina Machado

Janis Joplin - Cry Baby

terça-feira, 28 de setembro de 2021

David Mourão Ferreira in ensina.rtp/ pt/

 







David Mourão-Ferreira, poeta do amor, romancista tardio, sedutor subjugado ao fascínio que teve pelas mulheres. O homem que consegue essa ponte extraordinária e quase impensável entre a literatura e o sentimento na voz de Amália Rodrigues.

Intelectual de relevo, a quem a academia não perdoava não ter acabado o doutoramento, apesar de  fascinada pela envolvência e profundeza do pensamento que o autor emanava, quer em Portugal quer em Itália (que Mourão-Ferreira amava),  quer noutras academias estrangeiras.

Autor dos mais belos poemas de amor e eróticos que a literatura portuguesa comporta, David Mourão-Ferreira foi o gaiato que queria deixar de estudar e que aprendeu a lição que o pai lhe deu na prática, foi o jovem rapaz que fez tropa em Portalegre regozijando-se com a companhia de José Régio, foi o constante apaixonado por uma inconstância de mulheres que lhe passaram a vida, ao longo de dois casamentos. Pela voz de Pilar, a segunda mulher, ecoa-nos ainda essa confissão natural e sempre presente da necessidade da paixão. Foi também o rapazinho que registou quem era em diário e que nunca abandonou os papéis manuscritos, avesso a tecnologia, ainda que fosse a do gira-discos.

David Mourão-Ferreira foi autor de “Música de Cama”, mas era um homem de pudor, mostra-nos este documentário. Tal como nos mostra que, na incapacidade de conduzir – chegou a invadir uma esplanada numa tentativa de aprendizagem – media o pulso às gentes da cidade através das conversas mantidas com os taxistas que o apanhavam.

Lançou o seu único romance aos 59 anos. Passou, contudo, toda uma vida a produzir letras, das mais relevantes e arrebatadoras que podem ler-se em Português. Traduzido, aclamado, recebido com admiração e ânsia por todo o mundo da cultura. Dirigiu um jornal, teve nomeações oficiais e cargos de governação, mas dizer que era de direita ou de esquerda é, podemos ouvir neste documentário, ser “um mendigo da cultura”.

Chegou a uma altura da vida em que entregou a dúvida ao Criador e se rendeu à fé católica. “Em caso de dúvida, o melhor é acreditar sempre”, terá dito o autor que também regista muitos momentos de perturbação existencial, que fixa a angústia de existir.

A avidez do tempo contado – David Mourão-Ferreira nasceu em Lisboa, sua eterna namorada, em 1927 e também nela morreu em 1996 – deixou connosco todas as dúvidas que escreveu, a nossa dívida para com a obra, a dádiva de uma generosidade infinda do autor, na frase recorrente deste documentário: “O que acho cada vez mais extraordinário é a vida, a maravilha de estarmos vivos.”

Ficha Técnica

  • Título: David Mourão Ferreira "Duvidávida"
  • Tipo: Documentário
  • Autoria: Anabela Almeida e António José Almeida
  • Produção: Panavideo para a RTP
  • Ano: 2006

segunda-feira, 27 de setembro de 2021

Pernil de Porco assado no forno

Pink Floyd - Shine On You Crazy Diamond I-IX

HAUSER - Lascia Ch'io Pianga

SAUDAÇÃO


 Pintura de Raffaello Sorbi

O Pensamento de Miguel Esteves Cardoso

 De Miguel Esteves Cardoso, in "Pensamentos..."

Como é que se Esquece Alguém que se Ama?
Como é que se esquece alguém que se ama? Como é que se esquece alguém que nos faz falta e que nos custa mais lembrar que viver? Quando alguém se vai embora de repente como é que se faz para ficar? Quando alguém morre, quando alguém se separa - como é que se faz quando a pessoa de quem se precisa já lá não está?
As pessoas têm de morrer; os amores de acabar. As pessoas têm de partir, os sítios têm de ficar longe uns dos outros, os tempos têm de mudar Sim, mas como se faz? Como se esquece? Devagar. É preciso esquecer devagar. Se uma pessoa tenta esquecer-se de repente, a outra pode ficar-lhe para sempre. Podem pôr-se processos e acções de despejo a quem se tem no coração, fazer os maiores escarcéus, entrar nas maiores peixeiradas, mas não se podem despejar de repente. Elas não saem de lá. Estúpidas! É preciso aguentar. Já ninguém está para isso, mas é preciso aguentar. A primeira parte de qualquer cura é aceitar-se que se está doente. É preciso paciência. O pior é que vivemos tempos imediatos em que já ninguém aguenta nada. Ninguém aguenta a dor. De cabeça ou do coração. Ninguém aguenta estar triste. Ninguém aguenta estar sozinho. Tomam-se conselhos e comprimidos. Procuram-se escapes e alternativas. Mas a tristeza só há-de passar entristecendo-se. Não se pode esquecer alguem antes de terminar de lembrá-lo. Quem procura evitar o luto, prolonga-o no tempo e desonra-o na alma. A saudade é uma dor que pode passar depois de devidamente doída, devidamente honrada. É uma dor que é preciso aceitar, primeiro, aceitar.
É preciso aceitar esta mágoa esta moinha, que nos despedaça o coração e que nos mói mesmo e que nos dá cabo do juízo. É preciso aceitar o amor e a morte, a separação e a tristeza, a falta de lógica, a falta de justiça, a falta de solução. Quantos problemas do mundo seriam menos pesados se tivessem apenas o peso que têm em si , isto é, se os livrássemos da carga que lhes damos, aceitando que não têm solução.
Não adianta fugir com o rabo à seringa. Muitas vezes nem há seringa. Nem injecção. Nem remédio. Nem conhecimento certo da doença de que se padece. Muitas vezes só existe a agulha.
Dizem-nos, para esquecer, para ocupar a cabeça, para trabalhar mais, para distrair a vista, para nos divertirmos mais, mas quanto mais conseguimos fugir, mais temos mais tarde de enfrentar. Fica tudo à nossa espera. Acumula-se-nos tudo na alma, fica tudo desarrumado.
O esquecimento não tem arte. Os momentos de esquecimento, conseguidos com grande custo, com comprimidos e amigos e livros e copos, pagam-se depois em condoídas lembranças a dobrar. Para esquecer é preciso deixar correr o coração, de lembrança em lembrança, na esperança de ele se cansar..
Miguel Esteves Cardoso, in 'Último Volume'
NOTA: Este autor escreve, como eu, em PORTUGUÊS de antes do chamado "ACORDO"
Pode ser uma imagem de 1 pessoa e texto que diz "Escrever é uma maneira de pensar que não se consegue pelo pensamento apenas. Todos os constrangimentos sintácticos e gramaticais da escrita, em vez de nos reprimirem, evam-nos a encontrar encontra frases que não existiam antes de serem escritas, que não podiam existir de outra forma. (Miguel Esteves Cardoso) kdfrases"
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sábado, 25 de setembro de 2021

quinta-feira, 23 de setembro de 2021

Artigo do jornalista Luís Osório, sobre a "personalidade" CINHA JARDIM

 

POSTAL DO DIA
É particularmente obsceno ouvir Cinha Jardim
1.
Cinha Jardim que já foi namorada de Pedro Santana Lopes e mais umas quantas coisas menos relevantes, continua a fazer comentários na TVI sobre tudo o que acontece na casa dos segredos onde rapazes e raparigas nos oferecem o melhor de si para que um dia, se tudo correr mal no planeta, o “criador” não se arrepender quando resolver encomendar a nossa alma ao esquecimento.
2.
Cinha Jardim é filha de Jorge Jardim, durante muitos anos um homem de confiança de Salazar em África.
Um pai que enriqueceu e construiu um império em Moçambique.
Cinha cresceu no orgulho de ser filha de um homem que era um aventureiro e um vencedor, um homem pragmático que fez o que foi preciso em nome de uma ideia de Império que só podia confluir num Portugal do “Minho a Timor”.
3.
Desculpem a introdução para ir ao que me interessa.
Na televisão, nos seus sempre elucidativos comentários, Cinha Jardim disse assim a propósito de um qualquer cozinhado da casa de segredos:
“Em minha casa não há douradinhos, pretinhos ou escurinhos”.
Disse-o como se fosse uma piada.
Não é a primeira vez – há uns largos meses, chamou de pretinho um concorrente de uma outra edição da casa.
E quando aconteceu a polémica de Marega – o ataque racista de que foi alvo – Cinha Jardim também foi muito clara sobre o que lhe vai dentro da cabeça.
Vamos lá a ver.
Não gosto de uma certa ditadura do politicamente correto, mas parece-me ofensivo que um canal de televisão pactue com pessoas que veiculam discursos racistas e uma linguagem ordinária que agride qualquer pessoa bem formada.
4.
Se na semana passada critiquei a “socialite” que defendia que algumas praias deveriam ser pagas para serem mais bem frequentadas, esta semana não poderia deixar de escrever sobre esta pessoa que aos meus olhos é estranha, incompreensível e particularmente obscena.
Sobretudo vindo de uma pessoa que tanto fala de Deus e da Igreja Católica quando define o que é a sua vida.
Como é possível?
Como é que ela justificará a existência dos “pretinhos” à luz dos ensinamentos de Jesus Cristo?
Só me parece que existe uma hipótese, é a única que encontro – para ela, e para outros racistas crentes, os negros não são filhos de Deus.
Provavelmente deveriam estar na selva com os outros macacos.
Que horror, que vergonha, que nojo.
LO