Biografia de Jean-Paul Sartre
Vida pessoal de Jean-Paul Sartre
No dia 21 de junho de 1905, Jean-Baptiste Marie Aymard Sartre e Anne-Marie Schweitzer vivenciaram o nascimento de seu filho, Jean-Paul Charles Aymard Sartre. Em 1906, o pai de Sartre morreu, deixando sua esposa viúva e seu filho órfão de pai muito cedo. Após a morte do marido, Anne-Marie Schweitzer mudou-se para a cidade de Meudon, para viver com seu pai, Charles Schweitzer.
O avô de Sartre cuidou bastante da criação de seu neto, proporcionando-lhe uma rigorosa educação voltada para a leitura dos clássicos e do aprendizado de idiomas. Um dos escritores lidos por Sartre em sua formação, Gustave Flaubert, influenciou a produção filosófica futura do filósofo.
Sartre desenvolveu uma personalidade criativa, afirmando ele mesmo o vínculo de sua criatividade com o contato com a cultura erudita e a literatura clássica, bem como por conta da ausência de seu pai, que poderia ser uma presença castradora e repressora.
Continuando os estudos básicos, Sartre entrou, em 1921, para o tradicional Liceu Louis-le-Grand, em Paris, onde conheceu a fenomenologia de Henri Bergson, grande filósofo francês que apresentou a ele a fenomenologia, enraizada em Edmund Husserl e Søren Kierkegaard.
Formação intelectual de Jean-Paul Sartre
A formação intelectual de Sartre continuou em 1924, com seu ingresso no curso de Filosofia, na Escola Normal Superior de Paris. Nessa instituição, ele conheceu duas pessoas que marcariam decisivamente a sua vida: o filósofo, sociólogo e intelectual francês Raymond Aron e a filósofa existencialista e feminista Simone de Beauvoir, que, além de uma influência intelectual, viria a ser sua companheira por toda a vida.
Sartre concluiu o seu curso de Filosofia no ano de 1928, e entrou para o serviço militar e serviu às Forças Armadas até o ano de 1931. Entre 1931 e 1932, ele escreveu seu primeiro romance, que não foi publicado por não ter sido bem aceito pelo mercado editorial.
No ano de 1933, Sartre partiu para Berlim, onde aprimorou sua formação, buscando estudar a filosofia fenomenológica de Edmund Husserl, nas teorias existencialistas de Martin Heidegger e Karl Jaspers e nas obras de Søren Kierkegaard, além dos estudos sobre a filosofia de Nietzsche. Nesse período, também foi escrito o romance A náusea, que seria publicado pela primeira vez em 1938.
No ano de 1939, Sartre foi convocado pelo governo francês a servir ao exército na Segunda Guerra Mundial como meteorologista. No ano de 1940, o filósofo foi preso pelos inimigos alemães, permanecendo em cárcere, em um campo de concentração, até o ano de 1941, quando conseguiu escapar. Ao retornar para Paris, Sartre encontra-se novamente com Simone de Beauvoir, de quem nunca mais se separa até a sua morte.
Engajamento político e produções de Jean-Paul Sartre
Desde a sua juventude, Sartre estava inserido em um círculo de intelectuais franceses, membros da média e alta burguesia, formado por pessoas que adoravam as artes, mas não tinham grande engajamento político. Ao retornar da guerra, Sartre rompeu com esse grupo e entrou em ciclos mais intensos nas questões políticas, tanto o é que, em 1941, ele fundou o grupo de estudos Socialismo e Liberdade, de tendência socialista, pacifista e antifascista.
No ano de 1943, Sartre concluiu a escrita de sua obra filosófica mais complexa, completa e influente, O ser e o nada. Em 1945, com o fim da guerra, o grupo Socialismo e Liberdade foi dissolvido, mas dele resultou a fundação, por Sartre e os filósofos franceses Raymond Aron e Maurice Merleau-Ponty, da revista Tempos Modernos.
Entre as décadas de 1950 e 1960, a mistura entre as teorias existencialistas e o engajamento político de cunho marxista somente se intensificou nas vidas de Sartre e Simone de Beauvoir. Ambos colocaram-se de maneira mais ativa na militância dos movimentos sociais, lutando contra a desigualdade social, contra a exploração capitalista dos países mais ricos sobre os mais pobres, e, no caso de Beauvoir, atuando ativamente no movimento feminista.
O casal fez uma série de viagens nos anos de 1960 e 1961 para conhecer os países não desenvolvidos que sofriam no cenário geopolítico mundial da época, visitando Cuba, onde conheceram um dos líderes da Revolução Cubana, Che Guevara, e o Brasil. A estada do casal aqui durou cerca de dois meses, e contou com uma intensa agenda organizada pela escritora Zélia Gattai e seu marido, o escritor Jorge Amado.
Sartre proferiu, na ocasião, algumas palestras no Brasil. Uma delas, proferida na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, hoje vinculada à Unesp, na cidade de Araraquara, contou com uma plateia composta por diversos intelectuais brasileiros, como o sociólogo e crítico literário Antonio Candido, o sociólogo e ex-presidente do Brasil Fernando Henrique Cardoso, e a antropóloga brasileira Ruth Cardoso (na época eles eram estudantes da USP).
Dois acontecimentos marcaram a vida de Sartre no ano de 1964: o filósofo publicou o seu penúltimo livro, As palavras, muito bem recebido pela crítica, e foi laureado com o Prêmio Nobel de Literatura. No entanto, Sartre recusou o mais importante prêmio concedido pela Academia Sueca. Para ele, concordar com o prêmio e “receber a honraria significa reconhecer a autoridade dos juízes, o que considera inadmissível concessão”|1|.
Em maio de 1968, um movimento político estudantil eclodiu nas ruas de Paris contra a política repressiva do então presidente francês Charles de Gaulle e da cultura conservadora em geral. Esse movimento ecoou no mundo todo, e Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir participaram ativamente dele, indo, inclusive, a piquetes nas ruas de Paris. Sartre conheceu e manteve contato com dois importantes filósofos franceses que ainda não eram tão conhecidos na época, Michel Foucault e Gilles Deleuze.
Fim da vida de Jean-Paul Sartre
A saúde de Sartre começou a dar sinais de falência a partir da década de 1970. Com o corpo cansado de tantos excessos (abuso de álcool, muito trabalho e pouco descanso), o filósofo passou a manifestar quadros de hipertensão e insuficiência cardíaca. Em 1971, ele escreveu o seu último livro, uma análise crítica sobre a obra do escritor Gustave Flaubert. Sua saúde apresentava-se cada vez mais frágil, contando também com diabetes, problemas circulatórios e um glaucoma que afetou fortemente sua visão e impediu-o de trabalhar.
Simone de Beauvoir escreveu um texto melancólico sobre os últimos dias e a morte de Sartre, intitulado A cerimônia do adeus. Segundo a filósofa e companheira de Sartre, seus últimos meses de vida foram horríveis, com sucessivas crises de dor agoniante. Sartre morreu em 15 de abril de 1980, depois de quase nove anos de enfrentamento de doenças, na companhia de Simone.
Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir
Havia entre o casal de filósofos uma diferente e polêmica relação. Sartre e Beauvoir nunca se casaram civilmente, moravam em apartamentos separados (embora no mesmo prédio) e mantinham um relacionamento aberto, em que tanto ele quanto ela mantinham relações com outras pessoas.
No que pese à forma diferente de relacionarem-se, que para muitos pode ser sinônimo da ruína de um relacionamento, havia uma forte cumplicidade entre os dois, e o relacionamento deu tão certo que eles se mantiveram juntos desde o início, quando ainda cursavam filosofia na Escola Normal Superior, até a morte de Sartre, em 1980, somando-se mais de 50 anos de relação.
O charme intelectual e sedutor de Sartre e a inteligência, força e beleza de Beauvoir renderam ao casal vários casos, que eles mantinham abertamente enquanto se relacionavam. Jean-Paul Sartre relacionou-se com várias mulheres, quase todas mais novas que ele. Simone de Beauvoir era bissexual e envolveu-se com mulheres e homens, entre eles o escritor estadunidense Nelson Algren.
A produção intelectual do casal também era muito próxima. Os dois basearam-se no existencialismo para formularem suas teorias. Enquanto Sartre baseou-se no existencialismo já existente para falar da condição humana, Beauvoir baseou-se no existencialismo em concordância com o feminismo para falar sobre a condição feminina.
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