Maria Elisa Ribeiro
12 de Julho de 2017 · OBRA Registada
NOTA: este poema foi publicado, este mês, no "Poemário-2016", de Modocromia Editores.
QUANDO A PROSA ME INVADE A POESIA
Acabo de chegar de outros universos, diferentes entre si e opostos a este em que entrei.
Os meus vestidos estão cheios de marcas verdes das ervas onde repousei; os meus ouvidos recordam o fulgor de todos os trovões e a rapidez com que as rãs saltaram para as águas, a esconder o seu coaxar…
Sei como caíram nos rios as pedras que resvalaram pelas encostas das colinas, empurradas pelos ventos que trouxeram nas nuvens tantos daqueles trovões; vi os joelhos das árvores feridos, cheios de sangue-seiva e ouvi os sons das dores do seu crescer, feitos rumores do esforço-de-ser.
Comigo, levei rumores de planícies douradas, afogadas em trigo a germinar às ordens da voz da terra, que só ela sabe quando tudo deve acontecer.
Carregada de sons e rumores ciciados, cheguei. Sons dos ventos orientais, sons das súbitas fúrias tropicais, sons de palavras agitadas a levarem-me para outras semânticas dos mares onde conheci a dor. Rumores de canelas, de pimentas, de marfins e tantos corais, trouxe-os nas ondas dos mares onde me perdi a explorar outros espaços, outros lugares.
Não vi rumores de PAZ! Não ouvi cantar as flores! Não encontrei o beiral onde as doces andorinhas me vêm fazer os novos ninhos…
Por Lá, deixei minha Língua,pinheiros da minha Pátria e saudades das amendoeiras-em-flor, que cobrem meus campos em tempos de Cantos de Amor…
Por Cá, reencontrei a alegria de me perder, no rumor das palavras…aqui, na minha Poesia!
Maria Elisa Ribeiro/016
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