MULHER, MULHERES (4)
MARIA HELENA MAGRO (1923 - 1956) viveu praticamente toda a vida na clandestinidade. Consciente da situação desigual entre homens e mulheres e das discriminações por estas sofridas, (incluindo no seio partidário), foi uma infatigável defensora da igualdade de direitos e uma defensora da integração das mulheres no trabalho político como forma de emancipação. Em meados de 1945, após a Segunda Guerra Mundial, com apenas 22 anos de idade, aceita o convite para funcionária clandestina do PCP. O curso de Direito, de que era destacada aluna, fica incompleto. Depois de onze anos de clandestinidade sem nunca ser presa, vem a falecer em 1956, devido a dificuldades de assistência imediata, num parto difícil. Sabe-se que foi simultaneamente um quadro técnico e político do PCP.
MARIA HELENA MAGRO (1923 - 1956)
Viveu, lutou e morreu na clandestinidade. Consciente da situação desigual entre homens e mulheres e das discriminações por estas sofridas, (incluindo no seio partidário), foi uma infatigável defensora da igualdade de direitos e uma defensora da integração das mulheres no trabalho político como forma de emancipação. Em meados de 1945, após a Segunda Guerra Mundial, com apenas 22 anos de idade, aceita o convite para funcionária clandestina do PCP. O curso de Direito, de que era destacada aluna, fica incompleto. Depois de onze anos de clandestinidade sem nunca ser presa, vem a falecer em 1956, devido a dificuldades de assistência imediata, num parto difícil. Sabe-se que foi simultaneamente um quadro técnico e político do PCP.
1. Filha de Francisco Magro (1896-1946) e de Flora Alves Magro ; irmã de João e José Alves Tavares Magro; cunhada de Aida Magro (1918-2011). Maria Helena Alves Tavares Magro nasceu no primeiro dia de Janeiro de 1923, em Lisboa, na freguesia de Santos-o-Velho. Filha de Francisco Félix Tavares Magro e de Flora Carlota Alves. Emancipada pelo pai aos 18 anos, desde muito cedo se envolveu na luta social e política, primeiro no bairro de Alcântara, onde viveu até aos 22 anos e depois, quando entrou para a Faculdade de Direito no ano lectivo 1940/41, nas lutas académicas que então ocorreram contra o aumento das propinas.
Boa aluna, Maria Helena Magro sempre «alcançou nas escolas altas classificações que lhe permitiram ganhar a isenção de matriculas e vários outros prémios». Frequentou o Liceu Filipa de Lencastre [onde Alda Nogueira se tornou sua amiga inseparável]. Matriculou-se na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa no ano lectivo de 1940/41 e participou nas greves académicas de 1941.
Militante do PCP desde 1943, Helena Magro frequentava o 4.º ano (1945) quando foi incentivada pelo irmão José a integrar os quadros clandestinos do Partido ["no pequeno jardim defronte da Casa da Moeda", naquele que seria o último encontro entre ambos]. Aluna com elevadas classificações, deixou então o curso por concluir e viveu durante onze anos na clandestinidade, sem nunca ser presa.
2. Na clandestinidade tornou-se companheira de Joaquim Pires Jorge (1907-1984), de cuja união nasceu a filha Clara. Na clandestinidade desempenhou tarefas politicamente importantes, nomeadamente na redacção do jornal O Camponês, colaborando regularmente no jornal Avante, no Militante (boletim teórico); e no jornal clandestino A Voz das Camaradas, onde tinha uma colaboração "com grande sentido pedagógico" (1). O seu último artigo, sobre “A Importância da Cultura Geral”, data de Novembro de 1956. [Assinava com o pseudónimo Manuela, e em O “Militante” assinava com o nome de Clara].
Em Dezembro de 1956, em vésperas de completar 34 anos, morreu no hospital por complicações de parto do segundo filho.
Margarida Tengarrinha, nos livros Quadros da Memória e Memórias de uma Falsificadora, evoca a comoção deste desenlace, que acompanhou porque Pires Jorge se encontrava então em sua casa, e Helena Magro, que nunca conheceu pessoalmente, tivera enorme importância na sua adaptação à vida clandestina (2). Aquando da morte de Maria Helena Magro, José Dias Coelho escreveu no jornal Avante! palavras sentidas e o seu retrato em gravura, da autoria de Margarida Tengarrinha, iria ser publicado no número de Abril de 1961 de A VOZ DAS CAMARADAS das casas do partido.
Com cerca de dois anos de idade, Clara, foi entregue à família da mãe e criada pelo tio João Luís e pela avó Flora Magro que, durante vinte e três anos consecutivos, em condições inimagináveis, andou a caminho das cadeias políticas para visitar o filho (José Magro), a nora (Aida Magro) ou o genro (Pires Jorge), encarcerado entre 1961 e 1971, a quem levava a filha nas visitas de fim-de-semana ao Forte de Peniche (3).
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3. Júlia Coutinho, no seu blogue “As Causas da Júlia”, evocou Helena Magro, em 2009, na data em que completaria 86 anos de idade, num artigo que dá bem a dimensão politica e intelectual desta mulher, que morre com 33 anos:
«Com o irmão José e a cunhada Aida, a que se juntam outros jovens da zona como «Mário Castrim» e Alda Nogueira desenvolvem intensa actividade na freguesia de Alcântara e arredores: pedem livros e fundam uma biblioteca, organizam bailes e quermesses para realização de fundos, angariam roupas e medicamentos para apoio aos presos políticos e famílias» (4). (...) Consciente da situação desigual entre homens e mulheres e das discriminações por estas sofridas, incluindo no seio partidário, foi uma infatigável defensora da igualdade de direitos e uma defensora da integração das mulheres no trabalho político como forma de emancipação. Assim, em Maio de 1948 escrevia no boletim 3 Páginas (que antecedeu A Voz das Camaradas), dando-se como exemplo, na tentativa de incutir nas funcionárias comunistas o gosto pelo trabalho político, para além da principal tarefa da guarda das casas clandestinas» (5).
Notas:
(1) O último artigo que escreveu, «A Importância da Cultura Geral», foi publicado em A Voz das Camaradas de Novembro de 1956. Nele faz um apelo ao estudo abrangente e metodológico de forma a que os comunistas assimilem os conhecimentos humanos acumulados ao longo dos anos, enriquecendo a memória e desenvolvendo o sentido crítico, concluindo: «O dia virá em que outras tarefas nos serão confiadas e nessa altura todos os conhecimentos que agora vamos adquirindo nos serão preciosos. Por isso não podemos deixar passar os anos, uns após outros, sem aproveitar utilmente o tempo que não volta. (...) O estudo auxiliar-nos-á a assimilar o marxismo, tal como o marxismo nos ajuda a fazer um estudo sério e útil das outras ciências.»
(2) «Sem a ter conhecido, tinha-me tornado sua amiga, pois o Pires Jorge apercebera-se das minhas dificuldades de adaptação à vida clandestina, assim como a angústia pelo estado de saúde da minha mãe, e começou a trazer-me cartas de uma camarada (não disse ser sua companheira) que demonstravam uma grande solidariedade e compreensão pêlos meus problemas, dizendo que também tinha passado por dificuldades semelhantes. Palavras que me ajudaram a ultrapassá-las. A partir daí mantivemos uma troca de correspondência que me ajudou muito, pois a Helena Magro, além de inteligente, era uma mulher de grande sensibilidade. Foi depois da sua morte que Pires Jorge me disse que era ela a minha correspondente, de quem me tinha tornado grande amiga. Saber que ela era a minha amiga desconhecida ainda me fez lamentar mais a sua perda. Chorámos juntos e o Zé escreveu sobre ela umas palavras que, anos mais tarde, transcrevi (…) no Avante de Janeiro de 1962» Margarida Tengarrinha, MEMÓRIAS DE UMA FALSIFICADORA, Edições Colibri, 2018.
(3) «Flora Magro contou-me que teve sempre alguém da família nas prisões, pois chegou a ter o filho, José Magro, em Peniche, a nora Aida Magro em Caxias; e o genro Pires Jorge, depois da prisão deste em Dezembro de 1961, no Aljube, tendo a seguir passado para Caxias e acabando por cumprir pena em Peniche. D. Flora dizia, sorrindo, que essa tinha sido a sua Via Sacra. Foram vinte e três anos a correr de uma prisão para outra. Criou duas netas, Manuela, filha de José e Aida Magro e a Clarinha, filha de Pires Jorge e de sua filha Maria Helena Magro.
Sofreu o mais terrível choque, que a deixou arrasada, quando teve a notícia de que a sua filha Maria Helena, há vários anos na clandestinidade, tinha morrido num hospital na sequência de uma gravidez muito difícil. Soube-o três meses passados, sem ao menos ter podido vê-la, numa última despedida.» - Margarida Tengarrinha, Memórias de uma Falsificadora - a Luta na Clandestinidade pela Liberdade em Portugal, Ed. Colibri, 2018.
(4) «Conta-nos Aida Magro a estratégia utilizada para conseguirem o apoio do padre da freguesia: a cedência do espaço em troca de uma parte dos lucros para a paróquia. Ousados, chegam a convidar a mulher de Carmona para inaugurar uma das quermesses; a senhora não comparece mas contribui com uma nota de 100 escudos, o que para a época era uma fortuna». Júlia Coutinho, em As Causas da Júlia, http://ascausasdajulia.blogspot.pt/.../lembrando-maria...
(5) «Tenho a meu cargo, entre outras tarefas, a do recorte dos jornais: recorto os artigos sobre a vida nacional e internacional que têm maior interesse, e vou-os catalogando conforme os assuntos: Assembleia Nacional, Organização Corporativa, etc. Colo depois estes artigos, com indicação da data e nome do jornal, em folhas que entram nas secções respectivas. Assim, os camaradas podem encontrar facilmente as noticias e dados concretos de que precisem para o seu trabalho. Esta leitura cuidada do jornal, que todas nós devíamos fazer diariamente, tomando-a como uma tarefa partidária, é muito útil porque alarga o nosso conhecimento sobre as condições de vida do povo, política salazarista, política internacional, etc.» e, lembrando que nem todas sabem ler e escrever, diz ainda: «Acho que este trabalho podia ser feito por todas as amigas que leiam facilmente. (...) A nossa instrução politica é uma tarefa que não devemos esquecer.» (...) As amigas que não sabem ainda ler ou lêem com dificuldade, devem colocar aos camaradas da casa, muito seriamente, a tarefa de auxiliá-las, porque saber ler faz muita falta, camaradas. (...) Fora das fileiras partidárias, Helena Magro recorda as palavras de Lenine: «esquecendo as mulheres, é impossível interessar as massas pela política», para defender, num documento da sua autoria, que a «palavra de ordem que mobilizará as mais amplas massas femininas é a luta pela Paz» porque «a luta pela Paz é comum a todas as camadas, a todas as classes, une as pessoas de todas as ideologias e crenças.» Reconhecendo que em todos os campos - económico, social, político e jurídico - as mulheres têm reivindicações específicas a apresentar e advogando a criação de «uma organização feminina nacional, legal, que defenda as justas reivindicações da mulher em todos os campos», Helena Magro salienta, por outro lado, a necessidade de homens e mulheres se manterem lado a lado na luta por interesses comuns.
Através do referido 3 Páginas, de Maio de 1948, ficamos a saber como foi o início da sua vida na clandestinidade. «Quando eu vim, nos primeiros meses senti-me deslocada: não conhecia o camarada, a vida era muito diferente da que eu tivera, e também daquela que eu julgara vir encontrar e, principalmente, tinha um medo muito grande de não acertar, de não conseguir ser útil ao Partido. Mas tudo isso passou já e não esqueço o que o nosso jornal contribuíu para isso». O camarada a que alude é Joaquim Pires Jorge, que foi o seu companheiro de vida.» - Júlia Coutinho, em http://ascausasdajulia.blogspot.pt/.../lembrando-maria...
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Fontes:
Margarida Tengarrinha, Memórias de uma Falsificadora - a Luta na Clandestinidade pela Liberdade em Portugal, Ed. Colibri, 2018.
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Biografia da autoria de Helena Pato
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Retrato da autoria de Margarida Tengarrinha, publicado em A Voz das Camaradas, em 1956, por ocasião do falecimento de Maria Helena Magro..
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