quarta-feira, 30 de setembro de 2020

A minha Poesia






 VOZES DO ALÉM-MAR NAS-RIMAS-DOS CANTARES DE AMOR

Ouvi-te cantar nos ventos,
por entre pinheiros altos
que se perderam nas águas
da triste chuva dos tempos…
Ouvi-te cantar nos ventos…
(____________________Ficas mais longe, pelas tardes
______________ para onde os crepúsculos correm,
____________a descobrir seculares de gotas de orvalho,
_______ nos sinos onde os lamentos morrem…)
Caiu-me das mãos, o livro que leio ao entardecer…
Como animal ferido,
deixou-me aos pés a capa
que o protegia,
para esconder o quanto eu sofria.
Pinheiros altos----altas velas-a-navegar----choro triste…
…povo meu
que viveu a acenar-lenços-brancos, de esperança-em-riste.
Ouvi-te cantar nos ventos,
a melopeia que entoa o rasgar das velas,
ao desconhecerem que o tempo ia andando “in media res”.
Ouvi as ondas do mar, recheadas de espuma
a vibrar
os ecos nostálgicos das vozes de Além-Mar,
semeados de rimas dos nossos Cantos de Amor.
Ouvi-vos chorar, pinheiros de Portugal!
Maria Elisa Ribeiro
Junho/016

Bom dia ,meus amigos!

 


terça-feira, 29 de setembro de 2020

Boa tarde, meus bons amigos. As melhoras para os nossos doentinhos!

 


De António Lobo Antunes





 A SOCIEDADE PRECISA DE MEDÍOCRES

Acredito que muitos de nós já pensaram nisto mas assim escrito pelo Lobo Antunes ganha uma clareza genial:
“A sociedade necessita de medíocres que não ponham em questão os princípios fundamentais e eles aí estão: dirigem os países, as grandes empresas, os ministérios, etc. Eu oiço-os falar e pasmo não haver praticamente um único líder que não seja pateta, um único discurso que não seja um rol de lugares comuns. Mas os que giram em torno deles não são melhores. Desconhecemos até os nossos grandes homens: quem leu Camões por exemplo? Quase ninguém. Quem sabe alguma coisa sobre Afonso de Albuquerque? Mas todos os dias há paleios cretinos acerca de futebol em quase todos os canais. Porque não é perigoso. Porque tranquiliza.
Os programas de televisão são quase sempre miseráveis mas é vital que sejam miseráveis. E queremos que as nossas crianças se tornem adultos miseráveis também, o que para as pessoas em geral significa responsáveis. Reparem, por exemplo, em Churchill. Quando tudo estava normal, pacífico, calmo, não o queriam como governante. Nas situações extremas, quando era necessário um homem corajoso, lúcido, clarividente, imaginativo, iam a correr buscá-lo. Os homens excepcionais servem apenas para situações excepcionais, pois são os únicos capazes de as resolverem. Desaparece a situação excepcional e prescindimos deles.
Gostamos dos idiotas porque não nos colocam em causa. Quanto às pessoas de alto nível a sociedade descobriu uma forma espantosa de as neutralizar: adoptou-as. Fez de Garrett e Camilo viscondes, como a Inglaterra adoptou Dickens. E pronto, ei-los na ordem, com alguns desvios que a gente perdoa porque são assim meio esquisitos, sabes como ele é, coitado, mas, apesar disso, tem qualidades. Temos medo do novo, do diferente, do que incomoda o sossego.
A criatividade foi sempre uma ameaça tremenda: e então entronizamos meios-artistas, meios-cientistas, meios-escritores. Claro que há aqueles malucos como Picasso ou Miró e necessitamos de os ter no Zoológico do nosso espírito embora entreguemos o nosso dinheiro a imbecis oportunistas a que chamamos gestores. E, claro, os gestores gastam mais do que gerem, com o seu português horrível e a sua habilidade de vendedores ambulantes: Porquê? Porque nos sossegam. Salazar sossegava. De Gaulle, goste-se dele ou não, inquietava. Eu faria um único teste aos políticos, aos administradores, a essa gentinha. Um teste ao seu sentido de humor. Apontem-me um que o tenha. Um só. Uma criatura sem humor é um ser horrível. Os judeus dizem: os homens falam, Deus ri. E, lendo o que as pessoas dizem, ri-se de certeza às gargalhadas. E daí não sei. Voltando à pergunta de Dumas
– Porque é que há tantas crianças inteligentes e tantos adultos estúpidos?
não tenho a certeza de ser um problema de educação que mais não seja porque os educadores, coitados, não sabem distinguir entre ensino, aprendizagem e educação. A minha resposta a esta questão é outra. Há muitas crianças inteligentes e muitos adultos estúpidos, porque perdemos muitas crianças quando elas começaram a crescer. Por inveja, claro. Mas, sobretudo, por medo."
ANTÓNIO LOBO ANTUNES

domingo, 27 de setembro de 2020

O pensamento de Émile Zola in O Pensador, Net





No decorrer dos séculos, a História dos povos não passa de uma lição de mútua tolerância, e assim, o sonho último será envolvê-los todos numa ternura comum para os salvar o mais possível da dor comum. No nosso tempo detestar-se e ferir-se porque não se tem o crânio construído exatamente da mesma maneira, começa a tornar-se a mais monstruosa das loucuras."


Émile Zola

Bom Domingo, bons amigos!

 


sábado, 26 de setembro de 2020

Boa noite, bons amigos!

 

De Miguel Torga:

 





Em termos absolutos, o homem é um valor imponderável, inteiro e perfeito como um dogma. Mas em termos relativos, sociais, o homem é o que vale para os seus semelhantes. E é na contradição de medida que vai de próximo a próximo que consiste o drama de ninguém conseguir ser ao mesmo tempo amado em Tebas e Atenas.


https://kdfrases.com/autor/miguel-torga

Feliz Domingo, meus amigos!


 

sexta-feira, 25 de setembro de 2020

Santa Teresinha do Menino Jesus

 

Teresa de Lisieux

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Disambig grey.svg Nota: "Santa Teresinha" redireciona para este artigo. Para outros significados, veja Santa Teresinha (desambiguação) ou Santa Teresa.
Teresinha do Menino Jesus
Santa Teresinha do Menino Jesus
Doutora da Igreja e Freira
Nascimento2 de janeiro de 1873 em Alençon,[1] Orne França
Morte30 de setembro de 1897 (24 anos) em LisieuxCalvados França
Nome nascimentoMarie-Françoise-Thérèse Martin
Nome religiosoIrmã Teresinha do Menino Jesus e da Santa Face
ProgenitoresMãe: Zélia Guérin
Pai: Luís Martin
Veneração porIgreja Católica
Beatificação29 de abril de 1923 por Papa Pio XI
Canonização17 de maio de 1925 por Papa Pio XI
Principal temploBasílica de Santa Teresa de Lisieux, França
Festa litúrgica1 de outubro
AtribuiçõesRosas
PadroeiraMissionários católicosFrançaRússia, floristas e jardineiros, contra perda dos pais, doentes de tuberculose e AIDS
Gloriole.svg Portal dos Santos

Teresa de LisieuxO.C.D., nascida Marie-Françoise-Thérèse Martin, conhecida como Santa Teresinha do Menino Jesus e da Santa Face, foi uma freira carmelita descalça francesa conhecida como um dos mais influentes modelos de santidade para católicos e religiosos em geral por seu "jeito prático e simples de abordar a vida espiritual". Juntamente com São Francisco de Assis, é uma das santas mais populares da história da Igreja.[2][3][4] O papa Pio X chamou-a de "a maior entre os santos modernos".[5]

Teresa recebeu cedo seu chamado para a vida religiosa e, depois de superar inúmeros obstáculos, conseguiu, em 1888, com apenas quinze anos, tornar-se freira para juntar-se às suas duas irmãs mais velhas na comunidade carmelita enclausurada em Lisieux, na Normandia. Depois de nove anos, tendo ocupado funções como sacristã e assistente da mestra das noviças, Teresa passou seus últimos dezoito meses numa "noite de fé" e morreu de tuberculose com apenas vinte e quatro anos de idade.

O impacto de sua "A História de uma Alma", uma coleção de seus manuscritos autobiográficos publicados e distribuídos um ano depois de sua morte foi tremendo e ela rapidamente tornou-se um dos santos mais populares do século XX. Pio XI fez dela a "estrela de seu pontificado",[6] beatificando-a em 1923 e canonizando-a dois anos depois. Teresa foi também declarada co-padroeira das missões com São Francisco Xavier em 1927 e nomeada co-padroeira da França (com Santa Joana d'Arc) em 1944. Em 19 de outubro de 1997, São João Paulo II proclamou Teresa a trigésima-terceira Doutora da Igreja, a pessoa mais jovem e a terceira mulher a ter recebido o título na época.[7]

Além de sua popular autobiografia, Teresa deixou também cartas, poemas, peças religiosas e orações. Suas últimas conversas foram também preservadas por suas irmãs. Pinturas e fotografias - a maioria de autoria de sua irmã Céline - ajudaram a aumentar ainda mais a popularidade de Teresa por todo o mundo.

De acordo com um de seus biógrafos, Guy Gaucher, depois de morrer "Teresa foi vítima de um excesso de devoção sentimental que acabou por traí-la. Foi vítima também de sua linguagem, que era a do fim do século XIX e que fluía da religiosidade de sua época". A própria Teresa disse, em seu leito de morte: "Eu amo apenas simplicidade. Tenho horror a pretensão". Ela também se manifestou contra o estilo de escrita de algumas vidas de santos publicadas na época, "Não devemos dizer coisas improváveis ou coisas sobre as quais nada sabemos. Devemos enxergar suas vidas reais e não imaginárias".[8]

A profundidade de sua espiritualidade, que ela qualificou como "toda de confiança e amor", inspirou muitos crentes. Confrontada com sua própria pequeneza e irrelevância, confiava em Deus para ser sua santidade. Queria ir para o céu de uma forma completamente diferente: "Quero encontrar um elevador que me eleve até Jesus" e o elevador, escreveu Teresa, eram os braços de Jesus retirando-a de toda a sua pequeneza.

A Basilica de Lisieux é o segundo mais popular destino de peregrinação na França depois do Santuário de Lourdes.[9]

Biografia[editar | editar código-fonte]

Família[editar | editar código-fonte]

Os pais de Teresa
Santa Zélie Martin. Em junho de 1877, Zélie viajou para Lourdes na esperança de ser curada, mas o milagre não ocorreu. "A Mãe de Deus não me curou por que meu tempo acabou e por que Deus deseja que eu descanse em outro lugar que não na terra".
São Louis Martin"Era um sonhador e incubador, um idealista e romântico... Para suas filhas, deu apelidos inocentes e ternos: Marie era seu 'diamante', Pauline, sua 'pérola nobre', Céline, 'a corajosa'... Mas Teresa era sua 'petit reine', a 'pequena rainha', a quem todos os tesouros pertenciam."[10]

Teresa nasceu na Rue Saint-Blaise,[11] Alençon, na França, em 2 de janeiro de 1873, filha da santa Marie-Azélie Guérin, chamada geralmente de Zélie,[12] uma bordadeira,[13] e do santo Louis Martin,[14] um joalheiro e relojoeiro,[15] ambos devotados católicos. Louis havia tentado se tornar um clérigo secular do Hospício do Grande São Bernardo, mas foi recusado por não conhecer nada de latim. Zélie, que tinha um temperamento forte e ativo, desejava servir aos doentes e também considerou dedicar-se à vida consagrada, mas a prioresa das clérigas regulares do Hôtel-Dieu (a "Santa Casa") de Alençon ignorou seu pedido.[16] Desapontada, aprendeu a bordar e teve muito sucesso, abrindo seu próprio negócio na própria rua Saint-Blaise[17] com apenas 22 anos.

Louis[18] e Zélie[19] se conheceram no início de 1858 e casaram-se em 13 de julho do mesmo ano na Basílica de Notre Dame de Alençon.[20] Ambos muito piedosos, levavam uma vida confortável. Decididos a princípio a viverem uma vida de irmãos, em perpétua abstinência, foram desencorajados por seu confessor e acabaram tendo nove filhos. Entre 1867 e 1870, perderam 3 bebês e Hélène, uma menina de cinco anos e meio. Todas as cinco meninas sobreviventes tornaram-se freiras depois:

  • Marie (22 de fevereiro de 1860), carmelita em Lisieux, rebatizada "irmã Maria do Sagrado Coração", morreu em 19 de janeiro de 1940.
  • Pauline (7 de setembro de 1861), tornou-se "Madre Agnes de Jesus" no Carmelo de Lisieux; morreu em 28 de julho de 1951.
  • Léonie (3 de junho de 1863), chamada "irmã Françoise-Thérèse", tornou-se uma visitandina em Caen; morreu em 16 de junho de 1941.
  • Céline (28 de abril de 1869), carmelita em Lisieux, rebatizada "irmã Geneviève da Santa Face", morreu em 25 de fevereiro de 1959.
  • Teresa (Thérèse), a caçula.

Zélie ganhou tamanha notoriedade com seus bordados[21] que, já em 1870, Louis havia vendido sua relojoaria[22] para um sobrinho e passou a ajuda-la na contabilidade e na logística do negócio[23].

Nascimento e sobrevivência[editar | editar código-fonte]

Logo depois de seu nascimento, em janeiro de 1873, eram poucas as esperanças de que Teresa sobreviveria. A enterite, que já havia levado quatro de seus irmãos, acometeu-a também e ela teve que ser entregue aos cuidados de uma enfermeira, Rose Taillé,[24] que já havia tratado antes duas crianças dos Martin. Ela tinha seus próprios filhos e não podia viver com a família e, por isso, Teresa foi morar com ela num bosque em Semallé.[25] Em 2 de abril de 1874, uma Quinta-Feira Santa, Teresa, com apenas 15 meses de vida e recuperada, voltou para sua família em Alençon. Durante toda sua infância, foi educada numa atmosfera profundamente católica, que incluia missas diárias às 5:30, estrita observância de jejuns e orações que seguiam o ritmo ditado pelo ano litúrgico. Os Martin praticavam também a caridade,[26] visitando doentes e idosos e ocasionalmente recebendo mendigos à mesa do jantar. Mesmo quando Teresa não se mostrava a garotinha "modelo" que suas irmãs depois fizeram crer, respondia bem a esta educação. Brincava frequentemente fingindo ser uma freira e chegou, certa vez, a desejar que sua mãe morresse pois desejava para ela a felicidade do Paraíso. Geralmente descrita como sendo uma criança feliz,[27] era também muito emocional e reclamava muito. Conta Gaucher: "Céline está brincando com a pequena com alguns tijolos... Tenho que corrigir a pobre bebê que faz assustadoras birras quando não consegue o que quer. Rola no chão em desespero acreditando que tudo está perdido. Às vezes tão inflamada que quase chega a engasgar. Ela é uma criança muito nervosa". Aos 22, já uma carmelita, Teresa admitiu: "Eu estava longe de ser uma garotinha perfeita".[28]

Em 28 de agosto de 1877, Zélie Martin morreu de câncer de mama com apenas 45 anos de idade. Seu funeral foi celebrado na basílica de Notre Dame de Alençon.[29] Desde 1865 ela já vinha reclamando de dores nos seios e, em dezembro de 1876, um médico contou-lhe sobre a gravidade do tumor. Na primavera do ano seguinte, sentindo a proximidade da morte, Zélie escreveu para Pauline: "Você e Marie não terão dificuldades para criá-la. Ela tem um comportamento tão bom. É um espírito escolhido." Teresa tinha apenas quatro anos e meio, mas a morte da mãe causou-lhe um impacto tamanho que ela afirmaria depois que "a primeira parte de sua vida acabou naquele dia""Todos os detalhes da doença de minha mãe ainda me acompanham, especialmente suas últimas semanas na terra" afirmou. Ela se lembrava do quarto onde Zélie, já moribunda, recebeu a extrema unção enquanto ela própria estava ajoelhada a seus pés e seu pai chorava. Continua o relato: "Quando mamãe morreu, minha postura alegre mudou. Eu era altiva e aberta; tornei-me retraída e irritadiça, chorando se alguém olhasse pra mim. Só ficava feliz quando ninguém me notava... Era apenas no seio de minha própria família, onde todos eram maravilhosamente gentis, que eu conseguia ser mais eu mesma".[30][31]

Três meses depois da morte de Zélie, Louis Martin deixou Alençon,[32] cidade onde passara sua juventude e se casara, e mudou-se para Lisieux, no departamento de Calvados, na Normandia, onde o irmão farmacêutico de Zélie, Isidore Guérin, vivia com sua esposa e duas filhas, Jeanne[33] e Marie. Em seus meses finais, tomada pela dor, Zélie havia abandonado seu negócio de bordados e, depois que ela morreu, Louis vendeu-o. Em seguida, alugou uma bela e espaçosa casa de campo, Les Buissonnets, que ficava num grande jardim na encosta de uma colina próxima da cidade. Lembrando do passado, Teresa considerava a mudança para Les Buissonnets como o início de "um segundo período da minha vida, o mais doloroso dos três: ele se estendeu dos meus quatro anos e meio até os quatorze anos de idade, a época em que redescobri a minha infância e passei para o período sério da vida".[34] Em Lisieux, Pauline assumiu o lugar da "mama" de Teresa - uma atribuição que levou bastante a sério - e as duas ficaram muito próximas. Teresa também se aproximou bastante de Céline, que era quase da mesma idade.

Infância[editar | editar código-fonte]

Teresa foi educada em casa até os oito anos e meio, quando entrou para a escola mantida pelas freiras beneditinas da Abadia de Notre Dame du Pré, em Lisieux. Em parte por conta da excelente educação que recebeu de Marie e Pauline, logo tornou-se a melhor de sua classe em todas as matérias, exceto redação e aritmética. Porém, por conta de sua pouca idade e das altas notas, era frequentemente provocada pelos colegas, principalmente por uma garota de quatorze anos que não ia bem. Muito sensível, Teresa sofreu muito e quase sempre chorava em silêncio, resignada. Para piorar, ela não gostava dos barulhentos jogos do recreio e preferia contar histórias ou cuidar dos mais pequenos do jardim de infância. Conta Teresa: "Os cinco anos que passei na escola foram os mais tristes da minha vida e, se minha querida Céline não estivesse lá comigo, não teria conseguido ficar lá por um mês sequer sem ficar doente". Segundo Céline"Na época, ela passou a gostar de se esconder;[35] não queria ser observada, pois se considerava, sinceramente, inferior".[36] Nos dias de folga, Teresa passou a se apegar cada vez mais a Marie Guérin, sua prima mais nova em Lisieux. As duas brincavam de ser anacoretas (monges ascetas e eremitas), como a grande Teresa fazia com seu irmão. E todas as tardes, mergulhava na vida familiar. "Felizmente eu podia ir para casa todas as tardes e daí me alegrava. Costumava pular no colo do papai para contar-lhe as notas que havia ganhado e, quando ele me beijava, esquecia de todos os meus problemas... Eu precisava tanto deste tipo de encorajamento." Apesar disso, a tensão desta vida dupla de auto-conquista diária cobrou um alto preço: ir para a escola foi se tornando cada dia mais difícil para Teresa.

Quando ela fez nove anos, em outubro de 1882, Pauline, que até então agia como sua "segunda mãe", entrou para o Carmelo de Lisieux e Teresa ficou devastada, pois compreendia que Pauline passaria para o claustro e as duas jamais se veriam novamente. "Eu disse nas profundezas do meu coração: perdi Pauline!". Porém, o choque reacendeu em Teresa a chama que se apagara com a morte de sua mãe e ela decidiu também se juntar às carmelitas, mas acabou descobrindo que era jovem demais. Ainda assim, Teresa impressionou Madre Marie Gonzague, a prioresa na época, de tal forma que ela escreveu para reconfortá-la, chamando Teresa de "minha futura filhinha".

Doença[editar | editar código-fonte]

Nesta época, Teresa estava frequentemente doente, sofrendo principalmente de tremores nervosos. Eles começaram certa noite depois que seu tio levou-a para uma caminhada e os dois começaram a falar de Zélie. Supondo que ela estaria apenas com frio, a família cobriu Teresa com cobertores, mas os tremores continuaram; ela cerrou os dentes e não conseguia falar. A família chamou um médico para tentar descobrir o que estava acontecendo.[37] Em 1882, Dr. Gayral diagnosticou que Teresa "reage às suas frustrações com um ataque neurótico".[38] Alarmada - e ainda enclausurada - Pauline começou a escrever cartas para Teresa e tentou intervir de diversas formas. Teresa finalmente se recuperou depois que se virou para fitar a imagem da Virgem Maria que ficava no quarto de Marie, para onde Teresa havia sido movida.[39] Segundo ela, em 13 de maio de 1883, a Virgem lhe deu um sorriso;[40][41] "Nossa Senhora Abençoada veio até mim, sorriu pra mim. Como estou feliz!".[42] Porém, quando Teresa contou às freiras carmelitas sobre sua visão a pedido de Marie, sentiu-se acuada por suas perguntas e perdeu a confiança recém-recuperada. A dúvida fez com que ela começasse a questionar sua própria experiência. "Eu achava que 'tinha mentido' - não conseguia mais olhar para mim mesma sem sentir um 'profundo horror'".[43] "Por um longo período depois da minha cura, acreditei que minha enfermidade havia sido deliberada e que aquilo era o martírio real para minha alma".[44] A preocupação de Teresa com o incidente continuaria até novembro de 1887.

Em outubro de 1886, Marie, sua irmã mais velha mais próxima, também entrou para o Carmelo, aumentando ainda mais o tormento de Teresa. A atmosfera calorosa em Les Buissonnets, indispensável para ela, estava lentamente desaparecendo. Agora apenas ela e Céline moravam com Louis e a tristeza constante de Teresa fizeram com que seus amigos acreditassem que ela tinha um "caráter fraco", uma opinião compartilhada pelos Guérin.

Teresa sofria também de escrúpulos[a], uma condição psicológica compartilhada por outros santos como Afonso de Ligório (também um Doutor da Igreja) e Inácio de Loyola, o fundador da Companhia de Jesus. Conta ela: "Seria necessário passar por este martírio para entendê-lo bem e, para mim, exprimir o que passei por um ano e meio seria impossível".[45]

Conversão completa: Natal de 1886[editar | editar código-fonte]

Casas onde viveu Teresa
Casa onde nasceu Teresa em Alençon. Atualmente é uma capela e um santuário em homenagem a Santa Teresinha.
Casa de campo conhecida como Les Buissonnets, em Lisieux, onde Teresa passou boa parte da infância antes de entrar para o Carmelo.

véspera de Natal de 1886 foi um ponto de inflexão na vida de Teresa, um evento que ela chamou de "conversão completa". Anos depois, ela afirmou que foi naquela noite que finalmente superou as pressões que vinha enfrentando desde a morte de sua mãe e completou "Deus fez um pequeno milagre para me fazer crescer num instante. Naquela abençoada noite....Jesus, que achou por bem fazer-se uma criança por amor a mim, achou também por bem tirar-me das faixas [de bebê] e imperfeições da infância.".[46]

Naquela noite, Louis Martin e suas filhas, Léonie, Céline e Teresa, tinham ido à missa da meia-noite na catedral em Lisieux - "mas havia pouca disposição na família". Em 1 de dezembro, Léonie, coberta de eczemas e escondendo o cabelo sob uma mantilha, retornou para Les Buissonnets depois de apenas sete semanas experimentando o duro regime das clarissas em Alençon e suas irmãs tentavam a todo custo ajudá-la a superar a sensação de fracasso e humilhação que ela sentia. Em casa, Teresa, "como era o costume das crianças francesas, deixou um sapatinho vazio na lareira esperando presentes, não do Papai Noel, mas do Menino Jesus, que, acreditava-se, chegaria voando trazendo presentes e bolos".[47] Enquanto subia as casas, ouviu seu pai, "talvez exausto pelo horário ou cansado das inesgotáveis demandas de sua chorosa filha caçula", dizer a Céline: "Bem, felizmente este será o último ano!" Teresa começou a chorar e Céline recomendou que ela não descesse novamente naquele momento. Então, repentinamente, Teresa se recompôs, enxugou as lágrimas, desceu correndo e, ajoelhando-se perto da lareira, abriu seus presentes tão alegremente quanto nos anos anteriores. Em seu relato, nove anos depois, em 1895, ela conta: "Num instante, Jesus, contente com minha boa vontade, realizou o que eu não fora capaz de realizar em dez anos". Depois de nove tristes anos, ela havia "recuperado a força da alma que perdera" quando sua mãe morreu e, continua Teresa, "que permaneceria com ela para sempre". Ela redescobriu a alegria no auto-esquecimento e acrescentou: "Eu senti, numa palavra, caridade entrar no meu coração, a necessidade de esquecer-me de mim para fazer os outros felizes - desde esta abençoada noite, nunca mais fui derrotada numa batalha, mas, ao invés disso, fui de vitória e vitória e comecei a falar, a 'percorrer a carreira do herói'" (uma referência a Salmos 19:5).

Análises do evento[editar | editar código-fonte]

O caráter de Teresa e as forças que delinearam sua personalidade em sua juventude tem sido tema de diversas análises, especialmente em anos recentes. Com exceção do médico da família, que a observou no século XIX, todas as demais conclusões são inevitavelmente especulativas. Por exemplo, a autora Ida Friederike Goerres, cujos estudos formais se focaram na história da igreja e em hagiografias, escreveu um livro que se propôs a realizar uma análise psicológica do caráter da santa. Sobre o Natal de 1886, diz Goerres que "Teresa instantaneamente reconheceu o que havia acontecido com ela quando conquistou esta pequena e banal 'vitória' sobre sua sensibilidade, um fardo que carregou por tanto tempo... ela havia recebido a garantia de uma liberdade que todos os seus esforços haviam sido incapazes de conquistar. Um longo e doloroso período de crescimento que durara quase dez anos estava finalmente encerrado;... a liberdade era simplesmente olhar para além de si...e o fato que uma pessoa poder rejeitar a si própria revela novamente que a 'vitória' é graça pura, um presente inesperado...Ela não pode ser coagida, só pode ser recebida pelo coração pacientemente preparado".[48] Tanto ela quanto outros autores sugerem ainda que Teresa manteve um aspecto fortemente neurótico em sua personalidade por quase toda a vida.[49][50][51][52]

Uma biógrafa recente, Kathryn Harrison, concluiu que "seu temperamento não admitia comprometimentos ou moderação...uma vida gasta não domando, mas dirigindo seu apetite e sua vontade, uma vida provavelmente encurtada pela força de seu desejo e sua ambição".[53] Harrison afirma, sobre a iluminação de Teresa, que "afinal de contas, no passado ela já havia tentado se controlar, havia tentado com todas as suas forças e fracassado. Graça, alquimiamasoquismo: seja qual for a lente que utilizemos para avaliar sua transposição, a noite de iluminação de Teresa revela tanto seu poder quanto seus perigos. Ela guiaria seus passos entre o mortal e o divino, entre os vivos e os mortos, entre a destruição e a apoteose. A levaria exatamente para onde ela pretendia ir".[54]