sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

NEO- REALISMO... MANUEL DA FONSECA



FOTOS GOOGLE


O NEO-REALISMO EM PORTUGAL…


MANUEL da FONSECA, ALVES REDOL, SOEIRO PEREIRA GOMES…


É impossível, neste espaço, fazer um artigo muito aprofundado sobre esta matéria, como se pode calcular. Peço aos amigos que me lerem que o considerem, apenas, uma “achega” para se saber alguma coisa do tema; consequentemente, quem quiser saber mais sobre esta matéria, deve socorrer-se, nomeadamente, do que houver ,nas BIBLIOTECAS.
Convém, a este ponto do artigo, dar uma definição, mais ou menos clara e concisa, do que é o NEO-REALISMO: pois, é um movimento estético/literário que abrangeu os anos 40/50 do século XX, que se demonstrou influenciado por princípios filosóficos e políticos ligados ao marxismo, mas que deu preferência às temáticas de índole social e que defende uma arte voltada para as carências das classes sociais desfavorecidas, denunciando as suas rudimentares condições de vida. Em PORTUGAL, estiveram ligados a esta corrente nomes como MANUEL de FONSECA (1911-1993), (objecto particular do meu post de hoje), CARLOS de OLIVEIRA (1921/1981), SOEIRO PEREIRA GOMES (1909/1949), ALVES REDOL (1911/1969) e FERNANDO NAMORA (1919/1984), entre outros, menos significativos para o movimento.
No fundo, se bem pensarmos, quer em PORTUGAL, quer no BRASIL, as motivações eram semelhantes no que implicava a ideia do renascimento dos ideais e valores realistas e naturalistas do século anterior e dos jovens revolucionários da “Geração de 70”; mas, desta vez, com um toque de FREUD, à mistura…
A grande crise económica dos finais dos anos trinta, as consequências desastrosas a todos os níveis, da Primeira Grande Guerra,o desemprego, as injustiças sociais e o expandir das ideias para uma sociedade socialista, notaram-se perfeitamente e deram um grande incremento às, prosa e poesia, neo-realistas. Em Portugal, havia ainda que ter em consideração a ditadura salazarista que problematizava todas essas ideias e todos as lutas sociais. Como dizia LUÍS DE STTAU MONTEIRO, no DRAMA “FELIZMENTE HÁ LUAR! pela voz do “Principal Sousa”- “quanto mais o povo souber, pior ficamos “nós””-
Nos romances “ESTEIROS” de SOEIRO PEREIRA GOMES (SPG) e “GAIBÉUS” de ALVES REDOL (AR) notam-se, à evidência, as inspirações marxistas ,ao serem referidas as lutas de classe, principalmente através do relato da miséria da vida dos operários e camponeses versus patrões e latifundiários, senhores do capital, das terras e propriedades. Hoje,já muitos aceitam a ideia de que o capital é preciso… desde que contribua para a dignificação de quem a ele está ligado, patrões e operários!
Passo para a obra de MANUEL de FONSECA (MF).
O romance “SEARA DE VENTO”retrata, essas situações, as lutas entre classes sociais de interesses opostos, entre ricos e pobres, a fome, o desespero da vida de quem só pode sobreviver com o seu trabalho. O mesmo se pode dizer da intriga (a história, em si) dos romances “O FOGO e as CINZAS” e “CERROMAIOR”.
Por exemplo, no Brasil, o romance neo-realista deu vida às lutas das populações nordestinas, por melhores condições de vida! Mas, retomemos “o fio à meada”: ao ler o romance “O Fogo e as…”encontramos histórias da miséria, nua e crua, dos alentejanos dos anos 40 do passado século, o que provoca no povo o ganhar de uma consciência de classe, que assusta o regime salazarista, sempre apoiado em polícias de todos os sectores, em agentes da PIDE- DGS e em todo o tipo de “bufos”, “pró-bufos” e denunciantes ,de todo o tipo e feitio… coisas que só eram faladas “entre dentes e entre amigos” na pacatez cúmplice da mesa da tasca ou do cafezito, lá da terra…HISTÓRIAS da história da vida que englobavam crianças famintas e velhos ( hoje, idosos!) desesperados e desprezados.
Entendo que, pela sua obra, o neo-realista MF pode e deve considerar-se como um promotor da dignidade literária das camadas populares, nomeadamente as da região campaniça (alentejana).
Por alturas dos anos 50, VERGÍLIO FERREIRA demonstra na prosa, ainda jovem, ser um atento seguidor do neo-realismo, ao deixar assomar, na sua obra, uma certa irrequietude estética com constante experiência de novos meios de expressão, como por exemplo o uso da linguagem popular, que é um dos Registos das particularidades da nossa LÍNGUA; e fá-lo, precisamente, no romance de problemática, existencialista, “MANHÃ SUBMERSA”.
O romance de MF “SEARA de VENTO” é um clássico da corrente neo-realista, onde a temática, no plano da ficção é o mesmo da vida precária dos trabalhadores, apoiado na oposição entre o campo e a cidade. E é interessante de se ver o facto de a MORTE ser quase assunto secundário! O que verdadeiramente interessa é que, enquanto vivemos, temos a obrigação de lutar, com todas as forças, por uma vida digna! Aqui, já MF explora a vida interior das personagens principais, seguindo os ditames do pensamento de FREUD, que se espalhava pelo mundo ocidental. É de notar, também o relevo dado ao papel da Mulher e o facto de serem as personagens a falarem de si próprias, de se apresentarem, desnudas, perante o julgamento dos narratários (leitores).
Neste romance, duas personagens de destaque: o VENTO, personificado como um ser humano e AMANDA CARRUSCA, mulher, aparentemente frágil e que ,apesar das lutas, aceita o sofrimento, sem se vergar! Se “é preciso ir pedir esmola para o meu neto, EU VOU!”

MEUS AMIGOS: aconselho estas leituras! O espírito humano precisa de muito mais que orações, para se enriquecer!
Quanto a bibliografia, usei os meus conhecimentos, os livros focados, e as leituras que nunca deixo de fazer.
Até sempre!

12 comentários:

  1. Para os homens que nunca foram meninos...

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  2. Manuel Marques: os homens que nunca foram meninos, estão, hoje, em altos cargos políticos e administrativos, sem nunca terem conhecido as realidades que conduziram a "ABRIL"...
    BEIJOS de
    Lusibero

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  3. Bom artigo. Excelente aconselhamento.
    Obrigado.
    Li a maior parte das obras aqui referidas.
    Depois de ler o teu trabalho (parabéns pelo post), trouxe para meu lado "Constantino, guardador de vacas e de sonhos", de Alves Redol, que o autor classificou como "obra de pura devoção". Apeteceu-me relê-lo!
    É como dizes, o espírito humano precisa muito mais que orações, para se enriquecer!
    Acrescento, com palavras de Lobo Antunes:
    "A cultura assusta muito.É uma coisa apavorante para os ditadores. Um povo que lê nunca será um povo de escravos."
    Um beijo daqui

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  4. CARLOS ALBUQUERQUE: LOBO ANTUNES COMO STTAU MONTEIRO e como todos os que pensam no povo-povo!já Garrett ,no século XIX, tinha a mesma ideia quanto ao dar-se mais cultura às camadas populares; e SOPHIA DE MELLO BREYNER diz o mesmo, por outras palavras...
    Repara no que tem acontecido entre - alegadamente!- o governo e os jornalistas e os meios de comunicação!
    Não esquecer- nunca!- as palavras de NORONHA DO NASCIMENTO, há um mês, mais ou menos, quando advogou que era preciso leis para impedir que os jornalistas pudessem publicar tudo...

    É MAIS DO QUE PRECISO, URGENTE! estarmos atentos!
    BEIJO DE
    LUSIBERO

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  5. Olá Lusibero,
    Bom trabalho este sobre os escritores Neo Realistas, li-os todos, retratam com a crueza do realismo a vida que muitos tiveram. Parece que essa gente se extinguiu ou baixou os braços e se conformou olhando para as «montras do artifício»!...
    Beijinhos,
    Manuela

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  6. Bonito texto, aprendi um pouco sobre a literatura portuguesa.
    beijo

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  7. Ângela: ainda bem !É isso o que tem de melhor esta ligação ,através dos blogs: aprendemos, uns com os outros, dando, cada um, um pouco do que sabe...
    Beijinhos de
    LUSIBERO

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  8. Manuela Freitas: não sei o que se passava no nosso tempo, mas a verdade é que nós líamos, líamos e trelíamos, com gosto que se não perdeu ,ao longo da vida!Obrigada por ter deixado as suas impressões. Beijo de bom fim de semana de
    Lusibero

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  9. Maria Ribeiro,

    Obrigada, pelo excelente post.

    Li e reli, todos estes autores, fiquei com vontade de revisitar Manuel da Fonseca


    Ler, é preciso!

    Abraço



    Luisa

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  10. Muito bom texto sobre os escritores neo-realistas. Desses todos, li algo de Fernando Namora, "retalhos da vida de um médico" e "Domigno à tarde". Obrigada pelo post,quando possível, retomarei essas leituras.
    Beijos e uma excelente semana.

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  11. LUÍSA: Que bom que lhe despertei a vontade de reler!
    BEIJOS DE
    LUSIBERO

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  12. MªLúcia: gostaria de ter falado do NAMORA, mas realmente eu queria "estar" no Alentejo...Há escritores de Língua Portuguesa que não se esquecem!
    BEIJITO, Mª LÚCIA

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