terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Dos ESTADOS UNIDOS...


Reviver o passado nos EUA com os Bush e os Clinton


ALEXANDRE MARTINS

29/12/2014 - 09:08


O cenário de uma corrida à Presidência entre Hillary Clinton e Jeb Bush começa a ser tão inevitável quanto peculiar. Não haverá mais do que duas famílias na América por onde escolher o Presidente?





Hillary Clinton ainda não anunciou a sua candidatura
REUTERS





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As sondagens indicam que os eleitores norte-americanos querem uma mudança em Washington. Estão fartos de políticos que não dialogam, que defendem os seus próprios interesses e que deixam para segundo plano o bem comum. Querem sangue novo a correr nas veias da capital, nas paredes do Congresso e na Sala Oval da Casa Branca. Os próximos meses vão ser um teste a essa determinação, com o tiro de partida para uma das corridas à Casa Branca mais paradoxais das últimas décadas: o sangue novo que muitos reclamam parece correr, afinal, nas veias de dois velhos nomes que têm dominado a vida política norte-americana desde 1980.


O sinal de que o futuro dos EUA está cada vez mais perto de uma espécie de regresso ao passado chegou no dia 16 de Dezembro, através das redes sociais. Numa linguagem que não precisa de um tradutor especial do Google para descodificar mensagens políticas, o antigo governador da Florida Jeb Bush lançou a sua candidatura através do Facebook e do Twitter. Tentando evitar confrontos com palavras inequívocas, o irmão do antigo Presidente George W. Bush e filho do antigo Presidente George H. W. Bush acabou por apontar o caminho que pretende seguir para chegar à Casa Branca em Novembro de 2016: “Decidi explorar activamente a possibilidade de concorrer a Presidente dos Estados Unidos.”



Não foi propriamente uma surpresa, mas o facto de um candidato forte ter aberto tão cedo a porta à sua eventual disponibilidade (utilizando a linguagem cuidada deste tipo de comunicados) indica que Jeb Bush quer passar à frente de todos os outros possíveis candidatos pelo Partido Republicano, colocando-se no primeiro lugar da fila para a entrada na festa dos apoios e para abrir as generosas bolsas de potenciais financiadores.

Quanto a Hillary Clinton, ex-senadora, ex-secretária de Estado no primeiro mandato de Barack Obama e mulher do antigo Presidente Bill Clinton, restam poucas dúvidas, principalmente depois do avanço de Jeb Bush – se do lado do Partido Democrata o seu nome continua numa solidão de fazer dó no topo das preferências, a entrada em cena de um Bush poderá ter o condão de unir ainda mais os democratas, que querem continuar a ocupar a Casa Branca.

O cenário de uma corrida à Presidência entre Hillary Clinton e Jeb Bush começa a ser tão inevitável quanto peculiar, como se constata através da leitura desse verdadeiro barómetro da política norte-americana: os guiões dos humoristas.

Em Novembro, Andy Borowitz, autor do blogue Borowitz Report, associado à revista The New Yorker, pontuava essa possibilidade com sarcasmo: “Os Estados Unidos da América, uma nação com uma população de aproximadamente 300 milhões de pessoas, aceitam totalmente o facto de que o próximo Presidente dos Estados Unidos só poderá ser seleccionado de entre duas famílias.”

Citando um cidadão imaginário chamado Stoddard Vinton, o humorista expunha a influência dos Bush e dos Clinton na vida política norte-americana nas últimas três décadas: “Não há dúvida de que há muitas pessoas qualificadas para ocuparem o cargo de Presidente. Mas penso que o sistema de escolhermos pessoas de apenas duas famílias tem resultado bastante bem.”

A ideia de uma corrida Bush/Clinton incomodou até a antiga primeira-dama Barbara Bush. Em Janeiro de 2014, numa entrevista ao canal C-SPAN, a mulher e mãe de dois presidentes foi contundente quando questionada sobre se achava que há lugar para um outro Bush na Casa Branca: “Os Estados Unidos são um grande país. É um bocado pateta se não conseguirmos encontrar mais do que duas ou três famílias para concorrerem a altos cargos.”

Nas últimas oito eleições para a Presidência dos Estados Unidos, entre 1980 e 2012, o nome Bush apareceu em cinco delas, como candidato a Presidente ou a vice-presidente.

O primeiro dos presidentes Bush, George Herbert Walker, foi vice-presidente nos dois mandatos de Ronald Reagan, entre 1980 e 1988. Findo o trabalho na sombra, Bush assumiu o poder nas eleições de 1988, mas acabaria por falhar a reeleição em 1992. Seria preciso esperar 12 anos até que o seu filho, George Walker, voltasse a inscrever o nome Bush na lista dos presidentes norte-americanos, de 2000 a 2008.

Os dois mandatos que separaram Bush pai e Bush filho foram ocupados por Bill Clinton, entre 1992 e 2000. Em 2008, o “Yes, we can” de Barack Obama, que acabaria por tomar conta do país, teve de derrotar o “Yes, we will” que Hillary Clinton repetiu durante uma acção de campanha nas primárias desse ano, no estado do Ohio.

Ao todo, os nomes Bush e Clinton dormiram e trabalharam no centro do poder em Washington durante 28 anos consecutivos – como Presidente na Casa Branca; como vice-presidente na residência oficial no Observatório Naval dos Estados Unidos, também na capital norte-americana.

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