segunda-feira, 15 de março de 2021

Texto de Luís Osório!

 

POSTAL DO DIA
O Papa Francisco dançou um tango com o vazio numa Praça de São Pedro que não o aplaudiu no fim
1.
Foi uma imagem impressionante que me ficará para sempre.
Faz nesta Páscoa um ano.
O Papa Francisco falou para uma Praça de São Pedro vazia, falou para dentro de nós, católicos e não católicos, falou como se já não fosse daqui – como se fosse um espírito com a capacidade de nos fazer chegar a mensagem que precisamos de ouvir. Ou então o contrário, como se fosse o único vivo num mundo vazio, corrompido, morto.
2.
O jesuíta Francisco abençoou a tempestade em que nos tornámos. E não pareceu admirado quando a chuva começou a desabar num prenúncio de dilúvio. Abençoou a tempestade antes de a denunciar. Afinal, o mundo já estava doente antes da doença. Já estávamos contaminados antes da contaminação. Já estávamos vulneráveis antes da vulnerabilidade.
3.
Vimos Francisco sozinho com o vazio à volta, mas pareceu-me mais confortável do que nunca, confortável numa lentidão que surgiu aos nossos olhos tão veloz como uma chita. Francisco nunca foi tão lento a dizer o que tinha a dizer e nunca chegou tão rápido ao centro do que somos.
4.
Francisco, antes de nos virar costas (e ao vazio em que estamos) apelou a que o mundo aproveitasse esta oportunidade. Apelou a que aceitássemos um bilhete para um lugar onde possamos voltar a tentar ser a nossa melhor versão.
5.
O Papa Francisco é argentino. Dançou um tango com o vazio numa praça de São Pedro que não o aplaudiu no fim. Foi utópico, quase louco no que nos pediu. Mas fez o que precisava que fosse feito. Disse-me as palavras que precisava que fossem ditas naquele dia inesquecível em que estive sem estar na Praça de São Pedro.
Estive mesmo à tua frente, querido Jorge, mesmo à frente das palavras que transformaste num vírus. E estou pronto a ir contigo se me quiseres levar à pesca.
LO
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