"As minhas palavras têm memórias ____________das palavras com que me penso, e é sempre tenso _________o momento do mistério inquietante de me escrever"
domingo, 5 de outubro de 2014
A Problemática situação, em HONG-KONG
Governo de Hong Kong quer pôr fim aos protestos até segunda-feira
ANA GOMES FERREIRA
04/10/2014 - 10:27
(actualizado às 15:58)
Estudantes avançam com mais uma proposta de diálogo. Manifestantes dizem a Pequim que não está em curso uma revolução. Dezenas de milhares de pessoas nas ruas. O território chinês está no fio da navalha.
Há cada vez mais manifestantes no bairro financeiro, junto ao qual está a sede do governo
PHILIPPE LOPEZ/AFP
1 / 5
Showing image 1 of 5
36
TÓPICOS
Hong Kong
China
MAIS
Estudantes cancelam diálogo com governo em Hong Kong
Chefe do governo de Hong Kong negoceia mas não se demite
Milhares de pessoas continuam no centro de Hong Kong após noite tensa
Governo diz que contestação estudantil é “ilegal”
Polícia de Hong Kong prende manifestantes pró-democracia que ocuparam a sede do governo
Pode ser na noite deste sábado. Pode ser domingo. Mas o governo de Hong Kong vai pôr fim ao protesto pró-democracia que, desde há uma semana, paraliza a vida neste território chinês. Um sinal de que poderá haver uma acção policial surgiu numa declaração do chefe do governo local, Leung Chun-ying, que anunciou que os edifícios públicos e as escolas "têm de" reabrir na segunda-feira.
Outro sinal surgiu no Diário do Povo, jornal do Partido Comunista Chinês, onde ontem foi declarado apoio à polícia de Hong Kong e, pela primeira vez, a revolta neste território foi tratada como um problema político, não apenas de segurança — qualquer ideia de importar “uma revolução colorida” para a China continental a partir de Hong Kong é “pura fantasia”, lê-se no jornal onde se defende o uso de gás lacrimogéneo contra os manifestantes. “Face aos manifestantes que ignoram as ordens da polícia, que se precipitam para transgredir os cordões de segurança, e que querem atingir os polícias com os seus guarda-chuvas (...) a polícia não tem outra alternativa senão usar o gás lacrimogéneo”.
Pequim receia o efeito de contaminação da revolta de Hong Kong a outros territórios, mas tem hesitado na estratégia a aplicar para travar a contestação.
A certeza de que algo se preparava veio do antigo deputado do Partido Democrático de Hong Kong Law Chi-Kwong, que, falando para os líderes da contestação — o movimento Occupy Central e associações de estudantes universitários e de liceu —, disse que os manifestantes estavam “numa situação muito perigosa” que devia ser resolvida “com brevidade”.
O protesto decorre em vários bairros, mas os organizadores convocaram os apoiantes para uma grande concentração, esta noite, no Admiralty, o centro financeiro do território e onde está a sede do governo. Ao Admiralty afluiram dezenas de milhares de pessoas. “Paz. Não à violência”, gritaram os manifestantes.
Benny Tai, do Occupy Central, falou à multidão e respondeu ao Governo de Pequim: “Isto não é, de todo, uma revolução”, é “um movimento iniciado pela sociedade civil”.
Já os estudantes mostraram que ouviram as palavras do ex-deputado do Partido Democrático. Já passava da meia-noite de sábado e a Federação de Estudantes emitiu um comunicado propondo o regresso ao diálogo mas com condições: recusam falar com Leung, cuja demissão exigem há vários dias, e exigem uma investigação à actuação da polícia.
O protesto que começou há uma semana tem na sua origem a eleição do próximo chefe do governo, em 2017. O Governo de Pequim aceitou a realização — pela primeira vez no território — de eleições por sufrágio universal, mas escolhendo os candidatos. A campanha de desobediência civil contra esta decisão começou a 22 de Setembro e agudizou dias depois, quando os manifestantes cercaram a sede do governo e a polícia respondeu com gás lacrimogéneo. A multidão não dispersou. Pelo contrário, o protesto ganhou dimensão.
A contestação forçou o encerramento dos serviços da administração pública, de lojas, de restaurantes. Apesar de queixas por parte de alguma população e dos comerciantes, o protesto manteve-se pacífico até sexta-feira, quando grupos organizados atacaram os activistas. O Occupy Central denunciou tratar-se de elementos da máfia chinesa pagos pelas autoridades (de Hong Kong e de Pequim) para gerarem a violência e justificarem a repressão. E acusou a polícia de ter ficado de braços cruzados perante a acção destes grupos.
“Um grupo de homens e mulheres atacaram-nos e destruíram os nossos mantimentos. Tive medo que ferissem os estudantes, mas eles disseram-me para não ter medo porque se ficássemos todos juntos nos protegeríamos uns aos outros”, disse ontem uma manifestante ouvida pelo jornal independente de Hong Kong South China Morning Post.
Sábado, a polícia deteve 19 pessoas ligadas aos actos de violência que, na sexta-feira, levaram os líderes estudantis a cancelar um anunciado encontro com representantes do governo. Entre os detidos, e segundo as próprias autoridades, estão oito suspeitos de pertencerem às tríades.
O governo local ainda não respondeu ao novo apelo de diálogo dos estudantes, que anteriormente disseram pretender discutir apenas um ponto: o processo eleitoral de 2017. Um tema que Leung já disse não ser negociável.
Hong Kong estava, sábado à noite, no fio da navalha, com os manifestantes irredutíveis e Leung a ter que decidir o que fazer perante o mar de gente que se concentrou à porta da sede do seu governo.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário