quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

O Neo-Realismo: pequeno texto sobre esta corrente literária...(In Net)




O NEO-REALISMO



Retalhos da Vida de um Médico


A actividade literária de Fernando Namora pode, segundo a maioria dos críticos e analistas ser dividida em quatro ciclos, o primeiro dos quais ou «ciclo estudantil» retrata nas suas obras a vida estudantil do Liceu e da Universidade.

Em 1941, juntamente com outros companheiros, Fernando Namora concre­tiza a ideia do «Novo Cancioneiro», que assinala o advento do neo-realismo, demarcando uma viragem na literatura portuguesa. É um livro seu, Terra, que dá início a essa nova colecção poética.

A sua obra evoluiu no sentido do amadurecimento estético do Neo-Realismo, o que o levou a um caminho mais pessoal. Não desdenhando a análise social, os seus textos foram cada vez mais marcados por aspectos de picaresco, observações naturalistas e algum existencialismo.

Fernando Namora foi um escritor dotado de uma profunda capacidade de análise psicológica, a que ligou uma linguagem de grande carga poética.

É a partir de Fogo na Noite Escura que ganham visibilidade na obra de Namora as preocupações comuns ao movimento nascente, indo ao encontro do que ele próprio define como «a perspectiva histórica que lhe é oferecida». As mudanças que ocorreram no desempenho da sua actividade como médico escritor, que inicia no país profundo a sua actividade profissional, facilitaram o crescente empenho na prospecção de casos humanos.

O segundo ciclo, chamado «ciclo rural» corresponde à sua permanência em Tinalhas (em pleno surto volframista), Monsanto da Beira e Pavia. Este ciclo rural estende-se de 1943 a 1950, e é tido como o período durante o qual se consagraram o romancista e o novelista. Foram então publicadas as novelas Casa da Malta (escrita em oito dias) e Minas de São Francisco, os romances A Noite e a Madrugada e O Trigo e o Joio e esse surpreendente Retalhos da Vida de um Médico (1ª série), que lhe dá projecção internacional a partir da edição espanhola prefaciada por Gregório Marañon.

O «ciclo urbano» caracteriza-se por uma situação de conflito declarado entre o «aldeão atarantado» e a sociedade lisboeta e tem o seu ponto mais agudo na forte controvérsia gerada em torno do romance O Homem Disfarçado, tanto no seio da classe médica como nos meios literários.

E finalmente o quarto ciclo que corresponde ao aparecimento dos chamados «cadernos de um escritor», em que é manifesta a influência que resulta da sua abertura ao mundo, através das múltiplas viagens ao estrangeiro e do contacto com outros pensadores e escritores, do contacto com outras formas de vida e de sistemas.

Fernando Namora é dos autores mais representativos do Neo-Realismo literário em Portugal. Desenvolvendo paralelamente à vida literária a actividade de médico, Namora buscou na realidade de sua profissão a matéria-prima para a composição de considerável parte de seus livros.

Como diz um dos seus analistas «Ao lermos um romance de Namora, facilmente percebemos que suas personagens não são tipos contaminados de automatismos, mas sim indivíduos dotados de especificidade, que sofrem e lutam para compreender – e modificar – o ambiente social em que vivem. As figuras criadas pelo escritor-médico não são o camponês, o engenheiro ou o mineiro; mas sim um camponês, um engenheiro e um mineiro».

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