terça-feira, 30 de dezembro de 2014

DO BLOG aventar.eu


Um homem não faz uma percentagem
30/12/2014 por António Fernando Nabais 3 Comentários

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Morreu um homem no Hospital de São José, depois de ter estado seis horas à espera de ser atendido. Não sei se terá morrido por ter estado seis horas à espera de ser atendido, porque nem sempre o que é posterior é consequência.

Recentemente, o tempo de espera nas urgências dos hospitais aumentou. Diante de uma frase destas, a única solução razoável é ser-se ingénuo e perguntar: mas uma urgência não implica, exactamente, que o tempo de espera diminua e rapidamente? Se isso não acontece, de quem é a culpa (quando algo põe em causa a saúde das pessoas, só se pode usar a palavra culpa)?

A verdade é que os profissionais de saúde continuam a fazer referência à falta de recursos humanos nos hospitais e centros de saúde. Recentemente, o Hospital de Amadora-Sintra foi autorizado pelo governo a angariar médicos recorrendo a manobras que oscilam entre o leilão e a negociação, quando qualquer hospital deveria ter pessoal suficiente para cobrir as necessidades e não dedicar-se a tapar buracos em ocasiões de maior aperto.

Não tenho a sorte de ter a certeza de que haverá vida para além da morte. Depois da morte, apenas a morte está garantida e antes dela nem a vida é certa. Acredito em poucos milagres ou talvez num único: a vida de cada indivíduo é sagrada e, portanto, a vida de uma única pessoa é uma religião. Se há gente a adoecer ou a morrer por incompetência, descubramos os incompetentes e não esperemos por castigos no Além, porque há o enorme risco de não existirem.

Um filho descobriu o pai morto numa maca de um hospital, depois de estar seis horas à espera de ser atendido numa urgência. Espero que isto não se deva às medidas de mais um governo tenebroso, porque não desejo nem a um ministro o peso na consciência de ter contribuído para a morte de alguém. De qualquer modo, a julgar por exemplares comoLuís Montenegro ou Carlos Abreu Amorim, poderá haver peso, consciência não: foi só um homem que morreu e um homem não faz uma percentagem.

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