segunda-feira, 14 de agosto de 2023

Extracto da WIKIPÉDIA sobre FILIPE III de Espanha----IV de PORTUGAL

 





Guerra da Restauração

Em 1640, uma conspiração liderada pela nobreza proclamou o Duque de Bragança como rei João IV de Portugal, derrubando o governo do monarca espanhol em Lisboa e dando início à Guerra de Restauração. O início da guerra foi complicado para D. Filipe, tendo que lidar não só com Portugal, como também com as revoltas na Catalunha.[39]

Em 1659, o rei espanhol assinou o Tratado dos Pirenéus, concentrando os recursos da monarquia hispânica em reconquistar o território rebelde. Nesse momento a Espanha estava em paz com a França, Inglaterra e os Países Baixos, restando apenas o conflito com Portugal. Dessa forma, muitas medidas foram tomadas, como o aumento de impostos, a desvalorização da moeda e as transferências de tropas de Flandres e Itália para a fronteira com Portugal. Ainda assim, Portugal conseguiu vencer a Guerra, com cinco grandes vitórias contra os espanhóis e seus apoiantes: Batalha de Montijo (1644), Batalha das Linhas de Elvas (1659), Batalha de Ameixial (1663), Batalha de Castelo Rodrigo (1664) e Batalha de Montes Claros (1665).[40]

Filipe IV e o Brasil

Episódio decisivos na Insurreição Pernambucana, são consideradas a origem do Exército Brasileiro. MEIRELLES, Victor. Batalha dos Guararapes. 1875-1879. Óleo sobre tela, 500 x 925 cm.

A ligação entre o Brasil e a Coroa Espanhola, assim como a monarquia de Filipe IV, estabeleceu-se de forma sutil e secundária. A “marginalidade” atribuída à área se expressou nos escritos dos próprios moradores do território entre os séculos XVI e XVII quando mencionaram a falta de ajuda da coroa da Espanha, assim como a ausência de registros das atividades que foram desenvolvidas ali na América e a curta menção do território nos documentos que relacionavam o peso da monarquia de Filipe no resto do mundo.[41]

Para além disso, o testamento de seu pai, Filipe III, apesar de numerar suas diversas possessões territoriais, não incluía as terras brasileiras. Inclusive, era compreendido pela Coroa portuguesa e por aqueles que realizavam a ocupação das terras que, antes e durante o domínio Habsburgo, o Brasil era pouco importante.[42]

O processo de expansão espanhol, iniciado a partir de 1560 se estendeu até a segunda década do século XVII, consolidou-se com a expulsão de franceses e holandeses, em decorrência de inúmeros conflitos como a famosa Batalha de Guararapes e com a derrota dos grupos indígenas que resistiram.[43]

Como herança do governo de Filipe IV, em comparação aos anteriores, obteve-se o domínio de boa parte da faixa litorânea brasileira, ou seja, as terras desde a capitania de São Vicente no Sul até a capitania do Pará no Norte; dobrou-se o número de centros urbanos; houve significativo crescimento dos engenhos de cana-de-açúcar e por fim, a facilidade inicial em obter terras e escravos indígenas, coisa que, posteriormente, se complicara devido a necessidade de substituir a mão de obra indígena pela negra, que era mais lucrativa.[44]

Foi um período de grande desenvolvimento para a colônia e prosperidade para os senhores de engenho. A demanda europeia pelo açúcar, um dos grandes produtos comerciais da época, garantia mercados e preços crescentes para a produção.[45]

A fase de combate contra os holandeses, a intensificação do tráfico de escravos da África e o acirramento da carga fiscal são exemplos de situações que contribuíram para o fim da prosperidade espanhola vivenciada pouco antes da Guerra dos Trinta Anos, que viria a propiciar o desvio das riqueza de Portugal pela monarquia dos Habsburgo para sustentar o lado católico no conflito, criando tensões dentro da União Ibérica.[46]

Filipe IV e a Religião Católica

Maria de Jesus de Ágreda, conselheira política e espiritual, trocou cartas com Filipe IV entre os anos de 1643 a 1665.

A religião católica e seus rituais tiveram um papel importante na vida de Filipe, especialmente no final de seu reinado. O monarca fez devoções especiais a uma pintura da Nossa Senhora dos Milagres, também tinha um grande padrão feito com a imagem da pintura de um lado e o brasão real do outro, trazido em procissões todos os anos em 12 de julho. Além de marcar uma forte crença religiosa pessoal, esse vínculo cada vez mais visível entre a Coroa, a Igreja e símbolos nacionais, como a Virgem dos Milagres, representava um pilar fundamental de apoio a Filipe como rei.[47]

Os monarcas católicos, durante a Idade Moderna, também tiveram um papel fundamental no processo de canonização e puderam utilizá-lo para efeito político. Internacionalmente, era importante que o prestígio espanhol recebesse pelo menos uma parte proporcional e idealmente maior de novos santos do que outros reinos católicos, então Filipe IV patrocinou diversos textos e livros para apoiar os candidatos da Espanha, particularmente em concorrência com a França católica.[48]

Especialmente entre os anos de 1643 e 1665, Filipe voltou-se para uma figura feminina bem estabelecida, a irmã Maria de Ágreda, uma superiora de convento conhecida por seus escritos religiosos.[49] Tornou-se, segundo relatos, uma conselheira real nos assuntos políticos.[50] Ela também manteve correspondência com outros membros da nobreza, elite e família real, como Isabel de BorbónBaltasar CarlosMariana de ÁustriaJoão José.[50]

A relação entre o rei e sua conselheira deu origem a mais de seiscentas cartas trocadas entre eles sendo um corpus documental de grande importância para a compreensão da política espanhola durante o século XVII.[51] As cartas contemplavam conteúdos importantes, como a exposição dos pensamentos do monarca sobre a política interna e externa do reino, e expunham uma reflexão das virtudes de um príncipe, e a concepção de governo de Estado, assim, como  as relações com seus ministros, conselheiros e mesmo com seus súditos.[51] O monarca relatava o comportamento do reino frente às potências europeias nos tempos de paz e de guerra, bem como sua confiança na vontade divina, que sustentava a monarquia hispânica, conforme o providencialismo. Acredita-se que o monarca esteve envolvido em proteger Maria de Ágreda da investigação da Inquisição de 1650.[52]

Patrono das Artes

"As meninas" retrata figuras da corte espanhola no Real Alcázar de Madrid e, hoje, é considerada a peça mais importante do Museu do Prado. VELÁZQUEZ, Diego Rodríguez de Silva. Las meninas. 1656-1657. Óleo sobre tela, 318 x 276 cm.

Filipe IV é lembrado pelo entusiasmo com o qual colecionou obras de arte[53] e pelo seu amor ao teatro.[10] No meio dramático, o monarca favoreceu dramaturgos ilustres, tendo sido creditado na composição de várias comédias.[1]

Também tornou-se reconhecido pelo seu patrocínio a vários outros pintores de destaque, incluindo Diego Velázquez, Eugenio Cajés, Vicente Carducho, Gonzales e Nardi. O monarca obteve pinturas de toda a Europa, especialmente da Itália, acumulando mais de 4 mil itens na época de sua morte, formando um conjunto incomparável que ficou conhecido como "mega-coleção'.[54]

Filipe IV foi apelidado de "O Rei Planeta"[1] por seus contemporâneos, e grande parte da arte e exibição em sua corte foram interpretadas como uma necessidade do rei de projetar seu poder e autoridade, tanto sobre os espanhóis quanto sobre os estrangeiros.[55] Algumas interpretações historiográficas antigas consideravam a corte de Filipe IV completamente decadente, mas a arte e o simbolismo do período certamente não refletiam a ameaça deste declínio do poder espanhol.[56]

Palácio do Bom Retiro numa pintura do século XVII.LEONARDO, Jusepe. El Palácio del Buen Retiro. 1637. Óleo sobre tela.

O monarca também investiu em um novo palácio como segunda residência e local de lazer, que foi nomeado como Bom Retiro. Por intermédio de Olivares, as construções foram iniciadas em 1630 em Madri, segundo o projeto do arquiteto Alonso Carbonell. O espaço, concluído em 1640, incluía seu próprio teatro, salão de baile, galerias, praça de touros, jardins e lagos artificiais[1] e tornou-se o centro de artistas e dramaturgos de toda a Europa. Foi construído durante um período difícil do reinado de Filipe IV, pois dado o custo da construção, em um período de severas economias em tempo de guerra, houve diversos protestos que representavam a população descontente. Apesar disso, um palácio de tão grande magnitude e beleza é considerado uma parte importante da tentativa de comunicar grandeza e autoridade reais.[57]

Velázquez e os retratos do Rei

VELÁZQUEZ, Diego Rodríguez de Silva. Filipe IV de terno preto. 1656. Óleo sobre tela, 196 c 101,5 cm.

Século de Ouro Espanhol foi assim chamado em função do destaque que as Artes tiveram neste período, em contrapartida com os embates políticos que o reino espanhol enfrentava.[58] Um dos motivos pelo qual Filipe foi retratado foi para ser eternizado na memória e localizado no tempo.[59]

VELÁZQUEZ, Diego Rodríguez de Silva. Retrato de Filipe IV de armadura. 1626-1628. Óleo sobre tela, 57 x 44 cm.

Um importante artista do período foi Diego Velázquez, admitido como pintor oficial da corte através de um concurso realizado em 1624. Destacou-se na elaboração de retratos de Filipe IV ao longo de seu reinado, além de pinturas da família real, bobos da corte, oficiais, etc..[60]

Muitos dos retratos de Filipe IV foram pintados por Diego Velázquez durante o período da Guerra dos Trinta Anos e tinham como objetivo exaltar o poder do rei. Essas pinturas eram expostas em locais onde muitas pessoas pudessem vê-las, pois a imagem do rei era importante para os súditos.[61]

A etiqueta e as roupas utilizadas pelo Rei eram de grande importância para a sociedade de corte do século XVII, pois sua imagem possuía um caráter divino e influenciava na forma como o povo o via. A imagem passada pelos retratos de Velázquez podem ser consideradas uma estratégia de manutenção do poder.[62]

Analisar a seqüência cronológica de alguns retratos permite refletir sobre a noção de tempo na sociedade espanhola do século XVII.[63]

VELÁZQUEZ, Diego Rodríguez de Silva. Filipe IV de Espanha. 1656. Óleo sobre tela, 64,1 x 53,7 cm.

Um dos primeiros retratos feitos por Velázquez mostram Filipe de forma imponente, mas não relaciona a imagem do rei à guerra. Apesar de ainda ser jovem e aparentemente discreto, colocá-lo em um ambiente que remete ao conhecimento gerava a ideia de experiência do monarca, pois antes de tudo o rei devia saber governar.[64]

Posteriormente, nota-se a presença de retratos do rei em roupas de guerra, que demonstram um caráter mais ativo de Filipe IV. Em plena Guerra dos Trinta Anos, retratar o monarca de forma imponente servia para disseminar a ideia de que seu reinado ainda era forte, incentivando os demais “espanhóis” e mascarando a crise pela qual a monarquia passava.[65]

Nos retratos posteriores, onde o rei já demonstra uma idade mais avançada é possível perceber uma mudança nas feições do rosto, parecendo mais melancólicas, calvo e cansado, até mesmo as cores se tornam mais apagadas e menos vivazes.[66]

Há hipóteses que relacionam sua face cansada as derrotas militares para a França e o fato de que ofereceria sua filha em casamento a um francês, que apesar de seu sobrinho ainda era um rival. Maria Teresa, uma vez casada, dificilmente voltaria a ver o pai. O semblante melancólico do rei pode refletir tanto derrotas políticas e a crise econômica, quanto a apreensão a respeito deste problema “familiar” da perda da filha.[67]

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