Miguel Torga
Miguel Torga | |
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Pseudónimo(s) | Miguel Torga |
Nascimento | Adolfo Correia da Rocha 12 de agosto de 1907 São Martinho de Anta, Sabrosa Portugal |
Morte | 17 de janeiro de 1995 (87 anos) Coimbra, Portugal |
Nacionalidade | português |
Cônjuge | Andrée Crabbé (1940-1995) |
Ocupação | poeta, médico e escritor |
Prémios | Prémio Morgado de Mateus (1980) Prémio Montaigne (1981) Prémio Camões 1989 Prémio da Crítica da Associação Portuguesa de Críticos Literários (1993) |
Magnum opus | Contos da Montanha |
Adolfo Correia da Rocha, conhecido pelo pseudónimo Miguel Torga (São Martinho de Anta, Sabrosa, 12 de agosto de 1907 — Santo António dos Olivais, Coimbra, 17 de janeiro de 1995), foi um dos mais influentes poetas e escritores portugueses do século XX.[1]
Torga destacou-se como poeta, contista e memorialista, mas escreveu também romances, peças de teatro e ensaios.[2] Foi laureado com o Prémio Camões de 1989,[3] o mais importante da língua portuguesa.
Biografia
Primeiros anos e educação
Nasceu na localidade de São Martinho de Anta, em Vila Real a 12 de agosto de 1907.[4][5][6] Oriundo de uma família humilde de Sabrosa, era filho de Francisco Correia da Rocha (1870 — 25 de abril de 1956) e Maria da Conceição de Barros (1870 — 31 de maio de 1948), trabalhadores rurais, naturais da freguesia de São Martinho de Anta.[7]
Em 1917, aos dez anos, foi mandado para o Porto, instalando-se numa casa apalaçada, de parentes dos patrões da mãe. Fardado de branco, servia de porteiro, moço de recados, regava o jardim, limpava o pó, polia os metais da escadaria nobre e atendia campainhas. Foi despedido um ano depois, devido à constante insubmissão. Em 1918, foi mandado para o seminário de Lamego, onde viveu um dos anos cruciais da sua vida. Estudou português, geografia e história, aprendeu latim e ganhou familiaridade com os textos sagrados. Pouco depois, comunicou ao pai que não seria padre.
Emigrou para o Brasil, em 1920,[4] ainda com treze anos, para trabalhar na fazenda do tio, proprietário de uma fazenda de café em Minas Gerais.[8] Ao fim de quatro anos, o tio apercebe-se da sua inteligência e patrocina-lhe os estudos liceais no Ginásio Leopoldinense, em Leopoldina.[4][9] Distingue-se como um aluno dotado. Em 1925, convicto de que ele viria a ser doutor em Coimbra, o tio propôs-se pagar-lhe os estudos como recompensa dos cinco anos de serviço, o que o levou a regressar a Portugal e a concluir os estudos liceais.[2][4]
Carreira profissional e literária
Em 1928, entra para a Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra e publica o seu primeiro livro de poemas, Ansiedade.[4][8] Em 1929, com vinte e dois anos, deu início à colaboração na revista Presença, folha de arte e crítica, com o poema Altitudes. A revista, fundada em 1927 pelo grupo literário avançado de José Régio, Gaspar Simões e Branquinho da Fonseca era bandeira literária do grupo modernista e bandeira libertária da revolução modernista. Em 1930, rompe definitivamente com a revista Presença, junto com Edmundo Bettencourt e Branquinho da Fonseca,[4] por «razões de discordância estética e razões de liberdade humana», assumindo uma posição independente.[2] Nesse ano, publica o livro Rampa, lançando, no ano seguinte, Tributo[8] e Pão Ázimo,[8] e, em 1932, Abismo.[4] Em colaboração com Branquinho da Fonseca, funda a revista Sinal, de efémera duração, e, em 1936, lança, junto com Albano Nogueira, o periódico Manifesto.[4] Nesse ano, publica O Outro Livro de Job.[4][6] Também se encontra colaboração da sua autoria na revista Litoral[10] (1944-1945).
A obra de Torga traduz sua rebeldia contra as injustiças e seu inconformismo diante dos abusos de poder. Reflete sua origem aldeã, a experiência médica, em contacto com a gente pobre, e ainda os cinco anos que passou no Brasil (dos treze aos dezoito anos de idade), período que deixou impresso em Traço de União (impressões de viagem, 1955) e num personagem que lhe servia de alter ego em A criação do mundo, obra de ficção em vários volumes, publicada entre 1937 e 1939. As críticas que fez aí ao franquismo resultaram na sua prisão em 1940.[2] Publica os livros A Terceira Voz em 1934, aonde pela primeira vez empregou o seu pseudónimo, Bichos em 1940, Contos da Montanha[8] em 1941, Rua em 1942, O Sr. Ventura e Lamentação em 1943, Novos Contos da Montanha e Libertação em 1944, Vindima em 1945, Sinfonia em 1947, Nihil Sibi em 1948, Cântico do Homem em 1950, Pedras Lavradas em 1951, Poemas Ibéricos em 1952, e Orfeu Rebelde em 1958.[4][6]
Crítico da praxe e das restantes tradições académicas, chama depreciativamente «farda» à capa e batina. Ama a cidade de Leiria, onde exerce a sua profissão de médico, a partir de 1939 e até 1942, onde escreve a maioria dos seus livros. Em 1933, concluiu a licenciatura em medicina pela Universidade de Coimbra.[4] Começou a exercer a profissão nas terras agrestes transmontanas, pano de fundo de grande parte da sua obra. Dividiu seu tempo entre a clínica de otorrinolaringologia e a literatura.
Após a Revolução dos Cravos, que derrubou o Estado Novo, em 1974, Torga surge na política para apoiar a candidatura de Ramalho Eanes à presidência da República (1979). Era, porém, avesso à agitação e à publicidade e manteve-se distante de movimentos políticos e literários.
Autor prolífico, publicou mais de cinquenta livros, ao longo de seis décadas, e foi, várias vezes, indicado para o Prémio Nobel da Literatura.[2]
Casamento e últimos anos
Casou-se em Coimbra, a 27 de julho de 1940, com Andrée Crabbé[7], uma estudante belga que, enquanto aluna de estudos portugueses, com Vitorino Nemésio em Bruxelas, viera a Portugal fazer um curso de verão, na Universidade de Coimbra. O casal teve uma filha, Clara Rocha, nascida a 3 de outubro de 1955, e divorciada de Vasco Graça Moura.
Torga, sofrendo de cancro, publicou o seu último trabalho, em 1993, vindo a morrer a 17 de janeiro de 1995, na freguesia de Santo António dos Olivais, em Coimbra.[7][2][4] A sua campa rasa em São Martinho de Anta tem uma torga plantada a seu lado, em honra ao poeta.
A origem do pseudónimo
Em 1934, aos vinte e sete anos, Adolfo Correia Rocha cria o pseudónimo "Miguel" e "Torga". Miguel, em homenagem a dois grandes vultos da cultura ibérica: Miguel de Cervantes e Miguel de Unamuno. Já Torga é uma planta brava da montanha, que deita raízes fortes sob a aridez da rocha, de flor branca, arroxeada ou cor de vinho, com um caule incrivelmente rectilíneo.
A obra de Torga
A obra de Torga tem um carácter humanista: criado nas serras transmontanas, entre os trabalhadores rurais, assistindo aos ciclos de perpetuação da natureza, Torga aprendeu o valor de cada homem, como criador e propagador da vida e da natureza: sem o homem, não haveria searas, não haveria vinhas, não haveria toda a paisagem duriense, feita de socalcos nas rochas, obra magnífica de muitas gerações de trabalho humano. Ora, estes homens e as suas obras levam Torga a revoltar-se contra a divindade transcendente a favor da imanência: para ele, só a humanidade seria digna de louvores, de cânticos, de admiração: (hinos aos deuses, não/os homens é que merecem/que se lhes cante a virtude/bichos que cavam no chão/atuam como parecem/sem um disfarce que os mude).
Para Miguel Torga, nenhum deus é digno de louvor: na sua condição omnisciente é-lhe muito fácil ser virtuoso, e enquanto ser sobrenatural não se lhe opõe qualquer dificuldade para fazer a natureza - mas o homem, limitado, finito, condicionado, exposto à doença, à miséria, à desgraça e à morte é também capaz de criar, e é sobretudo capaz de se impor à natureza, como os trabalhadores rurais transmontanos impuseram a sua vontade de semear a terra aos penedos bravios das serras. E é essa capacidade de moldar o meio, de verdadeiramente fazer a natureza, malgrado todas as limitações de bicho, de ser humano mortal que, ao ver de Torga, fazem do homem único ser digno de adoração.
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